Comportamento

Flávia Schiochet

Golfista amadora quer ser primeira brasileira em campeonato mundial para cadeirantes

Flávia Schiochet
22/08/2018 07:00
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Aline mostra a medalha que recebeu em uma de suas primeiras competições de golfe para cadeirantes em São José dos Campos. Foto: arquivo pessoal

Um convite mudou a ideia de Aline Bustamante sobre seu futuro. Há um ano e meio treinando golfe, foi há poucos meses que ela decidiu investir na carreira de atleta. Cadeirante desde 2013, a mulher de 34 anos passou os primeiros anos à procura de um esporte que a interessasse. Encontrou o que procurava no golfe, em março de 2017.
“Eu me lembro muito bem, foi paixão à primeira tacada. Quando soquei a mão bolinha na primeira tacada, parece que minhas forças voltaram. Me senti viva de novo”, relembra Aline, que mora em São José dos Campos, em São Paulo, próximo à Associação Esportiva São José e trabalha como organizadora de eventos. Acompanhar ou jogar golfe nunca havia sido uma ideia. “Sabia quem era o Tiger Woods e que precisava acertar a bolinha nos buracos”, brinca.
Aline treina na Associação Esportiva de São José duas vezes por semana, em média, por uma hora. Foto: arquivo pessoal
Aline treina na Associação Esportiva de São José duas vezes por semana, em média, por uma hora. Foto: arquivo pessoal
Atualmente joga golfe duas vezes por semana. Com o esporte, Aline tem trabalhado postura, força e equilíbrio, uma vez que usa apenas uma das mãos para as tacadas. O caminho até o status de atleta é longo, mas ela está disposta a trilhá-lo palmo a palmo. Um de seus desafios será a participação no Campeonato Aberto de Golfe para Cadeirantes, em novembro, na ilha de Maiorca, na Espanha.
Para que Aline possa ir com o preparador físico ao campeonato, precisa juntar R$ 12 mil, valor que inclui as passagens e hospedagem por uma semana em Palma. Durante o mês de agosto, ela procura por patrocínio enquanto vende rifas para juntar o montante. Mesmo que ainda não tenha certeza se conseguirá o valor a tempo, Aline entrou na rotina, com alimentação regrada para manter o peso, academia e fisioterapia para manter a força dos braços e evitar dores e lesões.
Até surgir o convite do campeonato na Espanha, Aline considerava manter-se como golfista amadora. “Mas vi que tenho condições para ser paratleta e tenho oportunidades”, diz. Assim como ela, outras quatro golfistas amadoras cadeirantes do Brasil foram convidadas para o campeonato de novembro, porém apenas Aline poderá ir.
Aline Bustamante descobriu no golfe um esporte para praticar exercícios e superação. Foto: arquivo pessoal
Aline Bustamante descobriu no golfe um esporte para praticar exercícios e superação. Foto: arquivo pessoal
Sua expectativa no campeonato é também treinar pela primeira vez com a Power Golfer, um carrinho que tem uma cadeira e estrutura para manter o jogador cadeirante de pé. Como a inclusão do golfe para cadeirantes na Federação Paulista de Golfe é recente, a estruturação ainda é nos profissionais: a primeira turma de instrutores de golfe para cadeirantes foi formada no ano passado.

As primeiras vezes

A primeira competição de Aline foi em outubro de 2017, cerca de um ano depois de ter começado a treinar. Ela sequer havia percorrido todo o campo e conhecido o relevo e dificuldades de cada um dos nove buracos. “Foi bem desafiador. Tem hora que a bolinha para na grama alta ou baixa, no morro. Essas dificuldades eu aprendi na marra”, contou ao Viver Bem por telefone. A partida levou duas horas, o dobro de tempo que Aline está acostumada a treinar.
No mês seguinte, participou de mais um torneio, dessa vez em uma equipe que mesclava cadeirantes e andantes, homens e mulheres. “Fui melhor. Treinei três vezes por semana e fiz reconhecimento do campo”, relembra. Seu time ficou com o quinto lugar e dentro de uma avaliação de desempenho, Aline conquistou a primeira posição entre as mulheres.

O acidente

Em setembro de 2013, Aline estava de carona em um carro com outras quatro pessoas. O veículo bateu na traseira de um caminhão na BR-116 e o impacto do acidente fez com que o cinto de segurança lesionasse completamente suas vértebras lombares L1 e L2, deixando-a paraplégica. Se antes seus hobbies incluíam samba de gafieira e pedalar, o lazer em cadeira de rodas precisou ser adaptado.
Aline Bustamante, golfista amadora, quer ser a primeira cadeirante em campeonato aberto a ser realizado na Espanha em novembro. Foto: arquivo pessoal
Aline Bustamante, golfista amadora, quer ser a primeira cadeirante em campeonato aberto a ser realizado na Espanha em novembro. Foto: arquivo pessoal
Como a prática de atividade física é importante para cadeirantes por manter o corpo ativo e funcionar como um incentivo à superação, Aline foi atrás de novos esportes. “Do basquete fiquei com um pouco de receio do corpo a corpo, porque tenho muitas dores diariamente por causa do acidente. Fui ver também caiaque e a handibike”. Aline pensou em retomar as pedaladas, até ver o preço da bicicleta adaptada para cadeirantes: o preço parte da casa de R$ 20 mil, um hobby caro demais para o momento.
“Um kit para golfe, com quatro tacos e as luvas, custa em média R$ 600. É o mesmo kit que os andantes usam e dá para encontrar usado em bom estado”, conta. O golfe tinha o ritmo que Aline precisava. Antes de encontrar o golfe, Aline tinha ido ver um treino de basquete para cadeirantes. “Pelo fato de eu ter sofrido um acidente de carro violento, sinto muitas dores diariamente. Tudo o que dá para evitar de sentir mais dor eu evito”, explica.
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