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O cirurgião plástico Marco Aurélio Gamborgi mostra fotos de crianças com lábio leporino atendidas por ele na ONG Operação Sorriso. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo  / As fotos das crianças foram feitas por Paulo Fabre/Operação Sorriso
O cirurgião plástico Marco Aurélio Gamborgi mostra fotos de crianças com lábio leporino atendidas por ele na ONG Operação Sorriso. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo / As fotos das crianças foram feitas por Paulo Fabre/Operação Sorriso| Foto:

Se existe um profissional que vive com a agenda cheia é o médico. Não importa a especialidade, os profissionais da saúde parecem estar sempre ocupados, com filas de pacientes e sem tempo para mais nada. Existem profissionais, no entanto, que em meio ao turbilhão de compromissos, separam horas preciosas para atenderem quem mais precisa e se entregam ao trabalho voluntário.

Para trabalhar voluntariamente e fazer uma grande diferença, não é preciso sair do país, estado ou mesmo da própria cidade. O cirurgião plástico Marco Aurélio Gamborgi , 52 anos, que o diga. Desde 2003, o atual presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, seção do Paraná, atua pela ONG Operação Sorriso do Brasil e, de três a quatro vezes por ano, opera mais de 70 crianças com lábio leporino em diferentes estados do país.

“Eu me apaixonei pela possibilidade de fazer um grande número de cirurgias e de boa qualidade. É muito gratificante operar uma criança que jamais teria essa possibilidade pela localidade onde mora”, conta o cirurgião plástico, que já operou em Goiânia, Belém, Santarém, Marabá e Recife, além de cidades do Rio Grande do Norte e Alagoas. O lábio leporino é uma deformidade congênita sem causa específica, que forma uma fissura no lábio, atingindo a parte superior da boca. Cerca de 35% dos casos são de causas genéticas, mas não se conhece nenhuma forma de prevenção da fissura.

Dos pacientes que mais lhe chamam a atenção durante as viagens pela ONG, Gamborgi ressalta os pequenos índios. “Algumas tribos tem a tradição de não aceitar a criança que nasce com a fissura, ou com qualquer deficiência, e chegam até mesmo a praticar o infanticídio. Tivemos um caso de uma índia que quase jogou a criança no rio por ser fissurada. Uma missionária conseguiu impedir e levou o bebê para a cirurgia. Depois da operação, que deixou a criança praticamente perfeita, a mãe aceitou o bebê de novo”, relata o médico.

Ir todos os anos às localidades distantes, e sem estrutura, para as cirurgias de lábio leporino tem um objetivo ainda mais honroso. A ideia, segundo Gamborgi, é formar, com o passar do tempo, uma rede de apoio para que os profissionais da cidade consigam atender os pacientes da região sozinhos, visto que essas cirurgias são de alta complexidade, exigem anos de treinamento e diferentes especialidades. “Depois de seis anos de medicina, dois de cirurgia geral e três anos de plástica, ainda tem muito profissional que não consegue fazer porque são cirurgias delicadas, feitas em crianças de três a seis meses de idade. Há ainda, depois, uma nova cirurgia, mais tarde na vida das crianças para finalizar o tratamento”, diz.

Paixão pela pediatria

A pediatra Maria Cristina Marcelo da Silveira divide a sua agenda entre o Hospital Pequeno Príncipe, seu consultório e trabalho voluntário em um lar de adoção. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
A pediatra Maria Cristina Marcelo da Silveira divide a sua agenda entre o Hospital Pequeno Príncipe, seu consultório e trabalho voluntário em um lar de adoção. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo

 

Desde os quatros anos de idade, Maria Cristina Marcelo da Silveira, 48 anos, sabia que seria “médica de crianças”. Quando chegou ao quinto ano da faculdade de medicina, titubeou por um instante a decisão, apaixonada pela especialidade de oftalmologia, mas desistiu. Anos mais tarde, com a carreira consolidada na pediatria, Maria Cristina percebeu que o amor pela especialidade estava além do trabalho diário no consultório.

“Eu faço supervisão no Hospital Pequeno Príncipe e certo dia chegou um bebê de um lar de adoção que não estava bem. Acabei atendendo, mas como não tinha vaga naquele momento pedi que a criança fosse encaminhada no dia seguinte para o meu consultório, para que eu pudesse acompanhar a evolução, sem pensar no valor”, relata a pediatra sobre a primeira consulta como trabalho voluntário, há oito anos. De lá para cá, Maria Cristina conversou com a diretora do lar de adoção e se dispôs a atender as crianças, de forma gratuita, sempre que necessário.

“Todos os dias eu atendo normalmente uma criança da entidade, mas durante a semana são quatro a sete que recebem atenção constante. No inverno, como é previsto, a frequência aumenta um pouco”, conta a especialista, que recebe crianças de zero a seis anos, retiradas das famílias por decisões judiciais, que estão para adoção. O trabalho voluntário não compromete a rotina no Pequeno Príncipe.

Maria Cristina conta que os grandes incentivos a continuar no trabalho voluntário são ver de perto a evolução de cada criança e colaborar com o futuro de cada uma delas, redigindo os relatórios de adoção. “Tem muita rotatividade no lar. Não atendo sempre as mesmas crianças e isso é um bom sinal. Com a nova lei de adoção, as crianças têm sido adotadas mais e saem bastante para lares definitivos. Muitos dos pais que adotam se sentem mais confortáveis em trazê-las de novo, porque eu as conheço desde pequenas, e eu continuo atendendo”, diz.

“Alguns colegas colaboram comigo também. Se as crianças precisam de fisioterapeuta, conheço quem pode ajudar, porque muitas têm problemas respiratórios devido às drogas que os pais consumiam. Outro colega cuida da parte de infecções, sem falar do pessoal da unidade de saúde que faz as visitas e cuidam da vacinação”, compartilha Maria Cristina.

Em prol dos idosos

O geriatra Maurílio José Pinto  vê como missão de vida cuidar dos idosos através de sua fundação. Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo
O geriatra Maurílio José Pinto vê como missão de vida cuidar dos idosos através de sua fundação. Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo

No fim da década de 1980, Maurílio José Pinto era um dos 40 médicos no Brasil que trabalhavam com a especialidade de geriatria, voltada à terceira idade. Em um curso realizado em Brasília sobre o tema, em 1987, o especialista mudou a forma de pensar a saúde do idoso brasileiro, e isso impactou toda sua carreira futura. “A partir desse treinamento realizado pelo Ministério Público, Organização Mundial da Saúde e uma fundação inglesa, eu saí inspirado a fazer algo que fosse da comunidade, para a terceira idade, em Curitiba. Surgiu a ideia, então, da Fundação de Apoio e Valorização do Idoso, que tomou corpo em 1990”, relata o geriatra.

Atualmente, a fundação atende 450 idosos todos os dias e oferece serviços de fisioterapia, ambulatório, psicologia, nutrição e enfermagem, que extrapola os limites físicos da entidade, com atendimento domiciliar sempre que necessário. São cerca de 15 médicos que atuam no espaço de forma voluntária, sem contar os estudantes que sempre estão por lá aprendendo com os pacientes.

“Desde 2005, de segunda a quinta-feira, todas as manhãs, um grupo de idosos é atendido pelos acadêmicos do terceiro ano de medicina da Universidade Positivo. Na realidade, é uma troca: os idosos vêm para ajudar os acadêmicos, para que eles aprendam com os pacientes. Cada pessoa atendida é vista por dois ou três alunos, uma vez ao mês, até concluir o semestre”, relata José Pinto.

Embora orgulhoso do quanto a fundação cresceu nos últimos 25 anos, o geriatra diz que a instituição ainda é um embrião do que pode ser. “Pretendo que um dia a fundação vire uma referência como o Pequeno Príncipe ou o Erasto Gaertner, e mesmo que eu não consiga, a semente está plantada para que o pessoal dê continuidade. A fundação não pertence a mim, ou aos meus filhos, ela é da comunidade”, afirma o especialista que trabalha no local todos os dias, de atendimento dos idosos à orientação dos alunos. “Tenho hoje 65 anos e quero chegar aos 95 trabalhando lá”, completa o médico que também leciona a disciplina de geriatria na Universidade Positivo.

 

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