• Carregando...
Um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018 afirma que 9,3% dos habitantes do Brasil já sofre com transtorno de ansiedade e que 5,8% da população do país está depressiva. Foto: Bigstock
Um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018 afirma que 9,3% dos habitantes do Brasil já sofre com transtorno de ansiedade e que 5,8% da população do país está depressiva. Foto: Bigstock| Foto:

O ranking dos livros mais vendidos no Brasil em 2018 revela que 70% dessas obras — segundo o site Publishnews — são livros de autoajuda, que expõem a busca dos brasileiros por técnicas que ajudem a reduzir as preocupações e que façam o leitor encarar melhor as dificuldades comuns à vida por meio de mudanças e autocontrole. O campeão de vendas, por exemplo, foi “A sutil arte de ligar o f*da-se”, com quase 440 mil exemplares.

>>Perdoar exige alguns passos e “previne” hipertensão e obesidade

O fato de o livro “A sutil arte de ligar o f*da-se”, do autor Mark Manson, ocupar o primeiro lugar nas vendas, fala muito da situação que o país atravessa, segundo o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). “O livro trata da importância de nos protegermos da radioatividade ao nosso redor, dessa infinidade de problemas e do clima de tensão pelos quais as pessoas passam, porque tudo isso passa a ser fonte de ansiedade”, diz.

Porém, o psiquiatra Felipe Augusto Dufloth afirma que a leitura de títulos como esse, apesar de evidenciar a procura por mais liberdade, não resolve a questão. “Apenas ‘ligar o f*da-se’ não vai fazer os problemas serem resolvidos”, afirma. Segundo ele, essa ‘libertação’ exige responsabilidade. “Você precisa enfrentar os problemas porque o sofrimento também nos ajuda a refletir, criar e descobrir a razão para aquilo”, pontua.

Outros títulos que lideraram as vendas em 2018 – como “O poder da ação”, “O poder do hábito” e “O Poder da autorresponsabilidade” – também mostram a busca dos leitores por manuais para a vida. “Eles reforçam a ideia de que você deve ser o senhor dos seus hábitos e de que as imposições feitas pelos outros não devem lhe trazer preocupação. Há uma briga contra a ideia de ter alguém sempre ‘mandando’ em você e as pessoas têm buscado dicas para se livrar disso”, completa o psicanalista Dunker.

Um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018 afirma que 9,3% dos habitantes do Brasil já sofre com transtorno de ansiedade e que 5,8% da população do país está depressiva. Foto: Bigstock
Um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018 afirma que 9,3% dos habitantes do Brasil já sofre com transtorno de ansiedade e que 5,8% da população do país está depressiva. Foto: Bigstock

Segundo a psicóloga Carolina de Souza Walger, do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, quem adquire livros de autoajuda como esses não necessariamente apresenta ansiedade ou depressão. No entanto, estão claramente incomodados e preocupados com as imposições da sociedade. “E, à medida que as pessoas enxergam isso como um sofrimento, a leitura de livros de autoajuda acaba sendo um recurso a mais para tentar lidar com a situação”, diz Carolina.

“Vemos uma demanda muito grande das pessoas em relação à forma mais saudável de lidar com a opinião dos outros, a luta constante contra padrões de beleza e de status, a organização do tempo e as dicas para ser um profissional de sucesso. Tudo isso gera ansiedade”, explica.

 

imagem: shutterstock
imagem: shutterstock

Cuidado!

O lado positivo de buscar livros assim é um indicativo de que a pessoa quer se entender e tem perguntas precisando de respostas. “Isso é bom porque ignifica que você está disposto a cuidar dessas perguntas, seja na forma de amar, ganhar dinheiro, estar com os outros ou resolver problemas”, diz ela.

No entanto, o livro escolhido não pode ser visto pelo leitor como um manual para ser obedecido ao pé da letra. “Ele precisa te ajudar a pensar”, pontua o psicanalista Christian Dunker.

Segundo a psicóloga Carolina, um efeito inverso pode ocorrer quando o leitor tenta colocar em prática todas as técnicas apresentadas nos livros de autoajuda. Isso ocorre porque eles aumentam as chances de frustração caso o leitor não consiga atingir os objetivos propostos. “Um exemplo é o fato de a pessoa achar que está acima do peso e o livro falar para ela aceitar seu corpo. Nem todos conseguem aceitar, e nesses casos a leitura pode somar mais uma frustração, podendo ser prejudicial e potencializar aquele sofrimento”, explica.

Por isso, é importante enxergar a leitura como uma das inúmeras formas de buscar ajuda. Não como a única. “Se você sente que algo está errado, não tente resolver o problema sozinho achando que apenas o livro vai resolver todos os seus problemas”, orienta a psicóloga.

Segundo ela, é necessário aliar a leitura às conversas com amigos e familiares de confiança, busca de apoio espiritual — para aqueles que possuem alguma crença — e terapia.“Da mesma forma que a pessoa procura um médico e faz tratamento quando está com uma dor no rim, por exemplo, ela precisa buscar um especialista para as doenças da mente. Afinal, qualquer sofrimento mental é tratável. Basta usar o remédio certo”, finaliza.

Livros de autoajuda mais vendidos em 2018:

A sutil arte de ligar o f*da-se (Mark Manson) – 439.251 exemplares

O milagre da manhã (Hal Elrod) – 189.595 exemplares

Seja foda! (Caio Carneiro) – 165.595 exemplares

Combate espiritual (Padre Reginaldo Manzotti) – 148.570 exemplares

O poder da ação (Paulo Vieira) – 141.681 exemplares

O poder do hábito (Charles Duhigg) – 125.664 exemplares

O poder da autorresponsabilidade (Paulo Vieira) – 119.337 exemplares

LEIA MAIS

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]