Comportamento

Amanda Milléo

Titá, loja de brinquedos educativos mais antiga de Curitiba fecha as portas

Amanda Milléo
28/09/2018 07:00
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A Titá era referência em brinquedos educativos. Fotos: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo

A falta de interesse das crianças e pais por brinquedos educativos, dentre outros motivos, levou ao fechamento de uma das lojas mais tradicionais de Curitiba. Depois de quase 41 anos atendendo a diferentes gerações de famílias paranaenses, a loja de brinquedos educativos e convencionais Titá Brinquedos anunciou, na última quarta-feira (26), o encerramento das atividades.
Reconhecida como a loja de brinquedos mais antiga do Paraná, e a terceira mais antiga do Brasil, todo tipo de brinquedo podia ser encontrado na Titá. Queria uma boneca da moda? Um carrinho da coleção? Um jogo de tabuleiro educativo? Brinquedos antigos que o seu neto, sua neta nunca viram antes? Tudo era possível na Titá.
 Depois de 40 anos, a loja de brinquedos mais antiga de Curitiba fecha as portas. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo.
Depois de 40 anos, a loja de brinquedos mais antiga de Curitiba fecha as portas. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo.
Por muito tempo, conforme relata Fabiano Benevolo Lopes, um dos proprietários do local, a loja foi especialista em brinquedos educativos, como fantoches e itens em madeira. Mas, com o assombro da crise econômica do início da década de 1990 no Brasil, Titá se viu obrigada a mudar e a incluir brinquedos mais convencionais. Logo, o diferencial da loja ampliou e a Titá continuava referência em brinquedos originais, além dos mais comerciais.
“Fomos tocando muito tempo nesse molde, das duas linhas de brinquedos. Mas, sempre tivemos uma procura muito grande pelos brinquedos educativos, porque éramos reconhecidos em Curitiba por eles. Tivemos muitos anos bons, mas de uns três anos para cá, sentimos a virada econômica e as vendas caíram muito. A gente começou a se enrolar financeiramente. Tentamos segurar, mas a economia não melhorou e parece que não vai melhorar tão cedo”, conta.
Um dos proprietários, Fabiano Lopes: crise econômica foi uma das responsáveis pelo fechamento.
Um dos proprietários, Fabiano Lopes: crise econômica foi uma das responsáveis pelo fechamento.
Ao lado das contas que se acumulavam, Fabiano viu crescer também a influência da tecnologia na rotina dos pequenos. Crianças que, antes, completavam 12 anos e ainda ganhavam uma boneca ou carrinho dos pais e avôs, agora estão vidradas em smartphones e tablets, ou qualquer outra novidade na área eletrônica.

“Infelizmente as crianças estão cada vez mais presas em uma bolha, e isso é uma tendência irreversível. Hoje, passa dos seis, sete anos de idade, a criança não ganha mais brinquedo, elas nem pedem mais. Alguns pais e avós até tentam insistir, mas não conseguem”, relata Lopes sobre uma tendência percebida no mundo todo.

A Titá segue uma baixa do setor vista em todo o mundo. No início de 2018, a maior rede de brinquedos dos Estados Unidos, a Toys R Us, anunciou o fechamento de todas as lojas, o que soma um total de 735 estabelecimentos. “Os dois fatores principais que nos levaram a tomar essa decisão doída para nós foram a questão econômica e a tecnologia. O e-commerce tira uma fatia de renda, mas não é tão representativo na área de brinquedos”, justifica Lopes.

“Eu só ganhava roupas nos aniversários”

Loja está liquidando itens para encerrar as atividades.
Loja está liquidando itens para encerrar as atividades.
Na maior parte da vida de quase 41 anos, a Titá Brinquedos foi comandada pelo casal Hélio Lopes e Maria Beatriz Benévolo Lopes, hoje com 81 e 76 anos, respectivamente. Logo, os filhos do casal eram vistos como as crianças mais sortudas da cidade — a realidade, porém, não era bem assim.
“As pessoas pensavam que a gente tinha todos os brinquedos, por ter pai e mãe donos de uma loja de brinquedos, mas não. Claro que a gente ganhava, às vezes até fora de época, mas não era essa maravilha que os amigos achavam. Em aniversário, por exemplo, por pensarem que tínhamos tudo, a gente só ganhava roupa dos outros”, lembra com tristeza Fabiano, hoje com 42 anos.
O favorito de Fabiano: um dos carrinhos de madeira que tem desde a infância. "Esse não tem preço".
O favorito de Fabiano: um dos carrinhos de madeira que tem desde a infância. "Esse não tem preço".
Ainda assim, crescer em meio a prateleiras de diferentes brinquedos era incrível, segundo Lopes. “O que mais me dói é pensar que meus filhos, um de três e outro de cinco anos, não vão ter essa oportunidade que eu tive de crescer entre os brinquedos, dentro da loja.”
E a loja não faz parte da história apenas da família Lopes. Teve quem deu os primeiros passos no chão do local, e mesmo quem falou as primeiras palavras ao ver um brinquedo colorido.
“Depois que coloquei o post no Facebook e uma faixa na loja anunciando o fechamento, muitas pessoas contaram suas histórias com a loja e isso dá um certo conforto. A gente sabe que é uma referência em Curitiba e há pelo menos duas gerações que cresceram aqui, que estudaram aqui perto. É uma das coisas que a gente mais lamenta que vai se romper, essa memória“, diz o proprietário.
A loja Titá Brinquedos fica aberta até o início de outubro (data de fechamento ainda será definida pelos proprietários) e deixa gerações de curitibanos em luto.
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