Comportamento

Flávia Schiochet

Lute como uma garota: academias ensinam chutes e socos como exercício

Flávia Schiochet
01/10/2018 07:00
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Na academia Boxe Training, em Curitiba, as mulheres praticam em turmas mistas. À frente, a professora Sylvia Prates. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo

Luvas, protetores, sacos de areia: na última década, esses equipamentos não são mais exclusividade das academias de luta. As academias de musculação com atividades diversificadas passaram a oferecer práticas de boxe, muay thai e artes marciais mistas (MMA), por exemplo. Como resultado, mais mulheres dando socos e chutes como exercício físico.
“A mudança aconteceu de uns cinco anos pra cá. Quando essas lutas estão na grade de academias fitness, ajuda a mais mulheres terem contato com e se interessarem. E supre essa lacuna da prática de forma lúdica e em benefício à saúde”, comenta Silas Kister, instrutor da Bodytech Crystal há quatro anos, dois deles como instrutor de MMA.
“É superprazeroso ouvir o feedback das alunas”, diz Kister. “A maior parte das vezes elas dizem ‘eu não sabia que conseguia fazer isso’. É um tempo dedicado à uma atividade muito mais interessante que correr na esteira”, completa.
Como resultado, melhor coordenação motora, fortalecimento dos músculos — inclusive ombros, costas e abdômen — e melhora no sistema cardiovascular pela exigência da atividade aeróbica. Os instrutores fazem coro quanto ao desempenho de mulheres nas lutas: a força não depende do sexo, tamanho ou peso da pessoa, e sim a técnica — o popular “não é força, é jeito”.
A técnica passada para homens e mulheres é a mesma. “O que muda é que o professor respeita a individualidade biológica e diferenças anatômicas e fisiológicas entre os sexos”, explica Larissa Cunha, nutricionista, educadora física, fisiculturista e proprietária da Academia Larissa Cunha.
Depois de cinco anos sem praticar exercícios físicos, a arquiteta Larissa Costa de Araújo, de 36 anos, voltou a praticar ballet às segundas e quartas na academia Bodytech Crystal. Mal deu alguns meses e resolveu fazer uma aula experimental de MMA. “Eu nunca havia pensado em tentar uma luta, mas adorei a aula. Se não fosse no mesmo ambiente de academia, eu acho que nunca teria ido atrás para ver como é”, reconhece Larissa. Atualmente, ela pratica há três anos as duas atividades duas vezes por semana cada, intercalando.
A arquiteta Larissa Costa pratica boxe na Body Tech há três anos, duas vezes por semana, com o instrutor Silas Kister. Foto: Divulgação
A arquiteta Larissa Costa pratica boxe na Body Tech há três anos, duas vezes por semana, com o instrutor Silas Kister. Foto: Divulgação
“A aula de MMA trabalha o corpo todo, inclusive a mente. Aprender a luta é bem interessante, como a técnica de dar golpes. Não é algo com que nós estamos acostumadas”, diz a aluna Larissa. Por ser uma atividade intensa, a dificuldade que pode aparecer para iniciantes é no preparo físico.

Não precisa virar pugilista

Se antes a prática de luta era coisa de futuros atletas, hoje as aulas de artes marciais são uma forma de se manter em forma. “A gente não obriga a prática esportiva, mas se o cliente quiser, desenvolvemos ele como atleta”, explica Victor Haygert, instrutor e proprietário da Boxe Training.
Segundo Haygert, o principal interesse das mulheres é por causa do gasto calórico: o treino de boxe, por exemplo, é considerado uma atividade física completa por mexer todo o corpo. “Não chega a ter impacto nas articulações e a prática aumenta a força muscular e a definição. As mulheres não ficam muito ‘grandes’ nem muito magras”, explica Haygert.
A medalha de bronze de Adriana Araújo nas Olimpíadas de 2012 e as conquistas da pugilista Rosa Volante (primeira brasileira a conquistar um título da Organização Mundial do Boxe, em 2017) são listadas por Haygert como incentivos para mulheres tomarem coragem e experimentarem o boxe.
Em 2005, a Boxe Training abriu uma turma exclusivamente para as mulheres. Em alguns anos, não foi mais necessário um horário separado e até hoje as turmas são mistas. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
Em 2005, a Boxe Training abriu uma turma exclusivamente para as mulheres. Em alguns anos, não foi mais necessário um horário separado e até hoje as turmas são mistas. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
Na Boxe Training, as turmas exclusivamente para mulheres foram criadas em 2005, um ano após sua inauguração. A estratégia era encorajar as mulheres, que eram a minoria de alunas, à prática. O raciocínio foi o seguinte: com turmas só para elas, a impressão de um ambiente hostil diminuiria. E de fato as turmas voltaram a ser mistas, sem que o percentual de mulheres diminuísse — atualmente a idade delas vai de 13 a 60 anos.
Na Bodytech Crystal, as mulheres perfazem cerca de 90% dos alunos de MMA, também sem um perfil delineado. “Antes, era uma área majoritariamente masculina e hoje elas se sentem capazes de praticar. Até por ter um pouco de agressividade era vetado culturamente às mulheres”, diz Kister. Ele nota o quanto que as mulheres se incentivam mutuamente e se motivam pelo desafio individual de superação.
Dentre as dificuldades apresentadas pelas mulheres no início da prática está a coordenação motora. “Elas apresentam menor velocidade e força, mas se dão bem na luta, porque essas capacidades físicas evoluem com a prática constante”, lista Larissa.

Benefícios da luta

“As mulheres querem perder gordura e buscam as lutas para definição muscular e não como prática de esporte”, observa Larissa Cunha sobre suas alunas. Ela observa que a prática de lutas deve ser vista como complementar à musculação, que é o que garante a definição muscular. “Minhas alunas dizem que o resultado da prática na definição de ombro, costas e abdômen é algo que elas nunca tinham conseguido em outras atividades”, relata Kister.
Dos benefícios da prática de lutas, tanto para homens quanto para mulheres, está a melhora no sistema cardiovascular, na coordenação motora e no fortalecimento muscular. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
Dos benefícios da prática de lutas, tanto para homens quanto para mulheres, está a melhora no sistema cardiovascular, na coordenação motora e no fortalecimento muscular. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
O treino dura uma hora, em média. Para quem quer emagrecer, a prática pode ser feita todo dia, segundo Haygert. “O resultado acontece em pouco tempo. Vejo gente que perdeu 15 quilos em dois meses de boxe”, exemplifica o instrutor da Boxe Training.
O benefício não é só estético. A sensação de relaxamento após a aula tem explicação: a atividade física intensa libera hormônios, tais como cortisol, endorfina e adrenalina. “Elas gastam muita energia de uma só vez e a recuperação depois da aula é um alívio”, diz Kister.
Serviço
Boxe Training. Rua Fernando Amaro, 342, Alto da XV — (41) 3019-4829.
Academia Larissa Cunha. Rua Raquel Prado, 18, Mercês — (41) 3026-3241.
Bodytech Crystal. Rua Comendador Araújo, 731, Batel. Acesso pelos pisos L1 e G3 — (41) 3222-5658 e (41) 3223-8956

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