Comportamento

Raquel Derevecki

Mãe de menino chamado de “esquisito” cria tutorial de inclusão

Raquel Derevecki
15/01/2019 17:00
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Crianças autistas também frequentam ambientes de lazer e contam com a paciência e empatia para se divertir. Foto: Bigstock

“Não entre aí, não, porque aquele menino é esquisito”. Essa frase – dita por uma criança a respeito de um menino autista que brincava na piscina de um condomínio na Zona Sul de São Paulo – partiu o coração da escritora Andréa Werner, de 43 anos, e a incentivou a preparar um tutorial com dicas de inclusão para serem colocadas em prática, principalmente, durante as férias escolares.
Segundo Andréa, a situação constrangedora ocorreu com seu filho autista – Theo Werner Bonoli, de 10 anos. “Aquele dia, nós já estávamos dentro da piscina quando uma menina e um menino entraram. Eles pareciam estar com medo do Theo. Aí, quando outra criança se aproximou para pular perto de nós, o garoto gritou para ela não entrar porque meu filho era esquisito. Aquilo foi uma facada no meu peito”, relata a mãe.
O pior, segundo ela, foi perceber que o pai da criança estava ao lado da piscina e não exibiu nenhuma reação a respeito do ocorrido. “É necessário que os pais eduquem seus filhos para a diversidade porque crianças com autismo também têm férias e você pode trombar com elas em qualquer área de lazer”, afirma.
Isso é mais comum do que se possa imaginar porque, de acordo com Andréa, as mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) fazem o possível para distrair os pequenos nesse período em que eles estão sem aula. “Mas isso é um enorme estresse para nós porque já saímos de casa imaginando se as pessoas vão ser tolerantes, se nosso filho vai ‘aprontar’ e se vamos ter que intermediar duas, cinco ou vinte interações”, escreveu em sua página do Facebook “Lagarta Vira Pupa”.

Em busca de inclusão

Na postagem, Andréa explica que o primeiro passo para que exista inclusão é ensinar empatia às crianças com desenvolvimento típico para que elas aceitem pessoas diferentes com mais facilidade.

“Você pode fornecer livros de literatura inclusiva, verificar se a escola em que seus filhos estudam é inclusiva e, claro, dar o exemplo em casa porque se os pais forem preconceituosos, as crianças vão repetir isso também”, pontua Andréa.

Além disso, é necessário explicar que todas as pessoas têm dificuldades e que, no caso de uma criança autista, essa dificuldade também envolve o aprendizado de regras sociais consideradas comuns no dia a dia. “Às vezes, a criança pula na piscina e molha todo mundo. Em outros momentos, ela tem dificuldade para falar e acaba pegando lanche ou algum brinquedo sem pedir”, exemplifica a mãe.
A escritora Andréa Werner luta pela inclusão de crianças como seu filho Theo, de 10 anos
A escritora Andréa Werner luta pela inclusão de crianças como seu filho Theo, de 10 anos
Algumas crianças diagnosticadas com TEA também podem abraçar e até pular no colo de pessoas estranhas, costumam “se enfiar” nas conversas dos outros e não percebem quando estão incomodando. “Em uma piscina, por exemplo, o autista pode bater a mão na água e jogar no seu rosto, ou pular na piscina e espirrar água em todo mundo. Para ele, aquilo é normal porque tem dificuldade para aprender regras sociais”.
Por isso, ao ver uma criança com esse comportamento em algum ambiente de lazer, é necessário ter paciência e evitar julgamentos. “Geralmente a mãe estará correndo, chamando a atenção dela e pedindo desculpas às pessoas. Afinal, nossos filhos não são mal educados. Eles só demoram mais para aprender algumas coisas”, garante Andréa, que recebeu o disgnóstico do filho quando ele tinha dois anos de idade.
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