Comportamento

Bruna Covacci

Mães também erram

Bruna Covacci
10/08/2016 08:14
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Mãe e filha. Foto: Pixabay.

A advogada Fabiana Carrasco Adad, 36 anos, vive um dilema na criação da sua filha, Isadora Carrasco Adad, 4 anos: trabalhar e exercer o papel de mãe da melhor maneira. Escolher o que criança come, a escola em que ela estuda e até a rotina na hora de dormir e tomar banho. Tudo é uma problematização. “Como saber que estou fazendo o melhor?”, fala. De acordo com ela, a pressão social em volta do papel de mãe não alivia. “Às vezes eu só consigo parar para me questionar quando a Isadora está dormindo. Faço algumas coisas de maneira mecânica e deixo escapar o principal, que é aproveitar o tempo ao lado dela”, fala. Tudo é diferente quando uma decisão a envolve ou se tem relação com a sua filha: “eu não me importo de errar comigo, mas com ela é algo que ‘me quebra’”, confessa.
Ao contrário de Fabiana a empresária Lyz Oliveira, 28 anos, tenta ser mais pé no chão com tudo. “Qual mãe não erra?”, solta. Com duas filhas, Layla Olivera, 6 anos, e Lara Oliveira, 3 anos, ela reconhece que a personalidade forte das meninas faz com que ela perca a paciência vez ou outra. “Eu sou humana”, comenta. Quando comete um deslize Lyz tenta reconhecer o erro, mudar a conduta e, se necessário, pedir desculpa para as filhas. “Uma vez eu brinquei com as mães da Lara na escolinha: alguém aí tem o manual de instrução do filho? Acho que perdi o das minhas”, diz.
Opinião de especialista
A psicóloga Ana Suy Sesarino Kuss, psicanalista e professora do Unibrasil Centro Universitário, explica que entender que errar é permitido é um processo de construção delicado. “No momento da gestação é como se o corpo feminino virasse um ‘domínio público’, onde todo mundo pode dar palpite”, diz. Além disso, existe um mito de que toda mulher têm instinto materno, que ela já nasce sabendo de tudo. “Se ela permanece colada a esta fantasia ela vai se sentir muito culpada por ter dúvidas e, consequentemente, ficar frustrada com o seu desempenho”, fala.
No momento da gestação é como se o corpo da mulher virasse 'domínio público'. Foto: Pixabay.
No momento da gestação é como se o corpo da mulher virasse 'domínio público'. Foto: Pixabay.
Os exemplos não são poucos. “Uma lição estampa a capa de uma revista, os avós da criança também querem passar dicas, tem também as amigas que já tiveram filhos e as colegas de trabalho cheias de verdades. É muita orientação que vem de fora e todas elas são diferentes”, comenta. Para a especialista, o ideal é a mãe buscar uma relação própria com a criança, se permitindo errar, acertar e descobrir. “O maior problema é que a falta de segurança acaba deixando as mães mais suscetíveis às pressões externas”, explica.
Colocar na cabeça que a mãe não é (e nem deveria ser) um ser perfeito é o ponto de partida. Nem tampouco ela necessita parecer sempre feliz para a criança. “Tem que assumir as suas inseguranças!”, declara. Jogar limpo significa transmitir humanização para o filho. “É preciso reconhecer falhas. Ser sincera”, fala.
"É muito importante que a mãe entenda que os filhos estão submetidos a outras leis, que não apenas as impostas por ela", diz a psicóloga. Foto: Pixabay.
"É muito importante que a mãe entenda que os filhos estão submetidos a outras leis, que não apenas as impostas por ela", diz a psicóloga. Foto: Pixabay.
Para a especialista, é muito importante que a mãe entenda que os filhos estão submetidos a outras leis, que não apenas as impostas por ela. Também é preciso suportar que o filho passará por dificuldades. Ainda segundo Ana, a relação entre maternidade e culpa parte da fantasia da genitora poder livrar seus filhos de todo e qualquer perrengue da vida. “É impossível dar conta de tudo. Todo mundo falha em alguma coisa. E, às vezes, o que as mães interpretam como um erro é algo comum”, finaliza.