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A cantora curitibana Michele Mara, na Virada Cultural. Foto: Marco Andre Lima.
A cantora curitibana Michele Mara, na Virada Cultural. Foto: Marco Andre Lima. | Foto: Gazeta

Muitas mulheres negras e cacheadas levam tempo para aceitar a beleza do próprio cabelo. O motivo são os padrões estéticos que, diariamente, apontam os cabelos lisos como o modelo ideal. A realidade causa sofrimento e gera preconceito. Para combater estigmas e também o preconceito, Curitiba recebe no sábado (12), na Praça Santos Andrade, a Marcha do Orgulho Crespo, a partir das 14h.

Organizadora do evento na cidade, a cantora de soul music Michele Mara, 35 anos, dá provas de que o desrespeito está presente no dia a dia. Em junho, foi proibida de provar um acessório para as madeixas em uma loja na Rua XV de Novembro por conta dos fios enrolados. “A gente vive passando por isso. Precisamos nos aceitar do jeito que somos e não ceder ao alisamento que somos tão pressionadas a fazer. Nosso cabelo é a nossa resistência. Ele nasce e dizer eu não posso usá-lo é racismo”, explica.

Michele sabe que é importante trabalhar o empoderamento por meio da beleza.  “Muitas mulheres sofrem com a dificuldade de não conseguir emprego por causa do cabelo: ‘precisa alisar’, ‘seu perfil não faz parte da empresa’… Essas são algumas coisas que elas escutam”, explica. As histórias de sofrimento começam quando elas ainda são pequenas. “Sofri desde criança. Não conseguia fazer amigos, me achava feia por causa do cabelo”. A cantora passou a aceitar suas madeixas só em 2010. Antes, escondia-se nos fios presos e nas tranças. “Quando eu o soltei fiquei três dias com receio de sair de casa porque sabia que as pessoas iam me julgar. Depois que me aceitei fui muito mais feliz”, lembra.

A modelo Cássia Melissa de Carvalho Vieira, 18 anos, também teve muita dificuldade de assumir os fios do jeito que são. “As piadas que eu precisava ouvir na escola, os olhares e brincadeiras de mau gosto como grudar chiclete no cabelo me fizeram sofrer muito”, conta. Foi por isso que ela optou por alisar os fios… O problema é que na segunda vez que realizou o procedimento, aos 15 anos, viu seu cabelo cair. “Foi horrível. Precisei cortar o meu cabelo o mais curto possível para tirar toda a parte lisa”, conta. Algumas falhas decorrentes do incidente a acompanham desde então, assim como a certeza de que não vai usar mais nenhum tipo de química e de que não vale a pena lutar contra a sua natureza. “Aos poucos tudo foi ficando mais natural e comecei a me achar mais bonita”, diz.

Durante a Marcha do Orgulho Crespo uma das participantes que está passando por transição capilar vai realizar o big chop — corte de cabelo que mulheres de cabelos cacheados e crespos recorrem para tirar toda a parte alisada dos fios e, enfim, assumir os cachos naturais. O evento é uma ramificação da 1ª Marcha do Orgulho Crespo (SP), que aconteceu em julho de 2015 e tem atividades para a tarde toda, na Praça Santos Andrade.

Em São Paulo, a rapper curitibana Karol Conka, 29 anos, fez um discurso em forma de protesto relembrando sua infância: “Eu gostava de um menininho na escola, e ele disse que só ia gostar de mim se eu mergulhasse numa piscina de água sanitária. Eu tinha 10 anos. Aí minha mãe queria que eu repetisse que eu era negra linda, e eu dizia: eu sou feia, eu sou tição, que era o que eu ouvia na escola”, relembrou. Para ela, é essencial ensinar para as mulheres a forma correta de tratar do seu cabelo. “Não é com pente fino e xampu para alisar que vamos conseguir alguma coisa”, diz.

 

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