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Falta de combustível fez com que os preços aumentassem nos postos de gasolina. Foto : Aniele Nascimento
Falta de combustível fez com que os preços aumentassem nos postos de gasolina. Foto : Aniele Nascimento| Foto: Gazeta do Povo

Em tempos de crise, não é raro ver atitudes egoístas, a fim de se preservar o bem individual em detrimento do coletivo. No entanto, há sempre histórias de pessoas que se colocam à disposição para tornar a vida do próximo um pouco menos difícil. Com o problema de abastecimento provocado pela greve dos caminhoneiros não é diferente.

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Entre os principais efeitos da paralisação, a falta de combustível foi o primeiro e mais impactante sentido pela população. E também o que tem gerado mais ondas de solidariedade, principalmente na forma de organização de caronas. Ednei Araújo, 29 anos, que é professor de matemática, conta que desde o começo da semana a equipe de educadores da escola onde dá aulas se organizou para que quem estivesse sem combustível tivesse como ir.

“Não paramos as atividades no colégio, então fizemos um grupo no Whats App para organizar as caronas. Assim, quem não tem gasolina para ir de carro não precisa se preocupar”, conta ele. O relacionamento com os colegas, que antes era praticamente restrito aos cafés na sala dos professores durante os intervalos de aula, até começou a mudar. “Nós vamos conversando e acabamos nos conhecendo melhor, é uma forma de se aproximar das pessoas”, diz.

Ednei, aliás, vê na crise uma ótima oportunidade de crescimento pessoal. “Em meio ao caos, conseguir contar com o apoio de pessoas que não são tão próximas dá um pouco mais de esperança na sociedade”.

Na contra-mão

Quando as pessoas correram para os postos de combustível abastecer, o que mais chamou atenção foi o aumento do preço nas bombas, justificado como um reflexo na alta na demanda e a baixa na oferta. O mesmo ocorreu com outros produtos, principalmente entre os hortifrúti e carnes.

FOTO: Felipe Rosa / Tribuna do Parana - AGP
FOTO: Felipe Rosa / Tribuna do Parana - AGP| TRIBUNA DO PARANA

Na contra-mão, a empresária Isadora Castro,26, preocupada com a escassez, decidiu baixar os preços na sua distribuidora de pescados (que atende pessoas físicas), para permitir que mais pessoas tivessem acesso aos produtos. “Quando começamos a ver nas redes sociais as notícias sobre a falta de produtos e alta nos preços, eu e meu noivo decidimos baixar o nosso, mesmo isso significando uma queda no nosso lucro. Achamos que independentemente do que pudéssemos obter, era a nossa hora de colaborar”, conta.

Mesmo com a falta de combustível, ela decidiu manter as entregas. “Tiramos gasolina do nosso carro para abastecer a moto do funcionário que faz a entrega. Ele também deixou de ir passear no fim de semana para ter gasolina para o delivery”, diz.

Ela relata que a atitude foi encarada positivamente pelos clientes. “Tenho alguns que compram tudo fresco e que estavam com dificuldade de achar carne, principalmente os que têm bebê. Eles substituíram pela tilápia que forneço”. Isadora relata que em alguns produtos a diminuição dos preços chegou a mais de 15% e que mesmo com o lucro comprometido, ela se sente em paz com a decisão.

Por que não manter o espírito colaborativo?

Em relação aos frutos positivos que a crise de abastecimento nos deixa, é possível fazer uma previsão. Para Ednei, esta aproximação com os colegas foi o mais importante.

“Falamos sobre vários assuntos, mas não exatamente sobre a greve e a crise política, já que muitos têm posições diferentes. Acho que neste momento, em que precisamos uns dos outros, o foco é mesmo o bem maior, ajudar o próximo. E é esta lição que fica”, argumenta.

Para Isadora, a reflexão também serviu de lição. “Eu sempre acreditei que o senso de comunidade tem que prevalecer. Precisamos acordar como comunidade, como irmãos de pátria. Não adianta apontar o dedo, fazer campanha contra ou favor de um ou outro candidato ou partido, enquanto não tivermos noção da nossa missão e da atitude que devemos tomar num momento deste.”

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