Comportamento

Bruna Covacci

Morre veterinária e ativista Cecília Vargas, do Fofuras

Bruna Covacci
09/11/2016 10:11
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Cecília em casa com os animais resgatados. Foto: Fred Kendi/Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo

Com a morte da médica veterinária e ativista Cecília Vargas da Costa, 36 anos, na madrugada da terça-feira (08), São Francisco de Assis ganhou uma companheira para olhar os animais. Cissa, como era conhecida, trabalhou arduamente para sensibilizar a sociedade para um tema importante: os cuidados com os animais e a adoção. Agora, não são apenas seus wippets, sete ao todo, um poodle, uma cadelinha retirada de um canil clandestino, dois jabutis, dois cavalos e um gato que ficava no Fofuras PetShop que ficam órfãos com sua partida. A proteção animal em Curitiba perde uma grande representante.
Relembre matérias em que Cecília colaborou para a Gazeta do Povo:
Irmã de Cissa, Virgínia Vargas da Costa lembra que seus pais sempre levaram para casa os animais que encontravam nas ruas, o que fez com que Cecília crescesse vendo cães e gatos passando pela casa e tornando o amor e ajuda aos pets algo natural. Na faculdade, fez estágio na Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba (SPAC), onde aprendeu muito sobre os cuidados com animais resgatados. O maior empenho começou em 2009, quando comprou o Fofuras PetShop e, timidamente, começou a promover eventos de adoção responsável aos sábados e domingos – em que mais de 8 mil gatinhos encontraram novos lares.
Uma das maiores representantes da causa animal, a vereadora eleita Katia Ditrichi  conta que será eternamente grata ao trabalho de Cecília. Nela encontrou uma parceira, uma grande profissional e alguém que se tornou parte da família. As duas se conheceram quando Cissa trabalhava num pet chamado Ponto Cão, na Rua Nicarágua, próximo à casa de Katia. “Precisei levar minha cachorrinha com urgência num veterinário e me indicaram a Cecília. Na hora me encantei com o tratamento dela e o seu trabalho”, relembra. Com o Fofuras, as duas se aproximaram ainda mais pela disposição de Cecília a ajudar. “Ela é o símbolo da proteção animal. Sua feira é uma tradição curitibana”, diz. Entre as qualidades lembradas por Katia está o amor: “nunca conheci alguém tão receptiva, de coração aberto e com tanto amor pelos outros e os bichos. A Cissa era a bondade em pessoa”, contou.
A advogada Pamela Rosalinski conheceu Cecília ao encontrar uma gatinha na churrasqueira da casa de uma amiga. “Eu não sabia o que fazer com o bichano e me indicaram levá-lo até o Fofuras, aí tive todo o suporte”, conta. Depois dessa experiência, Pamela resolveu adotar um bichano também e por isso procurou Cecília mais uma vez. Conhecer o trabalho da veterinária de perto fez a paixão de Pamela pelos bichos aumentar e ela também começou a resgatar animais. “Eu só entrei na causa porque sabia que podia contar com ela, com o seu trabalho e o seu apoio”, diz. Os serviços veterinários eram oferecidos a preços mais baixos e, muitas vezes, nem eram cobrados quando se tratava de resgate animal. “É uma das únicas veterinárias que conheci que sabia lidar com animais de rua, que não tinha nojo e se preocupava mesmo em ajudar, deixando muitas vezes o lucro de lado”, conta.
Conhecida como defensora das causas animais, a presidente da Fundação de Ação Social (FAS), Marcia Fruet, acredita que Cecília foi uma das pessoas mais generosas que já conheceu, de quem se tornou amiga. “Mesmo trabalhando na área da assistência social, onde encontramos o que há de melhor em solidariedade, acredito que a Cissa ocupou um dos lugares mais altos quando falamos de preocupação com o outro e os animais”, conta. A naturalidade de fazer disso sua vida dava voz àqueles que não podiam falar e nem fazer por si. Em homenagem ao trabalho da veterinária, Marcia tem a intenção de dar o nome de Cecília ao jardinete localizado em frente ao Fofuras PetShop, localizado na Rua Marechal Hermes.
O Facebook da Prefeitura de Curitiba fez uma homenagem à protetora. Até a manhã de quarta-feira, mais de 2,7 mil pessoas curtiram a publicação e quase 500 compartilharam. A família espera que o seu legado de proteção animal seja levado adiante, que sua história inspire outras pessoas a cuidarem dos bichos de rua. A causa da morte ainda não foi confirmada.