Comportamento

Guilherme Grandi

Samba, rock e música clássica: curitibanos pulam carnaval multicultural

Guilherme Grandi
10/02/2018 18:54
Thumbnail

O carnaval na Marechal Deodoro reúne gente de todas as idades. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo

Sábado, 14 horas, Centro de Curitiba: a Avenida Marechal Deodoro está totalmente bloqueada em um trecho de oito quadras. Nas duas primeiras não há nada, exceto policiais. A partir da terceira, já é possível escutar um cavaco e um tamborim fazendo um som. De um lado da via, carros alegóricos começam a ser montados. Do outro, algumas fantasias são levadas para lá e para cá. E logo à frente, uma multidão pula ao som de marchinhas clássicas de samba.
É carnaval, e embora muita gente acredite que Curitiba não dá samba, seus moradores (os que não viajam) estão aos poucos provando o contrário. O casal Israel e Ana Paula Cardoso junto do jovem Ivan, de apenas 5 anos, dizem um sonoro “não” à afirmação de que a capital paranaense não tem carnaval.
“Esta é a segunda vez que a gente vem na Marechal pular os blocos de rua durante a tarde, de pouco em pouco a gente mostra que existe folia aqui”, conta Israel ao Viver Bem. A família foi toda fantasiada de piratas, para provar que o carnaval de Curitiba pode ser para a família toda.
Esta família foi toda fantasiada para provar que Curitiba tem carnaval sim. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo
Esta família foi toda fantasiada para provar que Curitiba tem carnaval sim. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo
Não há pompa como o carnaval do Rio de Janeiro, nem a agitação de sol a sol do de Salvador. Mas, o argentino Maximiliano Suarez sempre dá um jeito de se fantasiar como se estivesse nas capitais mais famosas pela folia. “A gente vem sempre, com confete, serpentina e fica pulando o dia todo”, se diverte com uma peruca que imita um cabelo moicano todo colorido. Aliás, a Valentina, filhinha dele de apenas 5 anos, mostrou que tem samba (e não tango) no pé.
O carnaval de Curitiba também reserva algumas surpresas, já formando sambistas para o futuro. Há o desfile das escolas de samba, na madrugada de sábado para domingo, mas há também a escola mirim durante a tarde.
A novidade, criada em 2018 como uma união das nove escolas de samba da capital, foi uma contrapartida à subvenção dada pela Prefeitura para as agremiações. Márcio Martins, coordenador do Fórum das Escolas de Samba e Blocos, explica que esta é a primeira vez que tal ação é realizada. “Cada escola ficou responsável por uma ala do desfile, com sete setores e dois casais de mestre sala e porta bandeira”, conta. Já Altamir Lemos, que presidente a atual campeã, Mocidade Azul, se emociona: “Estamos formando os sambistas do amanhã”.
A Ana Beatriz e o João, de 8 e 10 anos, são os 'sambistas do amanhã'. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo
A Ana Beatriz e o João, de 8 e 10 anos, são os 'sambistas do amanhã'. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo
Entre estes ‘sambistas do amanhã’ estão os jovens Ana Beatriz e João, de 8 e 10 anos de idade. Eles formam um dos casais de mestre-sala e porta-bandeira. “A gente está gostando muito, apesar da fantasia um pouco pesada”, contam. Se depender deles, o samba em Curitiba está garantido.
Não só samba
Mas não é só o samba que faz o carnaval de Curitiba. Aliás, não é todo mundo que entra no clima do carnaval. Curitiba tem essa particularidade de agradar desde os que gostam de dar uns passinhos na Marechal até os que preferem uma música mais calma. E um concerto de música clássica na Boca Maldita também pode animar a folia. No caso, um concerto de um homem só, o violinista Orlielito dos Santos.
Enquanto o Afoxé Aiyé Layó, que reúne integrantes dos terreiros de umbanda e candomblé, fazia a purificação da avenida Marechal Deodoro para a entrada dos blocos e escolas de samba, Orlielito reunia alguns ao redor de seu violino com um repertório que não tem nada a ver com samba. “Meu estilo é muito variado, com música infantil, pop, algumas menos conhecidas, mas tudo no ritmo do clássico” conta o curitibano que junta uns trocados de quem passa por ali.
O violeiro Wesley de Oliveira toca rap no violão de dia, e curte os blocos do Largo a noite. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo
O violeiro Wesley de Oliveira toca rap no violão de dia, e curte os blocos do Largo a noite. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo
Aliás, na Rua das Flores, o samba só é escutado de longe mesmo. Os bares, lotados, seguem no ritmo do clássico e de algum pop e rock de músicos independentes. É algo como faz o violeiro Wesley de Oliveira a algumas quadras dali, no Largo da Ordem. Ele canta rap no violão durante o dia, e curte os blocos à noite. Blocos? “Sim, o Largo tem vários blocos a noite, com samba e marchinhas, isso aqui fica lotado”, conta o músico lembrando da noite anterior. “O carnaval aqui é diferente, tem de tudo um pouco”, completa.
Tão assustador
Este ‘diferente’ mencionado pelo violeiro Wesley não é só por conta dos diversos ritmos que podem ser encontrados pelas ruas de Curitiba durante o carnaval. De repente, o mais desavisado pode ser transportado para dentro do seriado The Walking Dead sem nem mesmo sair da cidade. É a Zombie Walk, a marcha zumbi que sai no domingo com caveiras e mortos-vivos. E já é assim há 12 anos, com a expectativa de receber mais de 20 mil zumbis neste 2018.
Flávia Nogueira, uma das organizadoras do Zombie Walk, explica que tudo começou como uma brincadeira entre amigos, mas que cresceu tanto que todo mundo quis participar. “As crianças adoram participar, mas não são as únicas. Todos os anos, gente de todas as idades se reúne com maquiagens cada vez mais elaboradas”, conta. Aliás, o Viver Bem te mostra nove ideias para ficar bem a caráter da Zombie Walk.
Use uma massinha especial para criar feridas, buracos de tiro e outros efeitos. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Use uma massinha especial para criar feridas, buracos de tiro e outros efeitos. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Se até os zumbis vem a Curitiba para participar do carnaval, é porque a folia aqui tem seu algo a mais.
LEIA MAIS: