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No alto da Vista Alegre, o ex-técnico de televisão do Canal 6 correu para a varanda com os colegas para ver a neve. Foto: acervo pessoal/Milton Cyriaco Pignataro.
No alto da Vista Alegre, o ex-técnico de televisão do Canal 6 correu para a varanda com os colegas para ver a neve. Foto: acervo pessoal/Milton Cyriaco Pignataro.| Foto:

Todo inverno é a mesma coisa: os curitibanos aguardam ansiosamente para ver os flocos de neve caindo do céu. E a esperança de ver os telhados e ruas cobertos de branco, como em julho de 1928 e 1975 se renova, mesmo nos anos de fenômenos como El Niño (muita chuva e pouco frio) ou La Niña (frio com tempo seco).

Mas, se depender das pesquisas do historiador Roberson Maurício Caldeira Nunes, a neve só vai voltar à Curitiba em 2025. “Estatisticamente, me parece que só neva em Curitiba a cada 50 anos, então a próxima será só daqui a sete”, conta.

Um dos símbolos de Curitiba, o Relógio das Flores ficou coberto de branco em 1975. Foto: acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.
Um dos símbolos de Curitiba, o Relógio das Flores ficou coberto de branco em 1975. Foto: acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.

Roberson viu de perto a última nevasca da cidade, em 1975. Na época ele tinha 14 anos de idade e foi acordado pelo pai logo cedo, quando as casas e campos do Jardim das Américas amanheceram cobertos de branco.

“Eu estava de férias da escola, e saí correndo para a rua brincar com a minha irmã. Mas saí sem nenhuma proteção, sem bota, luva e cachecol, e acabei queimando as mãos no gelo”, diz ele rindo ao recordar de como foi ver a primeira e única neve da vida.

Da janela do ônibus

Enquanto o jovem estudante Roberson estava de férias escolares em casa, o técnico de televisão Milton Cyriaco Pignataro estava no ônibus a caminho do Canal 6, no alto do bairro Vista Alegre, quando viu os primeiros flocos caírem do céu. Ele tinha 31 anos de idade na época, e hoje, aos 74, lembra como se tivesse sido dia desses.

“Foi uma surpresa, só me dei conta depois quando todo mundo estava olhando. Aí, quando cheguei na emissora é que vi melhor, lá do alto no terraço. Dava pra ver todos os telhados cobertos de branco, foi uma maravilha”, se emociona. Milton e mais dois colegas saíram correndo tirar fotos e montar bonecos de neve.

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A alegria durou pouco: a neve foi mais intensa na madrugada e começo da manhã. Durante a tarde, a chuva derreteu a paisagem branca. O ex-técnico de televisão conta que algo muito curioso é que, naquele dia, não estava tão frio como em outros invernos. “Talvez fosse menos, não havia vento e a umidade estava concentrada na neve”, conta.

Dois dias nevando

A neve de 1928 fez a cidade parecer um pedaço da Europa, como os arredores da Igreja do Bom Jesus, no Cabral. Foto: acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.
A neve de 1928 fez a cidade parecer um pedaço da Europa, como os arredores da Igreja do Bom Jesus, no Cabral. Foto: acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.

De acordo com os meteorologistas, o que aconteceu em 1975 foi uma coincidência climática com temperatura abaixo dos -2ºc e uma fina chuva. “O curitibano acordou mais cedo ontem e entre surpreso e extasiado pôde apreciar um espetáculo que em intensidade igual havia ocorrido apenas em 31 de julho de 1928”, afirmou a manchete da Gazeta do Povo, em 18 de julho.

O fato relembrado na capa do jornal passou a nutrir a esperança de ver a neve cair em Curitiba de novo. No trabalho como chefe da divisão de multimeios da Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba, Roberson descobriu que a nevasca de 1928 foi ainda mais intensa, e durou dois dias. Foi o pontapé inicial para uma pesquisa aprofundada no acervo.

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“Pouca gente sabe que teve aquela nevasca mais intensa. Alguns locais ficaram bem nevados, como o Passeio Público e a região do Cabral, e locais mais afastados que parecem até paisagens da Europa, não daqui”, conta. Ele afirma que há mais registros públicos da neve de 1928 do que a de 1975.

Esperança

A neve foi o assunto principal do dia 17 de julho de 1975 na Boca Maldita. Foto: acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.
A neve foi o assunto principal do dia 17 de julho de 1975 na Boca Maldita. Foto: acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.

Quem viveu a nevasca de 1975 em Curitiba não perde as esperanças de ver de novo. “A gente sempre fica até hoje se perguntando: será que ela vem, será que neva de novo?”, questiona Milton.

Ele sabe que os tempos mudaram: vai ser difícil acontecer de novo.“Não aconteceu nada mais surpreendente desde então, ficou marcado para o resto da vida”.

Segundo o meteorologista Beatriz Porto, do Instituto Simepar, não dá para prever se Curitiba terá uma nevasca neste ano. “Este inverno está dentro do normal, com frio e tempo seco. Não há nenhum fenômeno como El Niño ou La Niña atuando”, explica ressaltando que é preciso ter uma série de fatores muito específicos para nevar, com uma mudança no padrão da umidade.

O registro de 1928 comprova: fazer bonecos de neve não é brincadeira só de criança. Foto: acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.
O registro de 1928 comprova: fazer bonecos de neve não é brincadeira só de criança. Foto: acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.

Já o historiador Roberson  acredita que a cidade ficaria plenamente completa se tudo fosse coberto de branco de novo. “Seria interessante se nevasse em Curitiba todo ano, viriam mais turistas para cá”. Como a esperança é a última a padecer, a capital com um ar europeu poderia enfim fazer jus ao título informal dado por seus moradores.

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