Comportamento

New York Times, por Rainesford Stauffer

Orbiting: o comportamento das redes sociais que tem tirado o sono de muita gente

New York Times, por Rainesford Stauffer
15/12/2018 12:00
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Visualizações curiosas no Instagram, Snapchat e Twitter podem empolgar quando vêm do parceiro ou daquele que tem grandes chances de ocupar essa posição, mas geram confusão quando vêm de um amor não correspondido. Foto: Bigstock

Se você já arriscou um relacionamento na era das redes sociais – principalmente agora que se dedicou a postar uma atualização ocasional para registrar verdadeiros documentários sobre sua existência em várias plataformas, 24 horas por dia, sete dias por semana –, grandes são as chances de estar sendo observado, curtido e seguido por um crush, um caso ou um ex.
Visualizações curiosas no Instagram, Snapchat e Twitter podem empolgar quando vêm do parceiro ou daquele que tem grandes chances de ocupar essa posição, mas geram confusão quando vêm de um amor não correspondido e revolta quando partem do ex. Nesse último caso, é como se o espectro da Relação Que Poderia Ter Rolado ficasse espiando por cima do seu ombro, fuçando tudo sem se comprometer com qualquer interação no mundo real.
Naturalmente, há um nome para esse fenômeno do século XXI, já tão usado quanto ghosting, Netflix and Chill, breadcrumbing e outros termos do novo léxico amoroso: é o orbiting.

Ao contrário do ghosting, que nada mais é que uma palavra descolada para descrever o desaparecimento da vida do parceiro sem deixar rastro, o orbiting não poderia ter existido antes da ascensão das redes sociais. É um comportamento inerente ao meio e a uma época em que as pessoas podem estar hiperconectadas umas com as outras sem ter de abrir a boca. Os métodos distantes de observação digital – curtidas, visualizações etc. – são o elo entre o observado e o observador.

O que sente o primeiro depende muito da relação que mantém com o segundo. Quando você está interessado na entidade satélite a ponto de observar sua atividade nas redes sociais, o orbiting promove a liberação de endorfina e gera a sensação de ser rondado por alguém que se deseja ter mais próximo.
Mas, quando a coisa é ruim, é ruim e não tem jeito. Vem a frustração de querer saber por que um ex prefere observar sua vida a fazer parte dela; a decepção quando alguém que está orbitando há um tempo nunca tenta qualquer avanço; a aceitação da difícil verdade de todo romance digital, ou seja, uma hora a relação tem de ir para o mundo real ou acabar.
Foto: Bigstock
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Kristine Mahan, 23 anos, de Denver, no Colorado, passou pelo orbiting depois de um relacionamento “dolorosamente digital” de sete meses com um sujeito que vivia em Minnesota, enquanto ela morava em Boston. Um dia, menos de duas semanas depois terem se visto, ele parou de responder a seus torpedos e Snapchats de uma hora para a outra e sem aviso, como se os muitos meses compartilhados tivessem sido deletados.
“Mas ele não parou de ver minhas stories nem de curtir minhas fotos no Instagram”, conta Kristine. A princípio, ficou magoada com o silêncio e confusa com a vigilância constante do ex sobre sua vida on-line, mas, depois de um tempo, começou a ver a atitude como uma forma de contato. “Comecei a sentir vontade de mandar mensagens subliminares nas stories, sabendo que era a única maneira de conseguir me comunicar com ele”, confessa.
Ian Coon, 21 anos, de Des Moines, Iowa, desistiu completamente do Snapchat, em parte por causa do número de ex-amigos e rolos que praticavam orbiting em sua conta. “Depois que conheci meu namorado atual e descobri que estava interessado de verdade, tive de começar a mandar torpedos, falar no FaceTime e até – veja você – combinar de sair.”

Tem explicação?

Às vezes o orbiting é tão inexplicável que chega a ser grosseiro. Alexi Mojsejenko, 22 anos, acha que há alguém de seu passado de olho em suas stories só para incomodá-la, pois não curte nem comenta nenhuma de suas postagens no Instagram. “Nesse ponto, não passa de um lance muito passivo-agressivo, como uma batalha solitária e silenciosa”, diz ela.
Kate, 27 anos, do Colorado, encara o fenômeno de forma mais filosófica e positiva; para ela, o orbiting se tornou uma forma de azaração para muita gente.

“Os mais ousados chegam inclusive a curtir coisas de semanas, meses atrás, o que, com certeza, quer dizer alguma coisa; mas é claro que a pessoa também pode ser totalmente sem noção e ter mostrado sem querer que está stalkeando”, comenta, referindo-se às postagens do Instagram.

Ela explica que os observadores evitam curtir fotos de família ou de paisagens; já dar likes nas selfies é a melhor maneira de ficar de olho em alguém sem ter de reconhecer sua existência off-line. Vale dizer também que o orbiting nem sempre é intencional. As stories do Instagram (e as propagandas) são reproduzidas ininterruptamente, sem intervalo, portanto é possível ver as atualizações diárias da pessoa sem querer e sem nenhum interesse de cavoucar no seu histórico.
De qualquer forma, o fato é que o relacionamento amoroso sempre foi e é confuso, e o orbiting só piora as coisas. Pequenas atitudes on-line são interpretáveis de infinitas maneiras, tornando impossível a compreensão dos termos em que você e a pessoa estão. O potencial de uma relação que permanece à espreita faz a pessoa imaginar se, um dia, o outro se materializará; por outro lado, o ex-observador só serve para manter a versão ilusória do relacionamento, fazendo com que se imagine o que aconteceu e o que poderia ter acontecido toda vez que ele(a) visualiza suas stories.
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