• Carregando...
Foto: Bigstock
Foto: Bigstock| Foto:

Depois do WhatsApp meu casamento foi ladeira abaixo”, comenta Cíntia Rocha dos Santos, de 40 anos. Para a arquiteta, o aplicativo de mensagens foi um dos principais motivos que levaram sua união de 11 anos ao fim. “Tudo começou ali. Ele acordava e já pegava o telefone, ia ao banheiro com o aparelho, ficava conectado nas horas de descanso. Todo o tempo livre que a gente tinha era assim”, desabafa.

Durante as refeições, a família – composta por Cíntia, o marido e as duas filhas de 11 e 5 anos –, parecia nunca estar só. Dezenas de notificações pipocavam dos grupos do WhatsApp: amigos do futebol, colegas de trabalho, primos e primas “falavam” ao mesmo tempo. Na ânsia do marido em responder a todos e se manter na conversa, quem ficava de fora dos papos eram a esposa e as filhas.

“Pedi que ele não o usasse enquanto estivesse na mesa com as crianças”, lembra. Em uma tentativa de despertar a atenção do pai, as filhas escreveram bilhetinhos pedindo para que ele ficasse longe do celular. Não deu certo e, aos poucos, Cíntia se adaptou à situação.

“Nossa comunicação começou a ser via WhatsApp. Eu mandava mensagem dizendo que o jantar estava pronto ou que ele precisava cuidar das crianças. Isso potencializou a falta de interesse. Me senti abandonada”, conta. Dois anos depois, o divórcio. Ela notificou o ex-marido de que estava saindo de casa através de uma mensagem, como já era costume.

O problema tem nome

O problema que abalou o casamento de Cíntia tem nome e afeta muitos relacionamentos: “phubbing”. Criado em 2013 pelo dicionário australiano Macquarie, o termo representa a união das palavras “phone” (telefone) e “snubbing” (esnobar) e é usado quando alguém ignora as pessoas ao seu redor por causa do celular.

Em um estudo da Universidade de Baylor University, no Texas, 46% dos 145 participantes afirmaram que o celular interferiu na interação com seus parceiros em diversos graus. “Às vezes”, “frequentemente” e “o tempo todo” foram as expressões utilizadas para medir a frequência do incômodo.

Em mais de 20% dos casos, a situação acabou em conflitos entre os parceiros. “Nas interações sociais diárias, as pessoas acham que distrações momentâneas com o celular não são um problema sério. Mas essa pesquisa mostra que, na medida em que isso ocorre com um casal, é pouco provável que o indivíduo ignorado esteja feliz no relacionamento”, afirma a pesquisadora Meredith David no relatório do estudo.

Foto: Visual Hunt
Foto: Visual Hunt

O mau hábito se estende a todos que têm acesso aos smartphones. O motivo? As pessoas costumam olhar para os celulares mais de 150 vezes ao dia, segundo a pesquisa. A tentação de responder a e-mails depois do horário de trabalho, atender a telefonemas que podem esperar algumas horas ou até o dia seguinte, postar nas redes sociais. Aos poucos, esse hábito transmite a mensagem de que interagir com a pessoa ao seu lado não é tão importante quanto a tela em frente a você.

“Este é um hábito muito comum, hoje em dia quase todas as pessoas estão conectadas. O problema é quando os laços afetivos são substituídos pelo celular. O outro se sente dispensado”, explica a psicanalista Juliane Kravetz.

“Isso também pode ser caracterizado como uma rejeição ao parceiro, o que prejudica sua autoestima. A partir daí, começam a surgir sentimentos negativos que minam a relação”, complementa Ulisses Natal, coordenador adjunto do departamento de psicologia da PUCPR.

Os especialistas explicam, porém, que a culpa não é só da internet. Desviar os olhos para a tela todo o tempo pode ser considerado apenas a ponta do iceberg no relacionamento. “O uso excessivo pode ser um efeito de alguma outra questão na relação a dois que precisa ser resolvida”, afirma Natal.

Como resolver a situação sem brigas

Se os dois estiverem dispostos a recuperar o vínculo, basta uma conversa honesta. A psicanalista alerta que uma tática inútil é tentar proibir o uso do celular. Em vez disso, ela sugere que o parceiro que estiver se sentindo rejeitado fale imediatamente como se sente em relação ao comportamento do outro assim que a situação se torne incômoda.

Natal recomenda que o casal avalie em conjunto até que ponto a relação está sendo afetada e, a partir disso, defina estabeleça comportamentos. “Os dois, juntos, podem definir em que momentos é melhor ficar longe do aparelho”, diz.

O lado bom do WhatsApp

O aplicativo não deve ser encarado como um vilão nos relacionamentos. Pelo contrário. Em muitas situações – como as famosas “DRs” –, a troca de mensagens pode ser benéfica para aqueles que não têm muita habilidade em se expressar verbalmente.

“Às vezes é mais fácil transmitir os sentimentos através das palavras escritas ou digitadas. Muitos casais conseguem se relacionar melhor quando utilizam o aplicativo”, afirma Kravetz.

LEIA TAMBÉM

>>> Sem limites, chatas e mandonas: as crianças que sofrem da Síndrome do Imperador

>>> Os prós e contras de quem decide deixar o Brasil em busca de uma vida melhor

>>> Dormir com lentes de contato aumenta o risco de doenças incuráveis nos olhos

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]