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A automutilação parece ser mais uma tentativa de projetar no corpo as tensões que os adolescentes vivenciam. Foto: Bigstock.
A automutilação parece ser mais uma tentativa de projetar no corpo as tensões que os adolescentes vivenciam. Foto: Bigstock.| Foto:

A adolescência é uma das fases mais incríveis da vida, mas também é uma época de muitos questionamentos, quando o indivíduo tenta entender a complexa engenharia social à sua volta e o seu lugar no mundo.

Para alguns adolescentes, porém, todas as alterações hormonais e sociais típicas da fase, são tão difíceis de lidar que as angústias acabam se refletindo através da automutilação. O cutting, ou a prática de efetuar pequenos cortes nos braços e pernas, é uma dessas práticas.

>> Automutilação e tentativa de suicídio terão que ser notificadas por escolas e hospitais

“Mas também tem quem escolha se bater, se queimar, se morder e se arranhar em partes não facilmente visíveis do corpo”, explica a psicóloga Fernanda Pacheco, especialista em clínica analítica-comportamental na Vivre Psicologia. Ela também lembra da tricotilomania, ou seja, a prática de arrancar pelos e cabelos.

Mas o que leva o adolescente a esse comportamento?

De acordo com a lei sancionada nesta segunda-feira (29) pelo presidente Jair Bolsonaro, a comunicação deverá ser feita em sigilo. Foto: Bigstock
De acordo com a lei sancionada nesta segunda-feira (29) pelo presidente Jair Bolsonaro, a comunicação deverá ser feita em sigilo. Foto: Bigstock

A doutora Daniela Prestes, psicóloga que atende crianças e adolescentes no Hospital Pequeno Príncipe, explica que as angústias próprias da idade podem levar à prática da automutilação.

“Para além de ser um objetivo de morrer, é um objetivo de acabar com o sofrimento, não necessariamente com a vida”, explica Daniela.

Isso não significa, entretanto, que o comportamento não levará ao suicídio. Um corte mais profundo pode acabar levando o adolescente a óbito, mesmo que essa não tenha sido a sua intenção. “Errar a mão é a diferença entre comunicar o sofrimento e cometer o suicídio”, analisa Daniela. Já a psicóloga Fernanda alerta que é preciso ficar de olho:

“Nem todo adolescente que se autolesiona se tornará um suicida, porém, isso pode ajudar a identificar aspectos de comportamentos que são relevantes para um trabalho de prevenção de suicídio”, pondera a especialista.

Estima-se que 1 a cada 10 adolescentes apresentará ao menos um caso de automutilação nessa fase da vida. A predominância é entre os 10 e os 15 anos, principalmente entre pessoas do sexo feminino.

A maturação da sexualidade, as relações parentais e sociais, o bullying e a depressão são alguns dos fatores que mais interferem nesse tipo de comportamento.

Como identificar e tratar um adolescente que se automutila?

A psicóloga Fernanda alerta que alguns comportamentos podem ser indícios da prática de cutting: o uso de roupas compridas mesmo em dias mais quentes e o excesso de acessórios como pulseiras, braceletes e faixas podem significar que os adolescentes estão tentando esconder as marcas deixadas na pele. A confirmação deve ser feita com cuidado.

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No último dia 29 de abril, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei que prevê que hospitais e escolas passem a notificar casos de tentativa de suicídio e automutilação. Os registros devem ser feitos por clínicas e hospitais públicos e privados às autoridades de saúde. Já as escolas devem notificar os casos ao Conselho Tutelar. A comunicação deve ser feita em sigilo.

Em geral, o tratamento mais indicado é com psicólogos, mas se for constatado algum transtorno psíquico, como depressão, por exemplo, talvez seja necessário o uso de medicamentos.

 

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