Comportamento

Camila Machado

“Os pais não são eternos e precisamos libertá-los”, diz Carpinejar sobre novo livro

Camila Machado
19/07/2018 10:22
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Foto: divulgação.

Uma viagem para o futuro: você consegue imaginar como estará daqui a vinte anos?
O aluguel segue na rotina (será?). O bar favorito não é mais o mesmo. Quem são os seus os amigos? Filhos? Netos? Fotos da família na estante da sala. Mamãe, papai e você. Mas onde eles estão?
Esse foi o clique que Fabrício Carpinejar, o cronista gaúcho, precisou para pensar mais na relação que mantinha com os seus pais, Carlos e Maria. Hoje, ambos com 79 anos de idade. Tudo o que ele tirou dessa experiência está no seu novo livro, “Cuide dos seus pais antes que seja tarde”. O título, auto explicativo, fala da vida pessoal do autor e de suas histórias sobre o tempo, a perda, o amor, o carinho e o cuidado que os filhos devem ter.
São 112 páginas, publicadas pela Editora Bertrand Brasil. “Vinte anos para mim, que hoje tenho 40 e poucos, não representam tanto. Mas na perspectiva dos pais, o tempo tem um peso diferente. A gente não se prepara para se despedir. Precisamos admitir que eles têm fraquezas, libertá-los do papel de heróis, entender que eles são vulneráveis e que precisamos cuidá-los”, explica o escritor.
Para os curiosos, Carpinejar conta ainda o que o novo livro é impregnado de saudade. “Se existe saudade, é porque a relação foi feliz. Do contrário, quando os pais nos faltarem, sentiremos apenas culpa. Culpa é algo não vivido”, disse.

Descobertas

Durante o processo de criação do livro, e das descobertas no “novo relacionamento” com os pais, Carpinejar disse que aprendeu a escutar mais, doar o seu tempo, e que esse é um bom ensinamento para todos os filhos que ainda têm os seus pais vivos.
As conversas ao telefone ficaram mais frequentes, o WhatsApp virou uma ferramenta poderosa e o “toque” e o “eu te amo” retornaram à rotina de pais e filhos. “Eu coloquei o meu pai para dormir e isso foi emocionante. Eu tirei a roupa dele, coloquei o pijama, dei colo. É bonito quando conseguimos ver essa inversão de papéis. O pai, que virou amigo, depois irmão e que, finalmente, vai virar filho um dia”.
Foto: Carpinejar com a mãe Maria. Foto do acervo do autor.
Outra constatação do autor foi o poder da escuta. “Reclamamos quando os pais repetem a mesma história por tantas vezes. Mas nos esquecemos que quando pequenos, éramos nós que pedíamos, toda noite, pela mesma contação. Hoje eu escuto tudo, estou presente sempre”, confessou.

Lembranças

Os pais de Carpinejar leram o livro e ficaram orgulhosos. “É a nossa vida contada. Simples e comum. Muita gente vai se identificar”, declarou.
O livro é uma narrativa feita de cenas reais. Entre as lembranças mais bonitas da infância, Carpinejar cita a das viagens em família. “Lembro dos piqueniques, em carros antigos com o capô grande. Meus pais nos sentavam no capô, o aço quente. Nostalgia pura”, disse.
Carpinejar também é pai, do Vicente, com 16 anos, e da Mariana, com 24. Mas consegue separar bem os papéis. “Pensar nas relações é muito importante e os comportamentos são muito diferentes. Com os meu pais, eu sou literal, didático, sentimental. Com meus filhos, é uma relação mais baseada em brincadeiras, autocrítica, na ironia. Mas o processo do livro me fez amadurecer ambas as convivências”, disse.

Gêmeo dos pais

E se ele se vê nos pais? “Sim, muito. Herdei da minha mãe a mania que eu tanto criticava, de encostar nas pessoas enquanto estou falando com elas, ficar segurando o braço do outro. Já do meu pai, reconheço a birra infantil. Me tornei gêmeo deles. É bonito, porque passamos a vida combatendo e buscando a individualidade. E agora o que mais quero é ser parecido com eles”, declarou.

Conselho

O livro de Carpinejar, segundo o próprio autor, procura valorizar a família e as relações. Para ele, “não é preciso pensar igual, quando sentimos igual”.
“Meu conselho para os filhos é que o orgulho não vale nada e que não é preciso ter razão sempre. Seja gentil”, finalizou.
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