• Carregando...
Entre as diversas barracas de artesanato na Feira do Largo da Ordem, João Ângelo Belotto une os entusiastas do estilo militar (Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
Entre as diversas barracas de artesanato na Feira do Largo da Ordem, João Ângelo Belotto une os entusiastas do estilo militar (Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)| Foto:

Não se trata de nostalgia, tampouco incentivo, à guerra. Com centenas de itens de referência ao estilo militar, a tenda de João Angelo Belotto na feirinha do Largo da Ordem, em Curitiba, é antes de tudo uma lembrança ao pai, expedicionário da Força Expedicionária Brasileira na Itália, com quem dividia o interesse pelo assunto. Tamanha quantidade de itens à venda, porém, chamam atenção de quem passeia pela feirinha todo domingo.

>> “Os pais não são eternos e precisamos libertá-los”, diz Carpinejar sobre novo livro

“Fui paraquedista do Exército brasileiro em 1968, mas eu me interesso desde garoto, porque meu pai foi militar também, de carreira. Mas me interesso não como militarismo, de destruição, ou qualquer coisa nessa linha. Eu me sinto bem vestindo uma jaqueta militar, e me lembro do meu pai”, relata Belotto, que está no Largo da Ordem desde novembro do ano passado. Antes, Belotto vendia as peças apenas via Internet.

Localizada em frente  à igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, duas barracas se unem para apresentar os diferentes itens históricos. Boa parte das peças oferecidas por Belotto é original, garimpadas por ele via Internet, através de conhecidos ou em encontros de trocas.

(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)

Quem está buscando por um uniforme original alemão, encontra lá. Se for da época da Alemanha dividida entre Oriental e Ocidental, o original Oriental também está lá. Cantil holandês, pá sueca? Estão lá, ao lado de distintivos de diferentes nacionalidades, placas, capacetes, quepes, coturnos, facas e até mesmo uma miniatura de um jeep alemão, feito por um artesão alemão, dispostos sobre as mesas.

Com tamanha variedade, Belotto não sabe apontar qual é o produto mais buscado pelos clientes, embora reconheça que a nacionalidade que gera maior entusiasmo no público seja só uma: “As pessoas gostam muito de coisa americana. E itens da Segunda Guerra. Hoje tem muitas pessoas que preservam viaturas militares antigas, você já deve ter visto. Elas gostam de se uniformizar de acordo com o que vestiam os militares na época. Há também quem busque as roupas para aqueles jogos de paintball. É um mundo bem diverso”, relata.

(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)

A venda também varia conforme o tempo. Dias mais frios ou nublados, como no caso deste domingo (22), as jaquetas saem com frequência, especialmente entre as mulheres, por preços que variam de R$100 a R$280, conforme a originalidade da peça. “Cerca de 50% das vendas, em média, se dá para mulheres. Essa moda militar está de volta e elas se interessam bastante”, comenta Márcio Frederico, colega de Belotto que também foi paraquedista do exército e o ajuda na venda das peças na feirinha.

(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)

Itens favoritos

Embora todas as peças sejam descritas com carinho por Belotto, os distintivos tem um lugar especial. “São todos originais e tem os americanos, franceses, belgas, enfim. Todos os itens são da minha coleção, que eu procuro, e vou me desfazendo. Em casa tenho muitos desses itens”, lembra.

Para comprovar a originalidade, Belotto diz que vai no olho mesmo. “Não tem certificado, é impossível ter certificado de centenas e milhares de itens. Mas eu conheço no olhar, dá para perceber quando é. Os colecionadores mais avançados percebem a originalidade pelos detalhes, pelas marcações, são vários sinais que indicam”, explica.

(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)

Dos anos 1920 para 2018

Interessado por uma ushanka russa (típico chapéu do exército russo), Luiz Otávio Naufel, de 18 anos, parecia um personagem saído do passado. Vestido como se estivesse caminhando pelas ruas de Curitiba na década de 1920, Luiz Otávio conta que o estilo dele sempre foi assim, e nunca se interessou muito pelas roupas despojadas dos jovens de hoje.

“Eu acho que tenho uma calça jeans, mas não sei se ela me serve e eu nem sei se ainda a tenho. Não tenho tênis, pois não uso faz muitos anos e acabei doando”, diz Luiz, estudante do curso de Matemática da UFPR.

O estilo do passado surgiu quando Luiz Otávio ainda era criança, mas sua mãe controlava mais seu vestuário de então. Aos 10 anos, gradualmente foi deixando os tênis de lado e adotando o sapatênis para, depois, usar apenas os sapatos sociais. Da mesma forma, os cintos deram lugar aos suspensórios e até um chapéu passou a fazer parte do seu guarda-roupa diário.

(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)

“Eu não me visto assim só por isto [pelo gosto]. Eu considero que seja uma roupa adequada. Por exemplo, calça social, sapato social, o próprio nome já diz: é uma roupa que você usa em sociedade. Sem falar que, antigamente, as pessoas consideravam absurdo sair por aí vestido de qualquer forma, e as calças jeans eram uniformes de penitenciárias”, explica.

Quando chegou à sala de aula, no primeiro dia do ano letivo, carregando uma maleta de couro, Naufel relata que os amigos o confundiram com o professor. “Outro dia fui ao museu ferroviário e um homem me perguntou se eu fui gravar alguma coisa, por causa da minha roupa. As pessoas sempre perguntam se eu sou um personagem, se irei a alguma festa e eu tenho que explicar”, diz.

“Tenho amigos que se vestem não exatamente igual, mas bem parecidos, como alguns que usam gravata borboleta ou amigas que só usam saia. Não só porque gostam, também pela religião. A minha religião, o catolicismo romano, prega que as roupas devem cobrir do pescoço ao joelho, de um ombro a outro, incluindo joelhos e ombros. Eu sei que poderia seguir essa regra com roupas mais comuns, mas eu opto pelas mais formais”, relata.

(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)

LEIA TAMBÉM: 

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]