Comportamento

Carolina Werneck

Paraquedista mais velho em atividade no Brasil já pousou até no Palácio Iguaçu

Carolina Werneck
27/10/2017 14:18
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Aos 79 anos, Schirmer é o paraquedista mais velho ainda em atividade na América do Sul. Foto: Facebook/Reprodução

O ano era 1968. O então governador do Paraná, Paulo Pimentel, estava no Palácio Iguaçu recebendo uma delegação estrangeira. Às 14 horas, passou pela janela do governador um homem atado a um paraquedas, que pousou a mais ou menos dez metros do palácio. Atônito, Pimentel mandou que os seguranças trouxessem o inesperado visitante até seu gabinete. Era Luiz Schirmer, o primeiro campeão brasileiro de paraquedismo e atualmente, aos 79 anos, o paraquedista mais velho ainda em atividade na América do Sul.
No ano anterior, Schirmer havia ajudado a fundar o Albatroz Paraquedismo, primeiro clube de paraquedismo civil do Paraná. A recém-criada instituição precisava de um avião e Schirmer achou que um salto em pleno Centro Cívico era a melhor maneira de chamar a atenção do governo do Estado para a causa. Deu certo: o Albatroz recebeu um avião emprestado e fez uma carreira sólida e longa: nesta sexta-feira (27), comemora 50 anos.
Schirmer, de capacete, conversa com o então governador do Paraná, Paulo Pimentel. Foto: Albatroz/Arquivo
Schirmer, de capacete, conversa com o então governador do Paraná, Paulo Pimentel. Foto: Albatroz/Arquivo
Acontece que Pimentel havia sido convidado a assistir, naquele dia, ao primeiro salto de paraquedismo civil no Paraná. Depois de confirmar presença, ele precisou cancelar o compromisso. “Então virei para o piloto e perguntei onde era o palácio. Decolamos, ligamos para o governador e eu disse ‘se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha. Eu vou saltar aí na sua janela” . Ele disse que eu não estava autorizado a fazer uma coisa dessas, mas eu argumentei ‘desculpe, governador, mas não há como voltar, porque eu já estou no avião, indo para aí’.”
O início
Com dez anos de idade, Schirmer saiu de Betim, Minas Gerais, rumo ao Rio de Janeiro, em busca de uma vida melhor. Viveu nas ruas pelos sete anos seguintes, até que foi convidado por um Sargento a entrar no Exército. “Eu era analfabeto e não tinha os dentes superiores dianteiros. No Exército, fiz uma prótese e servi três anos como soldado. Me alfabetizei na tropa paraquedista. Estudei medicina e saí como o primeiro Tenente Médico Paraquedista do Exército Brasileiro”, orgulha-se.
O fascínio pelo paraquedas veio no primeiro salto. Ele diz que nunca tinha estado perto de um avião até aquele dia, aos 17 anos. Ele se lembra do pavor que sentiu ao entrar na aeronave feia e barulhenta e, ainda por cima, ter que sair dela “na metade do caminho”. “Pensei: ‘ morto’. Saltei porque tinha que saltar. Mas o paraquedas abriu, olhei para cima e gritei a frase que o paraquedista tem que gritar quando ele abre, que é ‘velame’. E aí foi o mundo inteiro nas minhas mãos. Aquela paisagem, eu vendo tudo de cima. Pensei: ‘não morri e nem vou morrer mais’.”
Paraquedistas do Albatroz posam no final dos anos 1960. Foto: Albatroz/Arquivo
Paraquedistas do Albatroz posam no final dos anos 1960. Foto: Albatroz/Arquivo
O grande salto
Desde então já são quase quatro mil saltos. Schirmer representou o Brasil em cinco campeonatos mundiais.  Na faculdade de medicina, conheceu a companheira de toda uma vida, Eliana, com quem está casado há 50 anos.
Foi para o abraço dela, aliás, que ele diz ter feito seu salto mais bonito, em Florianópolis, onde mora atualmente. Há três anos, voltando de Criciúma, ele precisou saltar na praia da Gamboa, porque o avião não tinha permissão para pousar à noite e o sol já estava se pondo. Ligou para a esposa e pediu que ela o buscasse na praia.
“Quando o avião chegou ali, no oeste estava se pondo um sol vermelho, enorme, lindo. Do lado leste a lua nascia, uma bola prateada iluminando todo o mar. Ali tem uma lagoa grande no formato de um coração e, pelo brilho da água e o vento, ela brilhava como se estivesse cheia de lantejoulas. Na praia havia uma única pessoa. Eu me esqueci quem poderia ser, mas pousei em frente a ela. Era minha esposa com os braços abertos. Ela correu e me deu um beijo”, conta com carinho.
Schirmer, à esquerda, durante um de seus quase quatro mil saltos. Foto: Facebook/Reprodução
Schirmer, à esquerda, durante um de seus quase quatro mil saltos. Foto: Facebook/Reprodução
Os muitos caminhos percorridos pelo médico paraquedista ensinaram várias lições. Ele lamenta que, ainda hoje, tantos passem pelas mesmas dificuldades pelas quais passou na juventude. “A pessoa está no interior e tem o sonho de que vai para uma cidade grande e vai melhorar a vida. Mas na verdade vai para a periferia, a família se desagrega, o governo não apoia.”
Detentor da Medalha do Pacificador, maior honraria do Exército, e da Medalha do Mérito Aeroterrestre, Schirmer sabe que o esforço pessoal nem sempre é o bastante. “A gente, além de ter força de vontade, garra, determinação, além de querer, também tem que ter sorte. Tenho tantos amigos que não tiveram sorte e foram para a criminalidade. Eu tive a sorte de encontrar aquele Sargento e depois tive a sorte de conhecer minha mulher.”
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