Comportamento

Amanda Milléo

Como a religião, a cultura e as crenças positivas fazem as pessoas viverem mais

Amanda Milléo
26/09/2017 08:00
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Nossa saúde, envelhecimento e até sucesso são influenciados pelas críticas ou elogios que recebemos na vida, diz neuropsicólogo. (Foto: Bigstock)

Mario Martinez, neuropsicólogo norte-americano, não acredita que as pessoas envelheçam simplesmente por uma questão genética ou de tempo. Para ele, todas as relações sociais, as crenças e culturas que o ser humano adquire e compartilha ao longo da vida devem, de alguma forma, influenciar o envelhecimento, a saúde e até mesmo o sucesso da pessoa. Assim, torna-se possível prevenir doenças ou aumentar anos de vida através do pensamento.
Essa é a ideia central da teoria Biocognitiva, desenvolvida por Martinez, autor do livro “The MindBody Code: How to Chance the Beliefs that Limit Your Health, Longevity and Success” (O Código MenteCorpo: Como Mudar as Crenças que Limitam sua Saúde, Longevidade e Sucesso”, em inglês). O autor esteve em Curitiba no último dia 22 de setembro, a convite do Instituto Salgado de Saúde Integral, para realizar um workshop sobre como ter uma consciência centenária.
Em entrevista por e-mail ao Viver Bem, Martinez explica como as palavras são sinais que levam a respostas biológicas, prevenindo ou agravando doenças. Confira!
De que forma as crenças culturais influenciam nossa saúde e longevidade? Como nossos corpos respondem às nossas crenças?
Culturas são crenças coletivas de um grupo sobre saúde, estética, religião, longevidade, ética e outros importante aspectos da nossa qualidade de vida e sobrevivência. As ciências da vida têm ignorado a influência dessas crenças coletivas em nossa biologia. Desde que tivemos uma linguagem bem desenvolvida, palavras se tornaram sinais que levam a reações biológicas. Por exemplo, se alguém diz algo que te envergonhe, o seu sistema imunológico fará a liberação de moléculas como se houvesse um agente patogênico no corpo. Se, por outro lado, alguém diz que você é uma pessoa maravilhosa, uma cadeia química diferente é liberada: endorfinas, oxitocina, entre outros. Pensamentos interferem na biologia e a biologia interfere nos pensamentos. Nosso cérebro é feito para assimilar crenças culturais e a nossa biologia responde de acordo com essas crenças.
"Pensar de forma diferente pode ajudar a prevenir o câncer, aumentar a longevidade e manter a saúde", ressalta Mario Martinez, neuropsicólogo criador da teoria Biocognitiva (Foto: Divulgação)
"Pensar de forma diferente pode ajudar a prevenir o câncer, aumentar a longevidade e manter a saúde", ressalta Mario Martinez, neuropsicólogo criador da teoria Biocognitiva (Foto: Divulgação)
Poderíamos, então, viver mais tempo e de forma mais saudável se tivermos boas experiências na vida?
Sim, porque somos desenhados para termos sentido nas nossas vidas, para sermos amados e para sabermos que podemos contar com outras pessoas que nos valorizem. O sistema imunológico responde melhor quando vivenciamos situações de cooperação do que situações de brigas com outras pessoas.
É sabido que existem duas condições para que um câncer se desenvolva: predisposição genética e a influência ambiental. Poderiam a cultura, as crenças e os processos mentais ser mais uma condição para essas doenças?
Sim: genética é apenas uma predisposição, não uma sentença. Pessoas que têm predisposição ao câncer são, geralmente, pessoas que não cuidam delas mesmos, têm medo de não serem amadas e não impõem limites saudáveis em relação aos outros, além de verem o mundo como um constante perigo. Essas não são causas, mas correlações. Pensar de forma diferente pode ajudar a prevenir o câncer, aumentar a longevidade e manter a saúde.
A cultura e as crenças ou pensamentos seriam condições para o envelhecimento? Assim, poderíamos preveni-lo?
Nos meus workshops, eu ensino como viver com um estilo de corpo e pensamento centenário. Aprendi isso estudando centenários saudáveis ao redor do mundo. Eu descobri que a genética é responsável por apenas 20% da longevidade saudável. Meu argumento é que a longevidade é aprendida culturalmente e que as causas da saúde são herdadas. Mas, nós temos que aprender como desencadear essa saúde que é herdada.
Nos seus estudos da teoria biocognitiva, você trata bastante das estigmas (chagas), como exemplos da teoria. A religião poderia ter um impacto maior no organismo e na saúde em relação à outras relações sociais?
Quais relações sociais poderiam ter um impacto maior na saúde e na longevidade do que a religião? A religião é a crença cultural que o indivíduo tem sobre a vida após a morte e a fonte divina. Se eles associam a fé com um Deus de amor, é mais benéfico, pensando na saúde, do que acreditar em um Deus vingativo ou odioso. A crença mais poderosa é viver uma vida que seja cheia de sentido e significado, com poucas pessoas em que você possa contar e que você sinta que está oferecendo algo de valor através do seu trabalho. Nunca se aposente para ser inativo. Ao contrário, substitua um emprego significativo por outro. Aposentar-se para ver o pôr do sol em lindos lugares sem um significado não aumenta a longevidade. Encontre sentido no seu trabalho e em como você ama os demais.
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