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Com 84 anos, Sebastião Anastácio dos Santos divide o comando das operações da Pipoteca com oito filhos e três netos (Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)
Com 84 anos, Sebastião Anastácio dos Santos divide o comando das operações da Pipoteca com oito filhos e três netos (Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)| Foto: Gazeta do Povo

Não é preciso mais do que alguns minutos de caminhada por qualquer bairro de Curitiba para que você se depare com o icônico pacote roxo de um Pipoteca. Seja em um mercado, em uma banca de revista ou mesmo pelas mãos de um vendedor ambulante, o salgadinho está em praticamente todos os cantos a ponto de se tornar uma espécie de símbolo não oficial da cidade. E, tão tradicional quanto onipresente, a marca carrega também muitas histórias dentro de sua embalagem.

Fundada em 1978, a empresa atravessou gerações, tanto de consumidores quanto de seus proprietários. Atualmente com 84 anos, Sebastião Anastácio dos Santos divide o comando das operações com oito filhos e três netos. E essa relação entre marca e família é tão próxima que, em muitos momentos, se confunde a ponto de se tornar uma coisa só.

Exemplo disso é que, na Vila Fanny, onde seu Sebastião se instalou e permanece por quase quatro décadas, poucos conhecem quem são os Santos, mas todos sabem quem é a família Pipoteca. “No fim, a Pipoteca se tornou mais conhecida que o nosso próprio nome”, brinca Alcione dos Santos, diretor comercial da empresa e um dos herdeiros do “império da pipoca” construído por seu pai.

E o apelido é algo que até mesmo as novas gerações carregam. Matheus Arthur dos Santos, de apenas 18 anos, revela que passou a infância sendo chamado apenas de Pipoteca por amigos no colégio e que esse legado não era esquecido nem mesmo quando ia jogar futebol. “Quando estou jogando, o pessoal tira sarro dizendo que não era para eu pipocar”.

(Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)
(Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)| Gazeta do Povo

Roteiro de novela

E não é difícil entender o porquê dessa relação tão próxima entre família e marca. Além do peso que o salgadinho conquistou no imaginário do curitibano, a Pipoteca se desenvolveu junto com a presença da família Santos no bairro.

Vindo de Santa Catarina, seu Sebastião adquiriu uma antiga fábrica de pipoca que havia ali e foi morar junto da mulher e dos seis filhos dentro da mesma propriedade. “Eu tinha apenas 9 anos quando ele criou a Pipoteca e cresci no meio das máquinas, ajudando em tudo”, lembra Alcione. Alguns de seus irmãos, inclusive, nasceram em meio à produção.

Atualmente, seu Sebastião não mora mais na garagem da empresa, mas se nega a sair de perto dela. A nova casa fica a poucos metros de onde os salgadinhos são produzidos e a tradição de “nascer” em meio à pipoca continua. “Quando nasce algum neto, tem que tirar uma foto em meio aos pacotes”, revela Matheus.

E, como toda grande dinastia, a história da família Pipoteca também tem suas pequenas reviravoltas. O próprio Matheus assume o papel do “herdeiro amaldiçoado”, já que é alérgico a milho e não pode comer nada do que é produzido pela empresa. Diz sentir saudades do salgadinho de manteiga, mas se acostumou com a ideia — e também com as provocações dos amigos.

Em outra virada de roteiro digna de novela, seu Sebastião revela que uma de suas filhas decidiu seguir um caminho diferente dos irmãos e criou a sua própria marca de pipoca. Hoje, ela comanda uma das principais concorrentes, a Karoli. “Mas está tudo bem. No fundo, estamos todos em família”, confessa o patriarca dos Santos.

(Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)
(Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)| Gazeta do Povo

Sucesso por acidente

Embora tenha nascido como uma marca de pipocas doce, foi com o salgadinho de manteiga que a Pipoteca conquistou o curitibano. Atualmente, o sabor já representa 55% de todas as vendas da empresa — o que ajuda a explicar como o pacote roxo se tornou uma espécie de marca registrada. E tudo isso surgiu por acidente.

O formato que lembra uma pipoca, conta Alcione, foi criado a partir de um erro no processo de produção. “Estávamos testando o formato básico do salgadinho, mas deu algum problema na máquina e ele saiu com essa forma diferente”, relembra. Segundo ele, o equívoco agradou e um parceiro decidiu ajustar o equipamento para que a forma ficasse padronizada. “Ele desenvolveu na garagem da sua casa uma máquina que fazia o salgadinho nesse formato e nos ofereceu. No fim, trocamos por um caminhão que tínhamos na fábrica”.

A escolha pelo sabor manteiga também foi outra obra do acaso. Na época, a Pipoteca procurava um novo sabor e alguém surgiu com a ideia. “Nos preocupamos bastante, porque nenhuma criança quer comer manteiga”, destaca o diretor comercial. “Mas apostamos mesmo assim”. Só que o temor estava certo e o salgadinho não fez sucesso. As vendas só foram melhorar quando a icônica embalagem foi desenvolvida. “Foi quando colocamos o pacote roxo que ele popularizou”, revela Paula Porcino, neta de seu Sebastião e que ajuda na parte administrativa da empresa. “Desde então, a cor ficou associada à manteiga em outros produtos também”.

Só que o que realmente torna a Pipoteca conhecida é a sua onipresença. E, nesse caso, nem mesmo os donos da marca sabem explicar como seus produtos conseguem chegar a tantos lugares na cidade — e até mesmo a alguns estados vizinhos. De acordo com Alcione, não há uma grande estratégia de distribuição, mas uma enorme demanda de mercados, lojistas e até mesmo revendedores menores, como donos de bancas de revista. “São eles que nos procuram para vender. É quase como um boca a boca. Sempre foi assim”, justifica Alcione.

(Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)
(Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)| Gazeta do Povo

Em ritmo de dança

Segundo seu Sebastião, a escolha do nome surgiu da estranha combinação de “pipoca” com “discoteca”, em alusão às danceterias que começaram a surgir no Brasil nos anos 70 na onda da novela Dancin’ Days.

Tanto que, na primeira versão, a embalagem trazia estampados os atores John Travolta e Olivia Newton John reproduzindo uma cena do filme Grease: Nos Tempos da Brilhantina. “Depois trocamos para o Pateta e a Minnie, mas mudamos antes que a Disney descobrisse e quisesse direitos autorais”, brinca Alcione.

Edição comemorativa

Prestes a comemorar 40 anos de história, a família Santos já promete algo para comemorar as quatro décadas de Pipoteca. No entanto, nada de embalagem especial ou um novo sabor. De acordo com Alcione Pipoteca, a ideia é aproveitar a data para se aproximar ainda mais da cidade. “Ainda não temos nada certo, mas queremos fazer algo relacionado a Curitiba, que nos abraçou tão bem nesse tempo todo”, diz. “Já fazemos parte da cidade, então queremos fazer algo para agradecer.

Veja o vídeo da produção da Pipoteca:

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