Comportamento

Amanda Milléo

Sem praia, piscina ou rio? Refresque-se com um piquenique na praça neste verão

Amanda Milléo
28/12/2018 12:00
Thumbnail

Contra o calor do verão, nada melhor que curtir praças e parques para conseguir se refrescar (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)

Quem procura por frescor no meio do verão, especialmente se a cidade não oferece praia ou muitas piscinas, a resposta é simples: vá para as praças e parques. Árvores que formam sombras enormes e grandes áreas verdes são os cenários ideais para um piquenique em família, e a prática vem ganhando cada vez mais adeptos.
Sob a sombra das árvores no Bosque do Papa, os amigos Dagoberto de Dios Hernandez e Edna Bravo, ambos doutorandos de 32 anos, riam e aproveitavam o dia lindo de verão compartilhando um chimarrão – ou um mate, para quem o conhece pelo dialeto sulista. Para os mexicanos, aproveitar a tarde em uma praça não é uma atividade que lhes era comum quando viviam no país de origem.
“Lá, parques como esse não tem muitos. Vivo em um estado no interior, e mesmo na capital os parques são mais voltados às crianças, com brinquedos e parquinhos. Eu acho muito interessante ver essa apropriação dos espaços públicos. Já morei em Porto Alegre durante dois anos e foi chocante ver as pessoas nas praças pela primeira vez”, cita Dagoberto, enquanto preenchia o chimarrão com a água quente.
Dagoberto e Edna são mexicanos e aprenderam a curtir os parques só quando se mudaram para o Brasil (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
Dagoberto e Edna são mexicanos e aprenderam a curtir os parques só quando se mudaram para o Brasil (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
Entre os amigos, sacos com sementes e frutas secas chamam o olhar. Em um deles está o milho torrado, explica Edna, que completa: “É uma delícia! Também costumo trazer biscoito, ameixa, água e um livro para passar o tempo.” Quando está com amigas, o piquenique costuma durar o tempo da fofoca, diz a estudante: “A gente fica umas três horas, e é tudo muito espontâneo. Combinamos em um minuto, no seguinte estamos pegando a toalha para esticar no chão.”

Museu Oscar Niemeyer

Com a mesma espontaneidade veio a atriz Karol Merencio , de 21 anos, ao parcão nos fundos do Museu Oscar Niemeyer (MON, para os mais chegados). Sozinha, a menina esticou a toalha e dispôs sobre ela tudo que precisava para uma tarde agradável: um pote de morangos prontos para virarem lanche, uma garrafa de 1,5 L de água – “tenho muita sede”, justifica – e um livro quase ao final.
“Venho com frequência aqui, porque moro perto. Eu sinto muita falta da grama, do contato mais próximo com a natureza, porque moro em apartamento aqui em Curitiba. Sou, na verdade, de Foz do Iguaçu e lá vivia no quintal de casa”, explica Karol.
Curtir a tarde de calor sozinha não é problema nenhum para a atriz, que prefere aproveitar o silêncio e o tempo consigo mesma. “Quando estou sozinha, gosto de fazer aquilo que eu quero, como terminar esse livro”, diz a atriz, ao que a equipe do Viver Bem se apressa a conceder seu desejo. O livro que está encantando a menina? “Em algum lugar nas estrelas”, da autora norte-americana Clare Vanderpool.
Karol, sempre que pode, visita os parques -- especialmente o parcão atrás do MON, para curtir um tempo sozinha ou na companhia de um bom livro (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
Karol, sempre que pode, visita os parques -- especialmente o parcão atrás do MON, para curtir um tempo sozinha ou na companhia de um bom livro (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
Karol mal se dá conta, mas a um metro e meio de distância a pequena Luana Luz, de três anos, corre com uma bola nas mãos. Ela chuta, pula, corre, rola na grama, e volta descabelada aos braços da mãe, Kali Ananda, professora de yoga de 34 anos. Embora morem em uma casa na cidade, o espaço não tem um quintal tão grande para Luana gastar as energias quanto os fundos do MON.
“Hoje trouxemos só água porque acabamos de almoçar. Mas geralmente, quando nos preparamos para um piquenique, trazemos frutas e outros lanches para que ela [a pequena que agora joga a bola para nossa fotógrafa pegar] não sinta fome. A gente vem direto para cá, às vezes de bicicleta, outras a pé. É o momento de botar o pé na grama, e entrar em contato com a terra”, diz Kali.
Mãe e filha, Kali e Luana se divertem no parque, em um piquenique improvisado depois do almoço (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
Mãe e filha, Kali e Luana se divertem no parque, em um piquenique improvisado depois do almoço (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
Luana, no alto dos seus três anos, está bastante acostumada com a natureza e avisa que, com ela, não existe essa coisa de brincar sem se mexer. “Na escola eu faço mais bagunça. A gente faz banho de terra”, diz a pequena, entre pulos. A mãe explica: “no colégio dela, há uma atividade de contato com a natureza e as crianças passam terra com água no rosto”. Se há algo mais refrescante, a gente desconhece.
Mais adiante, quatro amigas dividem espaço com algumas garrafas de refrigerante e umas vasilhas vazias. “Era para ter bolachas, salgadinhos, e outras coisas, mas eu me esqueci de trazer”, justifica Letícia Taborda, estudante de 19 anos – recém-completos. O encontro com as amigas, inclusive, foi a maneira que elas encontraram para comemorar o aniversário de Letícia.
Para algumas, o piquenique era a primeira visita ao parcão do MON. A escolha pelo local único – visto que as jovens poderiam preferir muito mais uma baladinha ou barzinho – se deveu justamente à tranquilidade do local. “A maioria do grupo não gosta muito de bar, e muitas não conheciam aqui, então viemos para cá. Aqui tem mais sombra e nós só nos esquecemos de que teriam cachorros”, relata Letícia, enquanto recebia um agrado de um cãozinho que procurava por restos de comida.
Grupo de amigas se reúne na grama atrás do museu para aproveitar a tarde e comemorar o aniversário de uma delas (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
Grupo de amigas se reúne na grama atrás do museu para aproveitar a tarde e comemorar o aniversário de uma delas (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)

Parque São Lourenço

À procura de mais famílias que buscassem as praças e parques para aproveitar o verão, fomos ao parque São Lourenço. Os amplos espaços verdes, circundados por árvores antigas, fazem do parque um local movimentado – e estava assim, mesmo em uma data tão próxima do fim de ano. Apenas um detalhe precisa ser lembrado por todos que passam pelos portões do parque: repelente em abundância.
O casal de amigos Jovani e Luciana Semeão, e Rodrigo Amálio e Lucineia Truilho, não foi pego de surpresa. Com as toalhas unidas para descansarem em uma parte mais alta do parque sob as árvores, os amigos conversavam enquanto os filhos corriam incansavelmente em um espaço mais descampado – próprio para uma partida de futebol.
Famílias vieram de São José dos Pinhais para aproveitar as praças e parques de Curitiba e se refrescar com as crianças (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
Famílias vieram de São José dos Pinhais para aproveitar as praças e parques de Curitiba e se refrescar com as crianças (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
“O que era mais gostoso da nossa infância era estar perto da natureza, subir nas árvores, curtir um balanço, uma rede. E isso eles [os filhos] têm pouco! E temos que aproveitar esses espaços que temos, e trazer as crianças para que elas curtam também”, conta Luciana, secretária de 31 anos, ao lado do marido, Jovani, contador, de 48 anos.
Embora a cidade de origem dos casais seja São José dos Pinhais – e eles curtam os parques da cidade também – acharam que o São Lourenço teria mais espaço para as crianças, e acertaram. “Aqui é maior, e mais calmo. Dá para deixar eles mais livres”, diz Lucineia, recepcionista de 29 anos, ao lado do marido, Rodrigo, supervisor de 42 anos.
Mesmo com o vento batendo forte, e as árvores dando sinais de que uma chuva estava por vir, o casal Doroti Costa e Luiz Carlos Costa estava apenas começando a tarde no São Lourenço. Na companhia da Fofa, (uma “Golden Retriever 70%”, diz Luiz, que reforça a origem vira-lata do animal), eles esticaram uma toalha de mesa sob a grama, e aproveitavam para ver os patos que mergulhavam no lago em frente.
O casal Luiz e Doroti são assíduos frequentadores das praças, especialmente na presença da Fofa, o animal de estimação (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
O casal Luiz e Doroti são assíduos frequentadores das praças, especialmente na presença da Fofa, o animal de estimação (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
“Temos o costume de irmos a todos os parques, trazemos muitos parentes também, especialmente aqueles que vêm de outras cidades. Mas, quando estamos com a Fofa, escolhemos aqui, que tem um espaço para ela aproveitar também”, lembra Luiz, fisioterapeuta de 59 anos.
Desta vez não haviam trazido nenhuma cesta com frutas ou lanches, mas isso não significa que não saiam dali reabastecidos. “Vendo a natureza, o verde, isso estimula a produção de endorfina no organismo. Por isso que estamos sempre por aqui”, completa Doroti, de 57 anos, dona de um SPA de tratamentos naturais.
Fofa é quem mais adora passear pelo parque para espantar o calor (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
Fofa é quem mais adora passear pelo parque para espantar o calor (Foto: Nay Klim / Gazeta do Povo)
LEIA TAMBÉM