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Na sua essência, palhaços são figuras que remetem à infância. A combinação de cores, formas e truques sempre deixou muitos pequenos vidrados naquele que ainda é a alma do circo e que faz parte da formação de diversos atores, como Domingos Montagner, falecido recentemente. O palhaço também simboliza a alegria e a tristeza, a sabedoria e a ignorância. Ele é o representante dos opostos complementares. Mas quando em vez de sentimentos introspectivos, ele traz o medo e o susto?

Esse é o caso dos inúmeros ataques que estão acontecendo em lugares como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá. Existem boatos de pessoas que viram essas figuras no Brasil. Sujeitos, vestidos de palhaço, usando máscaras com expressões macabras, resolveram assustar os outros nas ruas. Mas isso já está causando violência, brigas e mal-estar.

O site americano Heavy.com fez um levantamento e concluiu que pessoas foram atacadas em 40 dos 50 estados americanos, tanto nas regiões rurais como nas urbanas. No Canadá, cidades como Toronto e Ottawa já receberam esses ataques. Nesta quarta-feira (12) um jovem chamado Owen Russell (17) foi atingido em Rotherham, no Reino Unido, e ficou com ferimentos na cabeça. O adolescente estava com uns amigos quando ouviu uma risada sinistra. Ao falar com a pessoa vestida de palhaço, ela se sentiu encurralada, pegou um galho de árvore e o atingiu.

No último domingo (9) foi publicado no Youtube um vídeo em que um palhaço é espancado por um grupo na Austrália. O vídeo já foi retirado da plataforma, mas as autoridades preveem que o problema da violência envolvendo pessoas fantasiadas deve persistir, pelo menos, até o Halloween (31 de outubro). Recentemente, circulam algumas fotos de supostos ataques no Brasil, mas por enquanto parecem ser apenas boatos.

Com a palavra, os que sofrem

Esse tipo de história alimenta o medo de muitas pessoas que não gostam de palhaço. A estudante Fernanda Schollemberg (19) é uma destas que não consegue conviver com os seres coloridos. “Não sei desde quando tenho medo, só sei que cresci me sentindo desconfortável ao lado de palhaços, minha mãe sempre contratava nas minhas festinhas e nunca gostei. Chegava a chorar quando criança”, conta Schollemberg.

Ela diz que o dia que mais teve medo foi quando um palhaço a seguiu em Balneário Camboriu-SC. ” Lá é comum encontrar esses palhaços fazendo brincadeira na rua. Quando ele me seguiu era obviamente uma brincadeira, mas realmente não gostei”, explica. A estudante ainda diz que ficar perto dessas pessoas causa medo e desconforto. “Não os vejo como pessoas boas”, finaliza a jovem.

Já no caso do coordenador de mídia e mídias sociais Thiago Soares (29), o medo dessa criatura beira o desespero. “Ao me deparar com um palhaço eu acabo agindo com agressividade ou fico paralisado. Na maior parte das vezes é o último”, explica. Ele conta que se sente desconfortável como qualquer pessoa fantasiada, principalmente quando não é possível ver o rosto. Mas o problema mesmo é com o palhaço.

Soares também não sabe da onde vem o medo, só lembra que ele se intensificou ainda quando pequeno depois de ver o filme It – Uma obra prima do medo, baseado no romance de Stephen King. Depois que os ataques começaram este ano, muitos pensaram que era uma ação promocional do relançamento do filme. “Acho que se alguém tentasse me assustar dessa forma e eu estivesse de carro, provavelmente iria batê-lo, pois iria ficar paralisado”, conta o coordenador.

Ele e suas irmãs nunca puderam ter festa com animador que estivesse fantasiado de palhaço, mas mesmo assim Soares não procurou tratamento. “Me perturba muito isso que está acontecendo pelo mundo. Espero que pare e que não chegue a ocorrer comigo”, finaliza.

Da onde vem o medo?

A psicóloga Semiramis Vedovatto diz que o medo de palhaço normalmente surge na infância, em crianças que são mais tímidas. “É causado por alguma experiência desagradável, como uma aproximação abrupta, que assusta a criança. Outro motivo é quando os pais não avisam sobre o palhaço e ele resolve pegar o pequeno no colo”, conta Vedovatto.

Quando patológico, este medo se trata uma fobia específica chamada coulrofobia. É o que explica a psicóloga Isabela Corrêa. “O medo pode estar relacionado às fantasias que se gera a partir destas roupas e maquiagens exageradas, da mesma forma que muita criança tem medo do Papai Noel”, explica Corrêa que defende que o medo também pode ser gerado por causa dos filmes de terror que existem com esse tema. Para superar, é preciso procurar ajuda de um psicólogo.

Vedovatto diz que este medo pode se desenvolver em adultos que passam por uma situação de stress, como estas que estão acontecendo ao redor do mundo. “Que prazer é este de assustar e ameaçar o outro?”, finaliza a psicóloga questionando sobre a sociedade atual.

 

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