Comportamento

Rodrigo Batista, especial para Gazeta do Povo

Visitar famílias para ver a decoração e outros hábitos que surgiram com o Natal

Rodrigo Batista, especial para Gazeta do Povo
23/12/2017 06:00
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Os presépios foram os primeiros ícones a serem introduzidos nas comemorações natalinas do Brasil. Foto: Pixabay.

Árvore de Natal, presépio, guirlandas, pisca-pisca e Papai Noel. São muitos os elementos que formam uma decoração e a tradição natalina no Brasil e em diversos países do mundo. As famílias decoram suas casas a espera da data que celebra o nascimento de Jesus Cristo. Mas a incorporação desses elementos à cultura brasileira ocorreu ao longos dos tempos com influência católica e protestante.
O Viver Bem entrevistou o professor do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), José de Almeida, que explicou alguns detalhes sobre as primeiras influências desta que é a mais importante celebração do cristianismo no Brasil.

Presépio é a tradição mais antiga

Surgido na Idade Média e feito pela primeira vez por Francisco de Assis, em uma gruta na Itália, o presépio teve como principal consequência a humanização do Natal dentro do cristianismo medieval, principalmente por retratar em imagens as figuras mais conhecidas desta festividade: o menino Jesus, Maria, José e os Reis Magos.
Essa prática ficou conhecida, após a reforma protestantes, por ser característica do catolicismo, já que os reformistas abdicaram do uso de imagens em suas celebrações.
Como um país nascido com a influência do catolicismo, o Brasil teve como primeiro e mais forte elemento nas celebrações natalinas o presépio. Ainda na época do Brasil Colonial, segundo o professor da UnB, começaram as primeiras manifestações de cunho religioso com uso de presépio por influência dos padres Jesuítas. “Os padres realizavam apresentações teatrais com os índios, vestidos de anjos”, explica o professor. Desde então, as casas nos centros urbanos passaram a ser enfeitadas com os presépios ainda no Brasil Colônia, em referência ao nascimento de Cristo.

Conhecer presépios: motivo para namorar

Se hoje as celebrações de Natal remetem mais às crianças, com entrega de presentes e a chegada do Papai Noel, tanto na época colonial quanto no Brasil Império e até a década de 1940 do século 20, a montagem de presépios tinha outro propósito além do Natal: o namoro e o casamento.
Segundo Almeida, como era comum que as famílias arrumassem as casas com presépios suntuosos, os rapazes e as moças utilizavam deste momento para se visitar e iniciar um namoro. “Havia uma distância grande entre o mundo do homem e o da mulher. Visitar as famílias para conhecer os presépios era um estímulo natural para o namoro e o noivado”, acrescenta.
As primeiras árvores de Natal chegaram no Brasil por causa da realeza imperial. Foto: Pixabay.
As primeiras árvores de Natal chegaram no Brasil por causa da realeza imperial. Foto: Pixabay.

Árvore de natal: influência europeia na realeza

Somente no século 19 é que a árvore de Natal chegou ao Brasil. Surgida por influência da Antiguidade, em que as árvores mais fortes e que resistiam ao inverno rigoroso eram utilizadas para afastar possíveis espíritos ruins, bruxas e doenças, foi disseminada na Alemanha do século 16. Isso aconteceu depois que uma história de Martinho Lutero se tornou popular: o padre responsável pelo início da Reforma Protestante teria usado pela primeira vez em sua casa um pinheiro rodeado com velas.
A tradição se espalhou na Alemanha, chegou aos Estados Unidos e se tornou popular na Inglaterra e em outros países do mundo no século 19, quando a Rainha Vitória, que governava o Império Britânico naquela época, apareceu em uma foto de um jornal ao lado de uma árvore natalina com sua família.
A fama chegou ao Brasil primeiramente na realeza imperial, segundo o professor da UnB, já que a elite naquela época queria acompanhar as novidades e estar atenta ao que a moda europeia ditava. Com isso, práticas que não eram exclusivamente católicas começaram a ingressar nas comemorações natalinas brasileiras.
Segundo o professor, a Igreja Católica não teria tomado uma atitude repressiva com essa nova tradição. A principal referência seria do Monsenhor Gióia, de São Luiz do Paraitinga, que aliava ensinamentos de catequese para crianças com as celebrações de Natal. “No início do século 20 [naquela cidade], havia o costume de se entregar presentes para crianças embaixo de uma árvore [o que remete ao Natal e ao Papai Noel]. A Igreja passou a perceber que não fazia sentido reprimir”, explica.
A partir disso, pouco a pouco a tradição natalina no Brasil foi ligada a entrega de presentes às crianças, algo que já era comum em outros lugares do mundo, em que havia forte presença do Papai Noel. Da realeza, as árvores de Natal também foram disseminadas para toda a sociedade, o que tornou o Natal no Brasil cada vez mais iluminado e decorado.
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