Comportamento

Raquel Derevecki

Primeiro dia de aula: quando as mães sofrem mais do que os filhos a dor da separação

Raquel Derevecki
04/02/2019 07:00
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Uma boa adaptação da criança na escola, também depende do sentimento da mãe. Foto: Bigstock

Levar as crianças pela primeira vez à escola é uma tarefa difícil para muitas famílias. Enquanto os pequenos estão animados para conhecer os colegas, professores e as novas atividades que a vida escolar proporcionará, o coração da mãe (ou do pai) fica apertado com incertezas a respeito do bem-estar do filho, além de uma forte sensação de perda, como se o laço que os une estivesse prestes a arrebentar. Se não for superado, esse sentimento pode afetar as crianças e dificultar a adaptação no ambiente escolar.
De acordo com a psicóloga Joyce Pescarolo, a dificuldade de aceitar a separação ocorre porque a maternidade tem um significado muito forte para a mulher. “Existe a expectativa social de que as mulheres precisam ser mães para serem completas. É como se fosse uma maioridade moral, um momento muito importante da vida em que elas realmente se sentem completas”, afirma.
Só que o fato de deixar a criança sozinha no ambiente escolar quebra essa completude e muda a maneira de a mãe visualizar seu papel na vida da criança.

“Ela percebe que o filho terá outras formas de socialização e que poderá sobreviver sem sua presença constante. Isso gera muito conflito para as mães porque fere aquele sentimento de que a criança depende dela para tudo”, explica a psicóloga.

Foto: Bigstock
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Essa mudança repentina de percepção faz com que algumas mães fiquem muito tristes no primeiro dia de aula do filho e acabem interferindo na maneira com que os pequenos enxergam a situação.

“Muitas vezes o filho está bem, mas o drama psicológico criado pela mãe faz com que ele comece a chorar. As mães acabam sabotando esse momento de forma consciente ou inconsciente”.

A dona de casa Luciana Rodrigues Squioquet sabe bem o que isso significa. No dia em que levou seu primogênito de quatro anos para a escola, um misto de emoções tomou conta de seu coração. “No caminho eu estava bem ansiosa, mas ainda estava bem. Eu sorria e tirava fotos”, recorda.
O problema, no entanto, ocorreu quando ela viu Rubens Squioquet soltar sua mão e sair feliz para brincar com os colegas. “Ele já conhecia algumas crianças e foi correndo para o pátio. Aí veio um turbilhão de coisas na minha cabeça e eu entrei em pânico. Comecei a chorar muito”.
Diante da situação, os funcionários da escola pediram que ela se afastasse para que o filho não a visse naquele momento. “Ele estava super bem, mas eu estava apavorada com o sentimento de que eu não era uma boa mãe e de que não podia deixar ele ali porque sentiria minha falta ou poderiam judiar dele. Foi um dia que demorou muito para passar”, lembra Luciana.
A dona de casa Luciana Rodrigues Squioquet teve dificuldades para aceitar que os filhos precisavam ir para a escola. Foto: Arquivo Pessoal
A dona de casa Luciana Rodrigues Squioquet teve dificuldades para aceitar que os filhos precisavam ir para a escola. Foto: Arquivo Pessoal

O que fazer?

Segundo a psicóloga, não há uma fórmula pronta para lidar com esse sentimento de perda porque cada caso é diferente. No entanto, uma sugestão válida para as mulheres que se dedicam exclusivamente aos filhos é procurar outras atividades para ocupar a mente durante as horas que ficará longe dos filhos.

“A mãe precisa se cuidar, ter outros interesses e se conhecer um pouco melhor, entendendo qual é o papel da maternidade na vida dela”, aconselha a especialista.

Luciana fez isso. Depois que seu filho caçula – Pedro Squioquet – também ingressou na educação infantil, ela decidiu dedicar o tempo que sobrava a algo que lhe trazia alegria: a culinária. “Sempre gostei de cozinhar, testar pratos diferentes e de inventar, mas não tinha muito tempo. Então, aproveitei para me dedicar mais a esse hobby”, relata.
Segundo ela, os sentimentos de tristeza e saudade não sumiram da noite para o dia, mas, aos poucos, foram mudando. “Claro que a preocupação de mãe nunca acaba, mas a gente sabe que é o melhor para eles e que precisamos incentivá-los”, garante Luciana.
Nos casos em que a mãe não consegue lidar com a perda sozinha, a psicóloga orienta a realização de terapia para que as emoções não afetem a criança até a vida adulta. “Há casos, inclusive, em que as mães mantêm esses sentimentos por muitos anos e até sabotam a relação do filho com a mulher por meio de uma relação ruim com a nora. Então, é importante buscar tratamento o quanto antes”, aconselha.
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