Comportamento

Dayane Saleh, especial para a Gazeta do Povo

Punir errado pode ser prejudicial ao desenvolvimento do seu filho

Dayane Saleh, especial para a Gazeta do Povo
13/11/2016 09:00
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Foto: Bigstock

Em um relacionamento é comum não ter sempre as expectativas correspondidas pelo outro. Isso porque as pessoas esperam e priorizam características e reações diferentes. Ao ficar bravo com alguém a consequência frequentemente é se fechar ou querer fazer o outro sofrer para aprender a não ferir mais. Porém, muitas vezes, a solução mais eficiente é o diálogo. É preciso esclarecer mostrar o que causa mágoa para que as atitudes indesejadas não se repitam.
De acordo com a psicóloga Eloá Andreassa as punições podem ser físicas, verbais e psicológicas. “Elas vêm como produto de um comportamento errado da outra parte. Quem pune busca corrigir as ações de quem estava errado“, diz a profissional especializada em relacionamentos de pais e filhos e casais.
Ela explica que é preciso ser claro quanto ao que se espera para não culpar o outro por algo que não sabia. Com crianças, é necessário avisá-las previamente sobre as consequências das ações. “Por exemplo: ‘Se você bater no seu irmão, não vai poder brincar com seu amigo'”, exemplifica a psicóloga que complementa dizendo que existem situações que os pais se irritam demais com os filhos e os punem com extrema severidade. “A criança fez algo maior e, então, os pais deixam-na de castigo por seis meses. Isso não é educativo e deixará o menor revoltado”, detalha.
Tipos de punição
As punições físicas ou deboches são as piores, porque prejudicam a auto-estima e humilham. “Algumas frases como: ‘Você é idiota e não aprende; nunca vai ser nada na vida; olha só, pensa que é esperto. Quando essas atitudes forem com uma criança, elas podem resultar num traço de caráter denominado masoquismo“, conta.
Nesse caso, quando se torna adulto a pessoa se menospreza e acaba seguindo caminhos que levam à tristeza, pois conclui que é merecedora do sofrimento. Outro erro é ignorar o filho, agindo como se a criança não estivesse presente, e não falando nem olhando para ela. “Isto tem um efeito devastador, o pequeno se torna inseguro, ansioso e depressivo. Acaba se desenvolvendo para se tornar aquele que faz de tudo para agradar os outros, mesmo com prejuízo para si”, conta Andreassa.
O Doutor em Psicologia Escolar, da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade Cristiano da Silveira Longo, em sua obra “A Punição Corporal Doméstica de Crianças e Adolescentes” defende que as crianças e adolescentes são punidos fisicamente pois são consideradas seres inferiores. Por isso, podem ser mal-tratados com desrespeito e humilhações.
“A punição corporal doméstica funciona como instrumento para o adestramento familiar, onde as crianças aprendem a suportar um cotidiano de horrores e humilhações: a criança afirma sua capacidade de resistir ao medo e à violência, a conviver com ela, a percebê-la como parte das relações hierárquicas, desiguais, com os pais. Trata-se de um aprendizado do terror e do medo”. Longo também afirma que há um teor de tortura nessas atitudes por parte dos pais, o que causa grande mágoa nos menores.
De outro lado, os filhos podem punir os pais tomando atitudes que os pais desaprovam. “Como sair com más companhias e  usar drogas, por exemplo”, exemplifica a psicóloga. Ela defende que depois errar, o melhor é a criança aprender o que deve ser feito para reparar. “Se bateu no irmão, é preciso assumir e se desculpar, além de fazer algo de positivo para ele. Isso é muito melhor que ser impedido de brincar com seus amigos”, opina a psicóloga.
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Relacionamentos amorosos
Em relacionamentos de casais as punições também podem ser longos períodos de silêncio, além das ameças de separação e retaliação, até mesmo a traição. “Um adulto não deveria punir o outro, uma vez que são duas pessoas em iguais condições, não há uma hierarquia entre elas. Se magoou o parceiro é necessário fazer algo para reparar a situação, e mostrar que de fato mudou”, diz Andreassa que acredita que quem se sentiu prejudicado pela atitude do outro precisa expressar a mágoa e a raiva para não punir.
A melhor solução para quando se sentir magoado ou lesado pelo outro é a conversa. Apontar o erro e o que espera que a pessoa faça para corrigir é uma estratégia. “A punição deveria ser deixada para a delinquência e para os crimes”, finaliza a profissional. Relacionamentos com excesso de punição são abusivos e causam problemas psicológicos em quem sempre é culpabilizado. É necessário atentar para a gravidade dos atos e se eles condizem com as punições.