Comportamento

Katia Michelle, especial para Gazeta do Povo

A dor de perder (para a morte) o grande amor

Katia Michelle, especial para Gazeta do Povo
02/06/2016 14:59
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Enfrentar a perda e o vazio é essencial para seguir em frente e superar a situação. Foto: Visualhunt

Quem ainda não vivenciou um verdadeiro amor, pelo menos já ouviu falar no que esse sentimento é capaz de fazer com as pessoas: é a tal sensação de liberdade e plenitude que toma conta do coração e da alma. Sem devaneios ou com muitos deles. Mas e quando  esse sentimento é interrompido por força do destino, em vida ou em morte, como lidar com o turbilhão de emoções?
A terapeuta holística Marina Fontoura, de Curitiba, ressalta que ninguém precisa lidar com essa situação sozinho. “Seria muito cruel. É uma mudança e uma transformação muito grande. Somos seres sociais e contar com amigos e familiares é fundamental para superar esse momento”, revela.
Para a terapeuta, o ideal é procurar ajuda imediatamente após a perda. Ela reforça que todo “luto” tem o seu tempo, diferente para cada pessoa, e quem está por perto deve respeitar a individualidade e o processo de quem está sofrendo.
Marina Fontoura: “É preciso viver o luto, sem cobranças. Assim como uma vida leva nove meses para ser gerada, lidar com a perda de alguém também leva um tempo que precisa ser respeitado". Foto: Felipe Fontoura
Marina Fontoura: “É preciso viver o luto, sem cobranças. Assim como uma vida leva nove meses para ser gerada, lidar com a perda de alguém também leva um tempo que precisa ser respeitado". Foto: Felipe Fontoura
Marina explica que a morte, simbólica ou real, deve ser encarada de frente e que a pessoa que está lidando com a separação física precisa praticar o desapego. “É preciso se desacostumar com a presença física da pessoa e saber que uma nova etapa está por vir. Não é fácil perder alguém, mas lidar com todas as emoções envolvidas com essa perda, como culpa, raiva, mágoa e tristeza, é fundamental para superar essa fase”, diz.
Amigos e familiares devem respeitar esse processo e não forçar a situação para que a pessoa “fique bem”. “É preciso viver o luto, sem cobranças. Assim como uma vida leva nove meses para ser gerada, lidar com a perda de alguém também leva um tempo que precisa ser respeitado. É o tempo do desapego”, afirma a terapeuta.
Adeus cedo demais
É o que está acontecendo – esse “tempo do desapego” – com a produtora de eventos Elaine Minhoca de Lemos, de 46 anos. Em janeiro desse ano, ela se deparou com a morte repentina do noivo André de Castellano. “Passei uma semana sem sair da cama e sem tomar banho”, lembra. Apesar de todo sofrimento, Elaine decidiu lidar com a situação com a leveza do amor que sentia pelo companheiro.
Elaine e o noivo André. "O amor que sinto por ele, continua aqui", ressalta a produtora de eventos. Foto: arquivo pessoal.
Elaine e o noivo André. "O amor que sinto por ele, continua aqui", ressalta a produtora de eventos. Foto: arquivo pessoal.
“Meu amor por ele continua aqui. Fica a saudade e o sentimento vai se transformando. Contar com minha família e meus amigos está sendo fundamental para atravessar esse momento”, diz. Elaine viveu uma intensa história de amor, a que ela considera a mais verdadeira de todos os seus relacionamentos. Conheceu André por meio de amigos em comum nas redes sociais e passou seis meses conversando virtualmente, antes de decidir se encontrar pessoalmente. “Quando o vi, já sabia que tinha me apaixonado”, diz.
Skatista e fotógrafo especializado no esporte, André já tinha passado por um transplante de rim antes de conhecer Elaine e estava com a saúde frágil. “Mas a gente sabia que ele ia se recuperar e ele melhorou muito durante nosso relacionamento”, lembra a produtora. Em janeiro deste ano, porém, depois de ser internado para realizar alguns procedimentos médicos de rotina, ele teve uma parada cardíaca.
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A morte pegou de surpresa a todos. Os dois tinham feito festa de noivado, uma tatuagem de alcachofra em conjunto (foi a iguaria servida no primeiro jantar a dois) e tinham planos para o futuro. Falar sobre o assunto ainda faz com que os olhos de Elaine se encham de lágrimas, mas ela salienta o quanto conversar está sendo fundamental para que ela se recupere. “Hoje estou tendo uma vida funcional de novo. Trabalho, tenho vida social, mas sei que o amor que sinto por ele vai continuar”, diz.
Casal chegou a fazer uma tatuagem de alcachofra no braço: uma homenagem ao cardápio do primeiro encontro. Foto: Arquivo pessoal.
Casal chegou a fazer uma tatuagem de alcachofra no braço: uma homenagem ao cardápio do primeiro encontro. Foto: Arquivo pessoal.
Passar por esse momento está fazendo com que ela analise o quanto as pessoas sofrem por “bobagens” e situações que podem ser resolvidas. “Agora procuro superar a culpa. Sei que não adianta culpar ninguém. Eu fiz tudo que podia enquanto ele estava aqui. Não foi culpa minha ele ter partido e muito menos dele. O que eu sentia continua aqui. Estou aprendendo a transformar esse sentimento, mas tudo tem seu tempo”, conclui.