Comportamento

Luisa Nucada, especial para a Gazeta do Povo

Quando os bebês mordem para se expressar

Luisa Nucada, especial para a Gazeta do Povo
28/09/2014 03:03
Ao menos uma vez por mês, o pequeno Bernardo Umbelino Consoli, de 1 ano e 10 meses, volta da escola com uma marca de dentada no braço, conta sua mãe, a designer de interiores Julia Varaschin. “Ele é muito carinhoso e afetuoso. Geralmente, vai abraçar um amiguinho e acaba levando uma mordida”, explica. Apavorada mesmo, ela ficou quando o viu arranhado do rosto aos ombros. “Aí eu virei uma leoa. Quis até conversar com os pais da coleguinha que o machucou, para saber o que estava acontecendo”, conta a designer, que acabou pedindo a ajuda da equipe da escola para resolver o problema.
Esse tipo de situação é natural entre crianças de 1 a 3 anos, diz a psicóloga da pré-escola Recanto Infantil, Angela Fleischfresser Pellegrini de Souza. “Nessa idade, elas estão na fase oral, em que sentem tudo através da boca.” Experimentam, lambem, beijam e, é claro, mordem, o que nem sempre significa uma agressão.
De acordo com a especialista, as crianças ainda não sabem expressar seus sentimentos através das palavras. “Puxar o cabelo, morder e dar tapas é simplesmente uma forma inadequada de socializar, de se relacionar”, explica Angela. Ela lembra que, nesta fase, os pequenos são extremamente egocêntricos e estão aprendendo a conviver com o outro. “Eles lidam com outra criança como se ela fosse um objeto, puxam, empurram, apertam”, exemplifica.
A psicóloga Camila Andrade Machuca concorda que esse comportamento é normal. “Crianças em idade pré-escolar usam as manifestações corporais como recurso para comunicação ou expressão de sentimentos, como o descontentamento”, esclarece. Mas se as práticas agressivas continuam depois dos 4 anos, é aconselhável procurar um especialista. O comportamento negativo pode ser uma tentativa de chamar a atenção, indicando ansiedade ou sentimento de rejeição. “A criança às vezes não sabe reconhecer a emoção que está sentindo, e usa esses recursos corporais como um pedido de ajuda”, alerta Camila.