Comportamento
Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
Quem casa requer calma
O casal Isadora Lopes e Edson Lopes Junior, casados há 4 meses, ainda aprende a conviver com as manias um do outro. Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Os desafios dos recém-casados (e como enfrentá-los)
Antes do casamento tudo é muito mais fácil, ambos satisfazem com mais zelo e atenção as necessidades e desejos um do outro, a responsabilidade das decisões é mais leve, e quando se desentendem, os parceiros podem sair de perto ou até terminar o relacionamento, se necessário. A pressão é menor e ambos ainda sentem como se estivessem em uma continuação da fase de “conquistar” o outro. Durante o primeiro ano de casamento, os parceiros têm de fazer negociações diárias de pequenos e grandes assuntos, e trabalhar as constantes desilusões, pois o outro não é “tão carinhoso, generoso ou divertido” quanto parecia antes do casamento. Isso também é muito natural, pois os traços mais positivos da personalidade sempre aparecem com mais evidência durante a fase inicial da relação e os mais “autênticos” surgem quando os parceiros precisam aprender a ceder, em prol da satisfação conjugal.
O que mais costuma aparecer nesse momento é a forma como cada um equilibra a satisfação das próprias necessidades com as necessidades do parceiro. Esse comportamento normalmente muda mais nos parceiros que costumam ser mais impositivos e agressivos, ou que pensam mais em si. Caso o outro também tenha um perfil mais impositivo, ambos tenderão a competir pela satisfação das suas vontades, causando conflitos, sempre proporcionais às dificuldades de negociação de ambos. Há alguns sinais que, quando passam a ocorrer com frequência, devem ser tratados com atenção: silêncios mito prolongados em momentos que poderiam ter diálogos, sentir-se desconfortável no silêncio (quando está tudo bem, o silêncio traz paz), quando um ou ambos perdem a motivação para expressar sentimentos e pensamentos por medo das críticas do outro, quando começam a fazer ironias ou sarcasmos, críticas ao parceiro na frente de outras pessoas e discussões sobre quem tem razão ao invés de resolver o problema. A comunicação é um termômetro geral do relacionamento.
As diferenças entre opostos sempre têm uma função reguladora que leva a movimentos de constante adaptação e readaptação. A maioria dos casais considera suas diferenças como um indicador de que a relação pode não dar certo. Porém, quando elas surgem de uma forma mais intensa é uma oportunidade de ajuste nas suas formas de pensar, sentir ou se comportar. Portanto, quanto maiores forem as diferenças, maior a polarização de comportamentos, e então maior será a oportunidade de potencializarem suas virtudes. Em todo relacionamento de longo prazo ambos os parceiros passam por uma profunda transformação psicológica, mesmo que não percebam. Quem deve ceder? Ambos, alternando quem irá ceder em cada situação, considerando o peso que as necessidades têm para cada um.
Quando jovens, a maioria das pessoas ainda está buscando reafirmar o seu próprio valor e isso faz com que tenha mais dificuldades que os casais mais maduros. Um dos comportamentos mais comuns é o de competirem um com o outro, de ter uma intolerância excessiva a críticas e grande dificuldade em perceber ou admitir as necessidades de mudanças nas suas formas de pensar, sentir ou agir. Essa necessidade também faz com que muitos caiam no erro de permitir que suas vontades sejam totalmente anuladas para agradar o parceiro, além de terem dificuldades em tolerar as desilusões em relação ao parceiro e também em relação à vida a dois. Outro comportamento é o passivo agressivo. Em vez de serem transparentes e esclarecerem o que os estão incomodando, eles tomam atitudes que os afastam ainda mais. Como se isolarem, serem irônicos e muitas vezes trocarem pequenas vinganças. Eles também têm uma tendência maior a interpretar os comportamentos e mensagens do outro como uma ofensa pessoal. Se este círculo vicioso não for interrompido eles podem acabar desgastando os sentimentos mútuos de uma forma irreversível e então se separar de forma precoce.
Esta é uma questão extremamente particular e, para algumas pessoas, envolve também questões religiosas. Existem algumas possíveis consequências. Uma das situações é que, caso algum dos parceiros se acomode com apenas morarem juntos e o outro tenha o desejo de se casar, esta espera pode causar uma ansiedade muito grande para ambos. Por outro lado, morar juntos antes de casar não deixa de ser uma boa oportunidade para avaliar a vida a dois. É importante lembrar que morar juntos antes do casamento possibilita uma oportunidade mais concreta de avaliar como irão lidar com o convívio a dois, mas nunca se compara à realidade de duas pessoas casadas, pois é o casamento que costuma trazer a verdade à tona de uma forma mais “nua e crua”. Além de fazer com que ambos tenham um compromisso legal, o casamento exige que os parceiros tomem decisões mais delicadas e faz com que a realidade das personalidades dos dois se apresente ainda mais evidente.