Comportamento

Redação

O que a polêmica envolvendo músico do Apanhador Só nos ensina sobre relacionamento abusivo

Redação
18/08/2017 09:43
Thumbnail

A apresentadora Clara Corleone: “Eu precisava manter o meu casamento. Eu precisava manter aquele homem bonito, engajado, talentoso, comigo. Que tipo de mulher eu seria se fracassasse nisso? ", disse em relato no Facebook. Foto: Reprodução Instagram

Não é só violência física. Ciúmes excessivo, chantagem, jogos psicológicos e acusações infundadas fazem parte de um tipo de relacionamento que não faz bem para nenhuma das partes. Mas por que tanta gente insiste em parcerias amorosas que machucam íntima e fisicamente? Com um longo relato no Facebook, a apresentadora Clara Corleone explica que o que viveu com o guitarrista Felipe Zancanaro foi um “relacionamento abusivo”.
Ela conta que foi agredida, traída e ignorada quando tentava se comunicar com ele. O relacionamento durou cinco anos. Segundo a apresentadora relata, as discussões eram frequentes, assim como as traições. No entanto ela insistiu no relacionamento porque se sentiria fracassada caso desistisse. “Eu precisava manter o meu casamento. Eu precisava manter aquele homem bonito, engajado, talentoso, comigo. Que tipo de mulher eu seria se fracassasse nisso? Quanta tristeza. Que desespero que me dá ver meninas nessa situação. Dói”, escreveu.
Depois do relato, a banda suspendeu as atividades por tempo indeterminado. Em seu perfil na rede social, Zancanaro publicou um pedido de desculpas à ex-companheira. “À Clara, por tudo que lhe causou sofrimento e mágoa, peço desculpas, assim como a todas as pessoas que decepcionei”, escreveu, complementando: “Eu sou fruto de uma formação machista. Isso não justifica os meus erros, nem retira a minha responsabilidade sobre meus atos, mas é algo que tenho buscado assumir, enfrentar e mudar.”

O que é um relacionamento abusivo?

Relacionamento abusivo acontece quando o excesso de poder de um predomina sobre o outro. Detectar que isso está acontecendo é processo realmente difícil, conforme explicou a  psicóloga Hemanuelle Barreto, especialista no assunto, em entrevista ao Viver Bem.  Ela diz que o ciclo de violência faz com que a vítima não perceba que está em risco.
“Esse ciclo é todo controlado pelo agressor e passa por picos de agressão (física, psicológica ou financeira). Quando ele percebe que a mulher chegou no limite e que vai procurar ajudar, ele volta a ser o homem carinhoso que um dia a encantou”, disse a psicóloga.
O homem com esse tipo de perfil, conforme explicou a psicóloga, normalmente tem baixa autoestima e só se sente bem ao lado de alguém que ele possa diminuir. “Ele demonstra ser um cara protetor, que vai prover segurança no início, e é dessa maneira que as mulheres se encantam”, afirma.
Violência
Em entrevista ao Viver Bem, a professora de psicologia do UniBrasil Centro Universitário, Fernanda de Ferrante, revela que a violência está diretamente ligada a um relacionamento abusivo, que muitas mulheres sequer se dão conta de estar passando. “Eles são caracterizados por um jogo de controle, violência e ciúmes”. Segundo ela, o abuso pode começar com qualquer atitude que priva a mulher da sua liberdade como precisar dar satisfação demais e até terminar em morte ou estupro.
A especialista aponta que a história não é favorável com as mulheres, e que muitas se baseiam em erros culturais para justificar o relacionamento que vivem. A mulher precisa entender que não é sua obrigação servir o parceiro. “É muito comum ouvir de uma mulher abusada que ela foi traída porque é coisa de homem, ou porque foi grosseiro porque está muito estressado”, diz.
O parceiro com perfil de abusador costuma mascarar o comportamento inadequado, dizendo que é um cuidado excessivo. No começo a mulher até acha isso bonito. “Mas é um ciclo que vai aumentando. Antes ela não podia sair sozinha porque era perigoso, depois os quadros de ciúme aumentam, ela não pode mais encontrar os amigos e as antigas amigas são comparadas a ‘vagabundas’. Não existe mais vida além do relacionamento e do trabalho (quando existe)”, comenta. O discurso seduz. Ele justifica suas atitudes dizendo que busca a felicidade da parceira. Ela acredita, confunde tudo com excesso de amor e cuidado. “É diferente da violência que acontece na rua porque ela é baseada em amor. Você não consegue acreditar que alguém que te ama possa te prejudicar”, diz.
Quando as agressões evoluem podem criar traumas para toda a vida. Às vezes, a violência psicológica pode ferir mais que a física, pois a mulher perde a sua força, sua autonomia. Assim o abusador consegue mantê-la na relação. “Ele vai ‘coisificar’ a parceira a tratando como um objeto de posse que não tem vontade própria e nem sequer pode questionar qualquer situação”, fala. A violência doméstica costuma ser cíclica. Uma pessoa abusiva pode dizer que ama você e que irá mudar, portanto você não tem que deixá-la. No entanto, quanto mais vezes você a recebe de volta, mais controle ela ganhará sobre você. Tenha certeza de prestar atenção em suas ações e não apenas em suas palavras.

Sinais de que seu parceiro é abusivo

Ciúmes
É ciumento com sua família, amigos e colegas de trabalho. Tenta isolar você de qualquer um desses grupos. Acusa você, sem razão, de traição ou de flertar com outros homens. Pergunta onde você estava e com quem estava de uma maneira acusadora.
Chantagem
Uma pessoa abusiva exige que ser o centro das atenções. É comum ouvir: “mas você vai ver sua mãe e me deixar aqui sozinho”, por exemplo.
Superioridade
Ele está sempre certo. Se for preciso, vai xingar para sair por cima da conversa. Seu objetivo é fazer com que você se sinta fraca, de modo que você não queira deixa-lo pois “precisa” dele.
Promessas
O abusador vai pedir desculpa e prometer mudar. Oferecer uma vida nova e melhor sempre estará nos seus planos.
Punição
Uma pessoa abusiva emocionalmente pode privar você de sexo, de intimidade emocional, ou joga um jogo silencioso como punição quando não consegue as coisas do seu jeito.amento. Músico também escreveu na rede social um pedido de desculpa.
Denuncie
A denúncia de violência doméstica pode ser feita em qualquer delegacia, com o registro de um boletim de ocorrência, ou pela Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), serviço da Secretaria de Políticas para as Mulheres. A denúncia é anônima e gratuita, disponível 24 horas, em todo o país. Para proteger e ajudar as mulheres a entenderem quais são seus direitos, em 2014, a Secretaria lançou um aplicativo para celular (Clique 180) que traz diversas informações importantes, como os tópicos da Lei Maria da Penha. A prefeitura também oferece a Casa da Mulher Brasileira, que acolhe as mulheres em situação de violência. A terapia é um processo fundamental. A mulher precisa saber que tem direitos e voltar a ter vontade própria.

Leia relato completo da apresentadora:

* Com informações de Bruna Covacci e Camila Petry Feiler (especial para Gazeta do Povo)