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Dedicar muito tempo às séries pode levar a sintomas depressivos, pois a pessoa de afasta da família e dos amigos, e deixa de viver experiências diferentes. Foto: Bigstock
Dedicar muito tempo às séries pode levar a sintomas depressivos, pois a pessoa de afasta da família e dos amigos, e deixa de viver experiências diferentes. Foto: Bigstock| Foto:

Outlander, Vikings, The Last Kingdon, Spartacus, The Crown, Downton Abbey e Mr. Selfridge são algumas das séries assistidas atualmente pela professora de Sociologia Consuelo Miranda, de 54 anos. Mesmo com a agenda repleta de compromissos, a moradora de Ibatiba, no interior do Espírito Santo, separa alguns minutos diariamente para um novo episódio e sempre aproveita o tempo livre no fim de semana e nos feriados para maratonas de seriados.

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Assim como ela, milhares de pessoas também aprovam a nova onda de entretenimento sem sair de casa. No entanto, alguns cuidados são necessários para evitar que a diversão se torne um vício e traga prejuízos à saúde física e mental.

De acordo com a médica psiquiatra Ana Heloisa Gonçalves, não há problema em realizar uma maratona de vez em quando ou assistir alguns episódios após o trabalho ou a aula. “Mas a diversão se torna preocupante quando a pessoa começa a perder a noção do tempo, deixa de fazer coisas em casa ou posterga as tarefas escolares só porque precisa assistir ao próximo episódio da série”, explica.

E um dos primeiros prejudicados nessa fase inicial do “vicio”, segundo a especialista, é o descanso. “A pessoa fica tão presa à série que perde a hora de dormir, acorda atrasada e diminui seu rendimento no escritório ou na escola. Sem perceber, ela alterou toda rotina do seu dia”.

A adolescente Alana Mosquem, de 16 anos, já passou por isso. “Não cheguei a me atrasar para a aula, mas fiquei alguns dias com muito sono porque assisti séries até tarde”, relata a estudante do 3.º ano do Ensino Médio, que baixou até o aplicativo TV Time para organizar os títulos que já assistiu. “Em dois anos, finalizei todas as temporadas disponíveis de 12 séries e tenho mais 13 em andamento. Isso fora as novas temporadas que podem vir por aí”, comentou.

Dedicar muito tempo às séries pode levar a sintomas depressivos, pois a pessoa de afasta da família e dos amigos, e deixa de viver experiências diferentes. Foto: Bigstock
Dedicar muito tempo às séries pode levar a sintomas depressivos, pois a pessoa de afasta da família e dos amigos, e deixa de viver experiências diferentes. Foto: Bigstock

Ainda que os números pareçam altos, ela garante que eles não afetam sua rotina devido ao controle que faz do tempo destinado ao entretenimento diariamente. “Claro que nas férias eu aproveito, mas, quando tenho aula, assisto no máximo dois episódios por dia. E vou diminuir isso a partir de agora porque vem vestibular por aí”, adiantou a adolescente.

De acordo com a médica Ana Heloísa, esse controle é necessário para evitar que as séries prejudiquem o rendimento do indivíduo em suas atividades, se tornem o centro de seus pensamentos durante o dia e o afastem das outras pessoas.

“Quando você passa muito tempo vendo séries, você acaba se isolando, vai parando de praticar atividades físicas e perdendo os contatos sociais”, afirma a psiquiatra.

Com isso, fica cada vez mais fácil trocar um passeio com os amigos ou com a família por horas em frente à tela, situação comum na rotina de uma estudante de Administração de Santa Bárbara do Oeste, interior de São Paulo. A jovem de 28 anos, que preferiu não se identificar, passa seu tempo livre sozinha, assistindo séries, e não sente receio ao negar convites para sair. “Prefiro mil vezes ficar em casa assistindo”, afirma a garota, que trabalha durante o dia e faz faculdade à noite.

Com uma agenda tão apertada, ela aproveita todos os momentos disponíveis para acompanhar suas tramas favoritas. “Durante o trabalho eu dou uma escapada e, entre as planilhas, estão as séries”, assume. Além disso, já preparou um lugar especial na cozinha para deixar o celular enquanto cozinha ou lava a louça. “Faço tudo assistindo. Durmo sempre por volta das 2h da manhã e geralmente viro a noite nas sextas, sábados e domingos para adiantar alguns episódios”.

Com uma rotina assim, não há como negar que a estudante é viciada em séries e precisa diminuir a intensidade com que elas aparecem em sua rotina. No entanto, a jovem não tem intenção de parar. “Tenho agonia de ver uma série acabando e não saber qual é a próxima que vou assistir, e gosto de ficar em casa. Além disso, meu esposo é tranquilo e, enquanto eu assisto, ele joga videogame”, enfatiza.

De acordo com Ana Heloísa, esse comportamento pode levar a sintomas depressivos, já que afeta relacionamentos e diminui a possibilidade de viver outras experiências.

“E, algumas vezes, a pessoa já entra nesse caminho porque se sente sozinha, não está contente com a própria vida ou sente um vazio. Aí vê a série como uma válvula de escape, uma fuga da realidade”, pontua a médica.

Por isso, é necessário que os amigos e parentes alertem o indivíduo a respeito da situação e o convidem para atividades diferentes. É isso que a família da curitibana Leila Bertolini, de 63 anos, tem feito. Ao ver a delegada aposentada passar cerca de 10 horas por dia em frente à tela, aumentaram os convites para cafés, almoços e passeios ao shopping. “Sou aposentada e tenho todo o tempo livre que nunca tive. Aí comecei a assistir várias séries mesmo. Só que também gosto quando me convidam para sair, e eu vou”, afirma.

Além das atividades em família, ela também garante que deixa suas tramas favoritas de lado por alguns momentos para ir à academia e estudar inglês. “E uma vez por semana eu me reúno com duas amigas que tenho há 45 anos. A gente se vê toda semana e ainda fazemos uma viagem anual para o exterior. Sou viciada em séries? Sou, mas também vivo outras coisas”, finaliza.

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