Comportamento

Raquel Derevecki

Existe um limite para bisbilhotar o celular e as redes sociais do parceiro?

Raquel Derevecki
18/03/2019 17:00
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Controlar as mensagens do WhatsApp, Facebook e Instagram do companheiro evidencia a falta de confiança nele e prejudica a relação. Foto: Bigstock

“Eu acredito nele (a), mas não confio nas outras (os)”. Essa é uma frase comum utilizada por pessoas que insistem em “bisbilhotar” o celular e as redes sociais do parceiro. Pode até parecer um gesto de amor e cuidado, inicialmente, mas é sintoma de um relacionamento possessivo e demonstra insegurança. De acordo com o psicoterapeuta e coach de relacionamentos Matheus Vieira, controlar as mensagens do WhatsApp, Facebook e Instagram do companheiro evidencia a falta de confiança nele e prejudica a relação.

“Isso se torna um círculo vicioso porque, quanto menos você achar vestígios de infidelidade, mais vai procurar, acreditando que não olhou o suficiente”, afirma.

Além de invasiva, a ação destrói relacionamentos como aconteceu com um assistente administrativo de Curitiba, que preferiu não se identificar. Morador do Bairro Alto, ele decidiu viver com a namorada em 2015, um ano após iniciar o relacionamento. “Sempre fui muito tranquilo e nunca dei motivos para que ela desconfiasse de mim porque a base de um relacionamento é a confiança. Só que ela era muito insegura”, relata o curitibano, de 24 anos.
Segundo ele, a moça não acreditava em sua palavra e exigia provas constantes de que ele a amava. “Tanto que ela passou a controlar todos os aplicativos do meu celular, o Facebook e o Instagram. Eu nem sou muito de usar redes sociais, mas ela começou a direcionar com quem eu podia, ou não, conversar”.
O assistente administrativo tentou aceitar a situação, se afastou de alguns amigos e imaginou que o problema seria resolvido com o tempo. “Mas piorou. Teve uma noite que eu acordei de madrugada e a vi mexendo no meu celular, escondido. A partir dali, nosso relacionamento desandou porque era só ela ter me pedido”, contou o rapaz, que passou a enfrentar brigas constantes com a companheira e entrou em depressão.
O monitoramento das redes sociais é um dos primeiros passos para que o indivíduo possessivo monitore outros aspectos da vida do parceiro. Foto: Pixabay
O monitoramento das redes sociais é um dos primeiros passos para que o indivíduo possessivo monitore outros aspectos da vida do parceiro. Foto: Pixabay

Relacionamento sufocante

Segundo o psicoterapeuta Matheus Vieira, homens e mulheres que passam por essa situação se sentem sufocados pelo ciúme da parceira e sofrem perda significativa de sua individualidade ao levar a situação adiante.

“O medo de perder o companheiro é tão grande que, de tanto amor e vontade de estar perto, a pessoa ciumenta aperta demais o cônjuge e faz mal a ele”, afirma o psicólogo.

O efeito, de acordo com o especialista, pode ser devastador porque destrói as preferências, o poder de decisão e a maneira de ser do parceiro. “É a síndrome de Felícia”, explica Vieira, ao citar a personagem do desenho animado Tiny Toon – exibido na década 1990 – que gostava tanto de animais que os apertava até os olhos esbugalharem.
Além disso, o controle das redes sociais é um dos primeiros passos para que o indivíduo possessivo monitore outros aspectos da vida do parceiro. “Já atendi um casal em que o homem decidia até o que a mulher ia vestir”, afirma o psicólogo. Em situações assim, a pessoa deixa de ser quem ela é, fica muito submissa e entra em crise se o relacionamento termina. “A pessoa fica tão murcha que o companheiro possessivo acaba perdendo o interesse nela e, quando o namoro acaba, ela entra em crise porque não sabe mais o que a faz feliz”.

O que fazer?

Ainda segundo Vieira, nem toda situação em que o cônjuge olha o celular e as redes sociais do companheiro ou companheira indica um relacionamento possessivo. No entanto, é sintoma disso e, se um dos envolvidos está triste com a situação, o alerta já foi ligado.

“Ao perceber que a relação não está saudável, converse com amigos e parentes porque eles vão incentiva-lo a tomar uma decisão. Se não for suficiente, procure também o tratamento com um profissional”.

O assistente administrativo de Curitiba fez isso. Após dois anos de brigas constantes com a namorada, ele procurou pessoas de confiança e iniciou o acompanhamento com um psicoterapeuta. “Eu não sabia mais o que fazer. Não queria terminar porque a amava, mas esse ciúme desenfreado estava acabando com a gente”, relatou o rapaz.
Foto: Bigstock
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De acordo com ele, as primeiras sessões foram individuais para tratar a depressão que sofreu. Depois, insistiu para que a namorada o acompanhasse. “Com muito custo, ela foi para a terapia de casal. Só que nada melhorou, então decidi sair daquele relacionamento”, conta o assistente administrativo.
Em casos como esse, Vieira aconselha a o indivíduo a continuar as sessões com um profissional após o rompimento para evitar que o padrão de relacionamentos possessivos continue. “Se não for tratado, há grandes chances de a pessoa entrar em outra relação parecida, repetindo os mesmos erros”.
E o tratamento também é indicado para a pessoa controladora a fim de entender o motivo da sua insegurança e ajudá-la no próximo relacionamento. “Afinal, para que duas pessoas vivam juntas, é necessário que exista confiança. Sem isso, não há relacionamento que sobreviva”, finaliza o especialista.
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