Comportamento

Carolina Werneck

Sete brincadeiras “de antigamente” que ajudam no desenvolvimento infantil

Carolina Werneck
05/11/2017 08:00
Thumbnail

Pular amarelinha ajuda a desenvolver a motricidade e o equilíbrio, por exemplo. Foto: Visual Hunt/Reprodução

“Eu escuto muitos pais reclamando que os filhos não saem do celular.” O relato da psicopedagoga especialista em educação especial Ana Regina Caminha Braga está longe de ser exceção. Uma pesquisa realizada realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) demonstrou que 47% dos brasileiros entre 9 e 17 anos usam a internet para jogar.
Além disso, em um ano – entre 2014 e 2015 – o percentual de crianças dessa faixa etária que acessam a internet mais de uma vez por dia subiu de 21% para 66%. Para Ana Regina, é papel dos pais e educadores “refletir sobre o que está sendo oferecido para que a criança saia do ambiente virtual. A tecnologia tem que caminhar a nosso favor. Cabe a nós dar outras alternativas para que ela possa se desenvolver.”
Mas quais as consequências, para o desenvolvimento das crianças, dessa migração das brincadeiras infantis para os jogos virtuais? Segundo a psicopedagoga, “o game desenvolve algumas habilidades, mas as questões de interação social e de motricidade já não são trabalhadas, o que prejudica o desenvolvimento infantil”.
Ela afirma que fica claro quando uma criança tem contato com as “brincadeiras de antigamente”. “Quando isso acontece, muitas vezes a comunicação e da reflexão são muito mais desenvolvidas, pelo fato de ela interagir com outras pessoas e ter a oportunidade de exteriorizar sua criatividade“. Por isso, Ana Regina selecionou sete jogos tradicionais que podem ajudar no desenvolvimento cognitivo, motor e psicossocial.
Stop
Você só precisa de lápis ou canetas e algumas folhas de papel para jogar “stop” – ou “adedanha”, como chamado em algumas regiões do país. Embora simples, o jogo traz, de acordo com a psicopedagoga, diversas vivências importantes. “Trabalha a linguagem, a comunicação, a escrita e até a categorização. Isso vai motivar a memória e a imaginação, além do relacionamento com os outros.”
Escravos de Jó
Brincar de “escravos de Jó”, segundo Ana Regina, é uma forma de trabalhar a musicalização. Enquanto cantam a cantiga que dá nome ao jogo, as crianças exercitam a motricidade e também a lateralidade. “Naquele momento, elas também aprendem que meu tempo nem sempre é o tempo do outro, e que é preciso respeitar o tempo do outro, também, senão a brincadeira não funciona.”
Pular elástico ou corda
O elástico e a corda proporcionam um momento para despertar a consciência corporal e o senso de movimento. É preciso seguir o ritmo da música e não deixar de se mexer ao mesmo tempo. “Enquanto você vai cantando, também tem que responder aos comandos e ter o equilíbrio para isso. Aqui, é importante ter um mediador que possa corrigir movimentos incorretos, sempre de maneira indireta, sem coagir a criança”, diz a educadora.
Exercício físico aliado ao desenvolvimento do equilíbrio e do ritmo: essa é apenas uma das vantagens de pular elástico ou corda. Foto: Visual Hunt
Exercício físico aliado ao desenvolvimento do equilíbrio e do ritmo: essa é apenas uma das vantagens de pular elástico ou corda. Foto: Visual Hunt
Amarelinha
“Além da questão matemática e do equilíbrio, na amarelinha a criança se diverte muito. Isso também é importante quando pensamos em brincadeiras infantis”, opina a psicopedagoga. Ela explica que desequilibrar-se, cair e recomeçar fazem parte do aprendizado e são etapas fundamentais do desenvolvimento humano.
Bolinha de gude
“A bolinha de gude tem também um conteúdo matemático, a criança está aprendendo a contar ou exercitando essa habilidade”, diz a educadora. Também é preciso desenvolver uma estratégia para ganhar a competição.
Passa anel
A paciência é uma virtude em tempos de imediatismo, diz Ana Regina. E brincar de “passa anel” é uma forma de estimular a paciência mesmo nas crianças mais novinhas. “A criança tem que descobrir com quem vai ficar o anel. É um jogo lúdico, de descoberta, de lógica. A gente trabalha todas essas questões, além da paciência.”
Jogo da velha
Assim como o “stop”, o “jogo da velha” não exige mais que papel e caneta. Ao escolher os espaços em que fará suas marcações, a criança está aprendendo a respeitar os traços delimitados. Outro ponto positivo é o desenvolvimento do raciocínio rápido.
Brincar de "jogo da velha" ajuda a entender os limites do espaço e a desenvolver o raciocínio rápido. Foto: Visual Hunt
Brincar de "jogo da velha" ajuda a entender os limites do espaço e a desenvolver o raciocínio rápido. Foto: Visual Hunt
Trabalhos manuais
A coordenação motora, a imaginação e a criatividade também podem ser trabalhadas com atividades manuais, como a pintura com tinta ou lápis de cor, a massinha de modelar e até mesmo os bloquinhos de montagem. “Nessas brincadeiras, a criança relaxa e aprende coisas como a disposição do papel e os limites de traço, cor, habilidades de desenho, entre outras.”
LEIA TAMBÉM: