Comportamento

Carolina Werneck

Sri Prem Baba: estamos falhando na nossa capacidade de amar

Carolina Werneck
03/12/2017 08:00
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Sri Prem Baba em palestra durante o Congresso da Felicidade, em Curitiba. Foto: Rubens Nemitz

Conhecer a si mesmo é a chave para encontrar a felicidade plena. Pelo menos é isso o que afirma Sri Prem Baba, mestre espiritual nascido em São Paulo que arrasta multidões por onde passa. Em Curitiba não foi diferente. Muitas das pessoas que participaram do II Congresso Internacional de Felicidade, realizado em novembro, estavam lá principalmente para ouvir os ensinamentos do guia.
Enquanto entra no palco da Ópera de Arame, ele se mantém em silêncio e com o olhar fixo na plateia. Aos poucos, o público também silencia e há um momento de ansiedade pelas primeiras palavras de Baba. Mas o ar bonachão do guru que nasceu Janderson e hoje passa seu tempo entre o Brasil e a Índia quebra a quase tensão assim que ele começa a falar.
“A felicidade existe e é possível aqui e agora”, afirma, logo no começo da palestra. Durante cerca de uma hora e meia ele discorre sobre meios de alcançar esse estado de tranquilidade espiritual. Em entrevista exclusiva ao Viver Bem, fala sobre os desafios da humanidade e a importância da compaixão.
Qual a importância de falar sobre a felicidade?
Eu sinto que é crucial neste momento em que vivemos, quando estamos tão carentes de caminhos, de referências de como experimentar a felicidade. Sinto que vivemos uma revolução da consciência. Nossos valores, nossas decisões e nossas escolhas nos levaram a um lugar muito desafiador. Nós estamos precisando de um espaço para repensar essas escolhas, essas decisões, um espaço para criar uma nova maneira de viver a vida na Terra. E essa nova maneira precisa incluir respeito, amor, cooperação, união, felicidade.
Você tem falado sobre o que chama de “revolução da consciência”. Na sua opinião, a humanidade vai conseguir superar o desafio dessa revolução?
Eu tenho uma fé inquebrantável no ser humano e no amor. Nós, enquanto espécie humana, já vivemos perigos de extinção algumas vezes e, mesmo assim, ainda estamos aqui. Então eu acredito que sim, nós vamos conseguir atravessar essa zona de turbulência, que eu considero que vem justamente para poder acordar aspectos ou dimensões do nosso ser que nós ainda não conhecemos, como essa capacidade de ser feliz independente do que está acontecendo lá fora. A capacidade de cooperar, de querer ver o outro feliz mesmo quando ele pensa diferente de nós, quando tem outra visão.
A felicidade é um estado permanente? Ou temos que aprender a aproveitar os momentos de felicidade?
Ela é um estado de ser. Uma fragrância da nossa consciência. Enquanto nós não temos consciência plena de quem somos, só podemos experimentar felicidade em alguns momentos específicos. Mas, a partir do momento em que a gente ancora essa consciência, a felicidade se torna acessível sempre que você silencia.
Você é 100% feliz?
Eu sou 100% feliz, em paz comigo mesmo, embora tenha momentos de desafio como qualquer pessoa. Como uma água com um pouco de terra que às vezes se agita. Mas aí eu relaxo e ela se acalma de novo.
O momento que vivemos atualmente é conturbado. Você acha que estamos falhando enquanto sociedade? Se sim, em que aspectos?
Estamos falhando na nossa capacidade de amar uns aos outros. Eu tenho dito que na raiz dessa crise global está o esvaziamento da compaixão, do amor. A compaixão é uma dimensão do amor. Então nos tornamos muito egoístas e muito belicosos. Por nada a gente faz uma guerra, por nada a gente briga. Eu sinto que, se existe um remédio para este mundo, é o amor. Por isso eu sinto que essa revolução de consciência tem como objetivo principal acordar o amor. Porque é esse amor que vai proporcionar uma nova maneira de viver a vida na terra, uma vida que inclua gentileza, inclusive.
É possível ensinar a compaixão?
É possível. Acho que essa é a boa notícia. A compaixão pode ser acordada e existe metodologia para isso. Uma metodologia que inclui meditação e autoconhecimento, porque a compaixão e a felicidade que não depende de nada lá fora estão dentro de nós. Temos que aprender a encontrar isso do lado de dentro.
Como falar de paz e felicidade para pessoas que estão sofrendo, principalmente nas classes mais baixas da sociedade?
Mas olha só que curioso. A felicidade não depende da classe social, não depende daquilo que as pessoas têm. Uma pessoa que mora em um palácio pode ser feliz ou infeliz. E uma pessoa que mora em um barraco de chão batido também pode ser feliz ou infeliz. Então a felicidade não depende necessariamente do que a pessoa tem, ela é um estado de consciência. Eu conheço muitas pessoas que são bem pobres e bem felizes, até mais que aquelas que moram em palácios.
Mas há lugares da sociedade que vivem ciclos de violência muito pesados, é mais difícil falar de felicidade nesses espaços?
É mais difícil, concordo plenamente. Acho que tem um desafio para todos nós. Eu acho que dentro desse estudo que decorre dessa revolução de consciência é importante nós percebermos que somos co-criadores de tudo isso. Todos nós criamos essa violência juntos e precisamos encontrar uma solução para ela juntos. Se a gente consegue ter esse grau de empatia e esse grau de cooperação, com certeza as populações menos assistidas vão se sentir mais acolhidas, porque vão estar se sentindo vistas e cuidadas. Esse é o nosso desafio como sociedade.
E como romper esse ciclo de violência?
Eu sinto que é através do autoconhecimento. Tenho falado que o autoconhecimento deveria ser inclusive parte de políticas públicas. Ele precisa fazer parte da educação das nossas crianças, nós temos que erradicar completamente da nossa mente a crença de que somos vítimas e de que existe um culpado para a nossa infelicidade. Temos que conseguir encontrar dentro de nós essa paz, essa harmonia. Eu sinto que essa é a única maneira, é fazer com que isso aconteça em escala.
Existe um projeto seu em Nazaré Paulista que é justamente focado nisso. Como ele funciona?
Sim, é o Florescer. Ele é focado na educação fundamental. Quando a criança chega à escola para receber as primeiras noções do ensino secular, além de aprender as coisas do currículo tradicional ela também aprende sobre o cultivo do silêncio, aprende a gerenciar a emoção, aprende sobre valores humanos de forma prática. Em Nazaré Paulista 100% das escolas públicas do município estão colocando em prática essa metodologia, além de algumas escolas em Fortaleza. Estamos agora trabalhando para fazer com que a formação dos facilitadores seja mais acessível. Ela era presencial, mas houve uma grande procura e a gente não estava dando conta. Queremos facilitar o acesso, transformando esse curso presencial em um curso online para poder atingir um milhão de facilitadores até 2020. Esse é o nosso plano.
Qual o impacto disso nas crianças?
É maravilhoso. Temos alguns vídeos inclusive com depoimentos de crianças, dos educadores, dos pais. É absolutamente gratificante você ver essas sementes florescendo, assim como o nome do projeto.
Você já disse algumas vezes que o caminho da felicidade está acessível para as pessoas comuns. Como encontrar esse caminho?
Eu sinto que na verdade o caminho te encontra. Precisa chegar a esse estágio de “não quero mais repetir o mesmo padrão negativo, como eu faço para romper essa repetição?”. Quando você começa a se tornar cansado de sofrer, aí então você inicia um processo. Claro que eu não me considero o único professor, tem muitos professores ensinando isso. Através de mim, eu ofereço uma metodologia chamada Caminho do Coração. Você começa com um workshop e há uma série de ferramentas para despertar isso.
Podemos ser todos mestres uns dos outros nesse caminho?
Acho que nós somos, mesmo sem saber. Nós aprendemos uns com os outros. Eu tenho dito que se a vida é uma escola, relacionamentos são a sua universidade. Então a gente aprende através dos relacionamentos, estamos o tempo todo ensinando um ao outro. Aqui, agora mesmo, isso está acontecendo.
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