Comportamento

Amanda Milléo

O trabalho de voluntários para que “Papai Noel não se esqueça de ninguém”

Amanda Milléo
13/12/2018 18:19
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Bruna com amigos durante a entrega dos presentes em um asilo.(Foto: Arquivo pessoal)

Foi um problema matemático na Páscoa que transformou a vida da professora Debora Blitzkow há 12 anos. As dez caixinhas de bombons que havia comprado não batiam com os 17 familiares que deveriam receber os doces. Para resolver o problema, ela teve a ideia de transformar as latas de leite em pó que tinha em em casa em uma lembrança personalizada: pintou, decorou e encheu de docinhos, completando a lista de presentes.
Ao ver como os parentes gostaram de receber um item feito por ela com carinho, ela teve a ideia de levar esse encantamento também para pessoas carentes. Ela passou o ano juntando latas de leite: foram 67 no total. Todas foram decoradas e enchidas com guloseimas. Quando encontrou um conhecido trabalhando como carrinheiro, decidiu que entregaria os presentes para esse público. Assim, ela criou essa tradição.
A cada ano, o volume de latas arrecadada aumenta na mesma medida da disposição da professora. “Busco por voluntários e doações de doces. No mês de dezembro, minha casa se transforma em um ateliê. Em média, confeccionamos cerca de 3 mil presentes a cada ano”, explica a voluntária. A distribuição é feita sempre em uma data próxima ao Natal, em um ponto da cidade onde há um depósito de reciclados.
Ela conta que uma das premissas do grupo de voluntários é não julgar. “Ano passado um senhor nos abordou cabisbaixo e disse: ‘eu estou com o meu alvará de soltura, não vou fazer nada de errado. Será que eu poderia ganhar um presente também?´” Não fazemos distinção. Estamos ali para oferecer um pouco do nosso amor para todos. Esse senhor recebeu três latas e ficou muito feliz. ”  

Um olhar para o idoso

O foco do grupo de voluntários do qual a servidora pública Bruna Patrícia dos Santos faz parte com os amigos é diferente: eles olham para os idosos. Desde quando conheceram o Lar de Idosos Luz Divina, há quatro anos, os amigos decidiram que ajudariam o local de alguma forma.
Esse ano, os 47 idosos que moram no lar receberão presentes especiais  – e os itens serão personalizados, como lembra Bruna. “Cada voluntário fica responsável por ‘adotar’ um idoso, comprando os presentes que ele desejar. E aí faremos um festa para a entrega dos presentes”, relata.
Na ação dos amigos de infância, os asilos são os pontos de encontro para a ação de voluntários no fim de ano (Foto: Arquivo pessoal)
Na ação dos amigos de infância, os asilos são os pontos de encontro para a ação de voluntários no fim de ano (Foto: Arquivo pessoal)
Para encantar ainda mais os velhinhos, a comemoração é completa: terá a presença do Papai Noel e dos ajudantes. “Geralmente as pessoas fazem a campanha de fim de ano com crianças, e os idosos são deixamos um pouco de lado. Além do Natal, fazemos uma ação na Páscoa e, ao longo do ano,  procuramos visitá-los”, conta Bruna.
Bruna com amigos que conhece há anos, alguns desde a infância, visitam asilos em datas próximas ao fim de ano (Foto: Arquivo pessoal)
Bruna com amigos que conhece há anos, alguns desde a infância, visitam asilos em datas próximas ao fim de ano (Foto: Arquivo pessoal)
Das histórias de vida que mais a marcaram, Bruna lembra o relato de uma senhora: “Ela foi enviada pela prefeitura porque vivia uma situação de risco em casa, com filhos que batiam nela. Quando conversamos com ela, percebemos que é uma pessoa extremamente carinhosa, ela fica nos abençoando. Nem parece que passou por uma vida difícil”, lembra.

“São pessoas muito sozinhas. A gente só percebe o quanto esse gesto importa quando vamos até lá e elas nos perguntam quando vamos voltar”, diz a servidora.

Apadrinhe uma criança

Madrinha de Natal por vários anos, Fernanda Albanaz decidiu, em 2018, ela mesma organizar um grupo de voluntariado para a data. Além da entrega de presentes, a professora universitária irá realizar uma série de atividades com os pequenos. “Eu queria fazer algo mais próximo, então organizei um apadrinhamento e uma tarde de interação entre voluntários e crianças”, relata Fernanda.
A professora conta que fez o contato com a instituição há seis meses. “Perguntei o que era melhor levar. Às vezes fazemos o apadrinhamento sem saber qual é a real necessidade. Por exemplo, podemos fazer uma ação voltada à doação de alimentos, sendo que o que eles realmente precisam são roupas”, relata Fernanda.
No caso de Fernanda, ela pode identificar que as crianças tendem a receber muitos brinquedos no fim de ano, mas que eles precisam também de roupas, calçados e material escolar. “Cada padrinho vai dar uma roupa e uma mochila de rodinhas. Como temos uma lista de crianças e de padrinhos, os padrinhos são personalizados: cada um vai receber roupas e calçados de seu tamanho”, conta.

“A ideia não é só entregar o presente, mas também ter contato com  outra realidade e ver o que ela provoca em você, é um choque de realidade. Eu penso muito nos meus filhos, quero dar o melhor a eles, mas quero que percebam que a realidade que vivem não é a mesma de outras pessoas. E que eles podem ajudar.”

Passo a passo para organizar uma ação de Natal

Embora pareça complicado, organizar uma ação voluntária é muito simples, e a professora dá algumas dicas:
  1. Encontre uma instituição que aceite ações de voluntários, como asilos, lar de crianças, ou ONG?s que atuam com pessoas em situação de vulnerabilidade.

  2. Entre em contato com os responsáveis pelas instituições.

  3. Converse com os responsáveis pela instituição para entender a necessidade. Então decida como poderá ajudar.

  4. Divulgue a sua ação, avisando amigos e familiares, para conseguir ainda mais voluntários.

Fernanda decidiu criar uma ação de voluntariado em 2018 para também ensinar aos filhos os valores natalinos (Foto: Arquivo pessoal)
Fernanda decidiu criar uma ação de voluntariado em 2018 para também ensinar aos filhos os valores natalinos (Foto: Arquivo pessoal)

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