Histórico

Ele queria pedir demissão amanhã

Denise Drechsel
05/06/2017 12:52
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“Entrei [no emprego] com esperança de me capitalizar logo para seguir os meus sonhos", designer gráfico Rafael Berard. (Foto: Hugo Harada) | Gazeta do Povo

O e-mail recebido em 2012 era um spam que dizia: “Último dia para você demitir o seu chefe”. A frase casou com as ansiedades do coach Rafael Berard. Rafael quase foi padre, passou em quatro concursos públicos em menos de dois anos sem ser chamado para nenhum deles e acabou trabalhando num colégio curitibano de alto padrão em que, nas palavras dele, “tinha de pedir permissão para ser criativo e crescer”.
O spam era sobre um desses cursos de como criar um negócio on-line. Para Rafael, então com 29 anos, foi uma dica de algo que ele ainda não sabia como funcionava, a área de marketing digital, e uma possível saída para os seus sonhos de transformar a vida das pessoas. Decidido, comprou esse e vários outros cursos depois, frequentados com sacrifício fora do horário comercial. Não parava para descansar – nem no dia em que se casou com Cristiane, em 2013. Enquanto a noiva se preparava, ele acompanhava aulas sobre terceirização de negócios para estrangeiros. Na lua de mel, em Cancun, passou uma das tardes no hotel, com o apoio da esposa, participando de uma palestra on-line com o milionário britânico Alex Jeffreys, com quem depois fez um treinamento pessoal por vários meses.
Depois de raspar suas economias para pagar cursos, acabou encontrando a versão em inglês do livro “Trabalhe 4 horas por semana”, de Tim Ferriss. “Aquilo que você está adiando, é aquilo que você deve fazer”, diz uma das máximas do livro, com sete questões para lidar com o medo de mudança.
Para não arriscar sem pensar, pediu ajuda à esposa e, juntos, responderam às questões apresentadas pela publicação. Era um domingo de 2013. “Chegamos à conclusão de que podíamos arriscar e ela me sugeriu que eu pedisse demissão na próxima sexta-feira. Bati na mesa e gritei: ‘Eu preciso pedir demissão amanhã!’”. Estava feito. No dia seguinte, uma segunda-feira, Rafael rompeu os grilhões.
Ele investiu em cartões de visita, sites, estrutura para comércio internacional on-line… mas não havia retorno. E aquilo tudo não era o que realmente queria fazer. Em menos de um ano, teve de voltar a trabalhar, em circunstâncias difíceis, numa multinacional com horário e ambiente mais complicados. “Entrei com esperança de me capitalizar logo para seguir os meus sonhos. Entrei já pensando em demissão”, diz.
Entre 2014 e 2015, Rafael manteve a sua dupla jornada de trabalho. Era empregado durante o dia e empreendedor à noite e nas horas vagas. Trabalhou em dois congressos on-line – um organizado apenas por ele – com sucesso e lucro. A repercussão rápida e positiva de uma palestra dada em um deles sobre como alcançar resultados fez com que ele percebesse que a sua própria história de vida servia para inspirar outras pessoas. A área de coaching, tão banalizada, apareceu como um filão no qual entendeu que, a partir da sua experiência – conquistada à base de inquietações espirituais e profissionais –, podia enriquecer a vida dos outros.
Uma fase difícil no trabalho e na família desembocou num esgotamento que o fez parar por seis meses.
No início deste ano, uma promoção na multinacional em que trabalha veio num mau momento. Porque os projetos pessoais voltaram a engrenar e ganhar mais responsabilidades como empregado significava menos tempo para os seus coaching e marketing digital. Ao dar a notícia à esposa, a ouviu dizer: “Está na hora de pedir demissão”. Responsável por bons resultados, Rafael teve de pedir três vezes demissão antes de conseguir sair da empresa em que estava.
Hoje, o único arrependimento dele é o de ter começado tarde o movimento de mudança. “Trabalhei duro nos últimos anos e isso me permitiu pedir demissão para seguir com meu projeto de deixar um legado. Com o coaching, toco o sofrimento das pessoas e dou ferramentas para as soluções; com o marketing digital, consigo canalizar a minha energia criativa”.
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