Saúde e Bem-Estar

Licença paternidade não é férias, diz psicóloga

Amanda Milléo
10/03/2016 17:08
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(Foto: Bigstock)

O aumento de cinco para 20 dias da licença paternidade, estabelecida pelo Marco Legal para a Primeira Infância, trará muitos benefícios na relação entre pais e bebês, além de ajudar na coesão da própria família. No entanto, é preciso ter cuidado. Os pais não podem tratar o período de licença como férias, e eles têm tarefas claras a cumprir do começo ao fim.
A primeira delas é dar todo o suporte necessário para que a mãe e o bebê desenvolvam a relação entre eles. “Isso significa promover um ambiente tranquilo para a família. O pai deve dar atenção aos outros filhos, caso tenham, que podem se sentir deixados de lado por conta da atenção da mãe para o recém-nascido, acordar junto com a mãe para atender o bebê de madrugada, estar junto dela quando estiver amamentando, colocar o bebê para arrotar, trocar as primeiras fraldas, dar os primeiros banhos, separar momentos para a mãe poder descansar. É botar a mão na massa, e está bem longe de uma ideia de férias“, explica a psicóloga infantil, Eliziane Rinaldi Stevão.
Com esse suporte, a mãe se sentirá mais amparada e acolhida, e isso se refletirá em uma relação mais tranquila com o bebê, segundo a psicóloga. Outro benefício será na própria relação do pai com o filho. “O pai, claro, cria uma relação mais próxima com quem ele cuida. Intimidade e proximidade começam nesses primeiros dias, trocando fralda, dando banho e promovendo um ambiente calmo“, diz Eliziane.
Em vez de 20 dias, Naim Akel Filho, coordenador do curso de Psicologia da PUCPR, defende o aumento da licença para, no mínimo, 30 dias. “Um mês é um período importante para o pai estabelecer laços com o bebê, ao mesmo tempo que contribui na saúde mental da família, especialmente da esposa. Eu não tenho dúvidas que a presença do pai pode diminuir os quadros de depressão pós-parto, se ele exercer a função de pai e marido”, explica.
Desenvolvimento neuropsicológico
O primeiro mês depois do nascimento, do ponto de vista da neurociência, é um período muito importante para o neurodesenvolvimento do bebê.  O cérebro da criança ainda não está pronto, que continua se desenvolvendo depois do parto. Quando o pai estabelece uma relação próxima com o bebê, ocorre a liberação de ocitocina, hormônio liberado pela hipófise, que traz sensações de bem-estar, sentimento de aceitação e amor. “O pai tem que aprender a fazer isso, eles precisam usar a licença para isso”, alerta Filho.
Cuidado
Muitos pais tendem a ficar com ciúmes pela falta de atenção da esposa, e embora seja um sentimento comum, não há razão para isso. “O pai e marido precisa entender que, quanto mais a mãe estiver nessa relação com a criança, mais a família estará ajustada e equilibrada, porque nesse início de vida é o bebê quem precisa mais dela. Aos poucos, e devagar, a mãe volta ao papel de esposa e mulher“, explica a psicóloga.
Passar mais tempo junto à família nesse início da paternidade também contribuiu nesse sentido. Ao ver a rotina e participar dela, o pai entende que logo tudo vai se ajustar a como era antes, com mais uma (ou duas ou mais) criança na família.