Moda e beleza

Bruna Bill, brunag@gazetadopovo.com.br

Assuma suas curvas

Bruna Bill, brunag@gazetadopovo.com.br
05/08/2012 03:04
Não há mulher completamente satisfeita com sua aparência. A maioria delas quer se livrar de pelo menos meia dúzia de quilos. Outra parte sonha com músculos definidos e corpo forte. Dá até para entender por que a vaidade é um substantivo feminino. Sempre foi assim, tanto que artistas de outros tempos retrataram mulheres de generosa opulência na Renascença, depois de fragilidade pálida até chegar à androginia de décadas atrás. Vieram as magras de passarela e as de contorno-fruta. E as curvas (ah, não há como negar que sejam essencialmente femininas) foram sendo moldadas conforme os modismos e a idealização entre as medidas da cintura e do quadril.
Essa idealização da beleza é um dos apontamentos do estudo feito pela marca Dove na Campanha pela Real Beleza em 2010: de acordo com a pesquisa, cerca de 70% das mulheres brasileiras estão satisfeitas com a própria beleza, porém apenas 14% delas se sentem seguras para se definir como belas. Isso demonstra que, apesar de aceitar e gostar do próprio corpo, as mulheres ainda têm como belo um padrão construído culturalmente.
“Trata-se de uma contradição do olhar feminino para consigo mesma, uma vez que há o entendimento de que a beleza não se encerra na estética, mas ainda assim a mulher não se sente bela, não se vê como bela”, aponta Joana de Vilhena Novaes, psicanalista e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio.
Essa crítica e a preocupação exagerada passam pela necessidade de aceitação e admiração, com o corpo como símbolo de esforço e mérito. Ainda de acordo com a pesquisa, 32% das mulheres que se sentem pressionadas a ser belas admitem que essa imposição venha delas mesmas. “Isso acontece porque o corpo é uma variável tangível, que pode ser medida e comparada. Assim, estar magra ou não pressupõe uma aprovação do outro em relação ao meu corpo, o que pode levar à frustração e à cobrança”, indica o psicólogo Carlos Esteves, especialista em análise do comportamento.
Mas não é apenas o olhar externo que pesa nessa história. Muitas vezes essa cobrança e busca por um ideal de beleza parte de uma suposição que a própria mulher faz e não de uma pressão social. “O padrão de mulher magra nunca foi um gosto dos homens, mas, sim, delas. Os homens, em grande parte, preferem mulheres com curvas, que estejam dispostas a curtir a vida e que não estejam de dieta”, comenta a coach Karina Reis.
Por que então negar a natureza feminina, com suas formas curvilíneas? Joana acredita que existe um corpo para agradar aos homens e outro para agradar às mulheres. “Existe a preocupação de passar pelo crivo das outras fêmeas, de inclusive provocá-las através da beleza. Há uma ideia de que quem não faz esforços para moldar o corpo é desleixada. Quando acontece essa moralização da beleza, as mulheres encaram a falta dela como insatisfação pessoal. Fomos educados em uma sociedade em que precisamos ser humildes e modestos, mas, em contrapartida, temos uma autocrítica e uma cobrança muito grandes.”
Transformação
Nos últimos tempos, outra tendência vem surgindo: as mulheres-fruta são o oposto da esquálida figura das passarelas. Mas não é o reverso dessa história, é a repetição. Embora seja um padrão que valorize as curvas, elas são novamente trabalhadas. É um corpo musculoso, definido em muitas horas de academia. “O que separa as mulheres comuns, muitas vezes chamadas de gordas nas ruas, das celebridades bombadas, é que estas têm um índice baixíssimo de gordura corporal, fruto de muita dedicação”, afirma Joana.
É justamente este mérito e dedicação que são valorizados e não necessariamente o formato do corpo ou o peso na balança. “Vivemos uma cultura que valoriza o mérito e o esforço. Passar horas na academia é o que importa, pois desenvolvemos uma fobia à gordura”, indica a psicanalista. Ainda segundo Joana, essa tendência pode com o tempo ser consolidada como o novo padrão de beleza feminina: “Analisando economicamente, a ascensão da classe C, que sempre valorizou as curvas como sinal de fartura, exige uma nova relação da sociedade com a beleza”.
Boa parte dessa mudança, segundo os especialistas, vem do aumento da preocupação com a saúde e o bem-estar. “Há um movimento que valoriza uma vida mais saudável, que não está mais tão ligado a um padrão de corpo determinado”, indica Esteves. Quando a mulher está feliz consigo, saudável e certa disso, não importa o padrão do momento. “Não é uma questão de certo ou errado, é uma questão de valores, de saber o que quer para si, priorizando seu corpo natural e suas emoções”, afirma Karina.
Ao longo dos séculos, os ideais de beleza e moda foram se modificando devido à posição ocupada pelas mulheres na sociedade. Acompanhe a transformação:
Fotos: reprodução e arquivo

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