Moda e beleza

Willian Bressan

Atores de “Velho Chico” vão vestir roupas usadas por moradores do Nordeste

Willian Bressan
09/02/2016 10:00
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Eulália (Fabiula Nascimento) em gravação no interior de AlagoasCrédito: Globo/Caiuá Franco

A próxima novela das 21h da Globo, “Velho Chico”, com estreia prevista para março na RPC será uma volta às origens. O Viver Bem já mostrou que a trama será uma “saga shakespeariana” com amores impossíveis, disputas e batalhas entre famílias rivais.
Rodrigo Lombardi, que interpreta capitão Rosa, e Chico de Assis que fará o coronel Salgado. Os dois gravaram no sertão de Alagoas. (Foto: Globo/Caiuá Franco)
Rodrigo Lombardi, que interpreta capitão Rosa, e Chico de Assis que fará o coronel Salgado. Os dois gravaram no sertão de Alagoas. (Foto: Globo/Caiuá Franco)
O conceito de “volta às origens” também se dará no figurino da novela de Benedito Ruy Barbosa. A figurinista Thana Schronardie buscou os moradores do das cidades do interior de Alagoas, Bahia e Rio Grande do Norte para propor uma espécie de “escambo”. A partir de uma pesquisa prévia, a Globo identificou possíveis peças para compor o figurino dos personagens. A equipe passou, então, a trocar com moradores roupas já usadas por peças novas, além de comprar alguns itens. A ideia foi do diretor da trama, Luiz Fernando Carvalho.
Nas cidades do interior de Alagoas, Bahia e Rio Grande do Norte, a equipe realizou uma pesquisa e identificou possíveis peças para compor o figurino dos personagens. A partir disso, trocavam com o morador local uma roupa nova por uma já usada, e compravam algumas peças também. “Conseguimos, por exemplo, uma bota de um senhor que caminhava pela estrada. E demos outro sapato novo para ele”, explica Thanara.
Técnica foi usada pela Globo em "Pecado Capital" (1975). (Foto: Cedoc/Globo)
Técnica foi usada pela Globo em "Pecado Capital" (1975). (Foto: Cedoc/Globo)
Em 1975, a figurinista Marília Carneiro foi a pioneira nesse tipo de abordagem. Em substituição à confecção de roupas para os personagens – prática comum na produção das novelas – ela procurou os moradores dos subúrbios do Rio de Janeiro para que dessem as roupas deles para compor o figurino de Carlão (Francisco Cuoco), um taxista suburbano, protagonista de “Pecado Capital”, primeira novela “realista” da Globo. Em troca, a equipe deu roupas novas para os moradores do bairro e os atores vestiram trajes usados em cenas.  Francisco Cuoco completou a caracterização de Carlão engordando um pouco e deixando crescer bigode e costeletas.
Processo artesanal 
Além do escambo, as peças novas novas foram criadas respeitando um processo artesanal, em que as roupas passam por uma primeira etapa de descoloração do tecido e posterior tingimento para chegar na cor definida. A finalização é realizada com técnicas de envelhecimento natural: exposição ao sol, aplicação de cera, desgaste com lixas, pedras e a até própria terra do sertão foi usada, em alguns casos. “A gente trabalha nos detalhes. Eles fazem a diferença. É importante variar as técnicas para não ficar tudo igual. Diversidade é fundamental. No processo de envelhecimento, por exemplo, a gente vai tirando as cores do ombro, do cotovelo, para dar o ar de desgastado”, pontua Thanara Schonardie, figurista da novela.
O diretor Luiz Fernando Carvalho em gravação no sertão de Alagoas. (Foto: Globo/Caiuá Franco)
O diretor Luiz Fernando Carvalho em gravação no sertão de Alagoas. (Foto: Globo/Caiuá Franco)
Na primeira fase da trama, que começa no final da década de 1960 e se estende até os dias atuais, destaca-se os tons mais pastéis para o figurino dos personagens sertanejos, e tons mais saturados, mais “tropicália”, para os personagens que vivem na capital, Salvador.  “Comecei trabalhando Iolanda (Carol Castro), Leonor (Marina Nery) e Encarnação (Selma Egrei). No figurino de Leonor, estou usando muita flor e xita com estampa colorida. Os tecidos estampados vão sendo colocados em camadas e ganham volume. Já Iolanda representa a busca pela identidade brasileira, uma linguagem da tropicália, ela usa mais decotes e a roupa é mais estruturada no corpo”, ressalta Thanara.
Os processos de envelhecimento e vivência foram realizados com os acessórios de todos os personagens também. Até agora, a equipe já trabalhou em mais de 700 acessórios, incluindo chapéus e botas. “Para os chapéus, deixamos expostos ao sol para que assumissem um aspecto de queimado, cores distintas e usamos outras técnicas de envelhecimento. Não é só envelhecer. Tem a marca do tempo, do dia a dia. Os chapéus vieram do processo de envelhecimento e tínhamos que dar formas da cabeça. Cada personagem usa de um jeito. Tem a marca da mão, de acordo com a forma como ajeita o chapéu na cabeça”, detalha a figurinista.