Moda e beleza

Marina Mori

Fotógrafo reage a ataques a ensaio contra gordofobia: “vou responder com arte”

Marina Mori
21/12/2017 09:45
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Fotos: Israel Reis / Divulgação

Três modelos posam, nuas e lado a lado, em frente a um paredão de pedra. Esta é a foto que tem circulado milhares de vezes em Facebooks, WhatsApps e Instagrams no Brasil nos últimos dois dias. A cena teria todos os elementos característicos dos inúmeros ensaios fotográficos femininos postados diariamente nas redes sociais, não fossem dois detalhes: as três são obesas e duas delas são negras.
Foi num intervalo de alguns cliques para que a enxurrada de comentários racistas e gordofóbicos começasse. Mas era bem isso que o fotógrafo, o baiano Israel Reis, de 23 anos, esperava. “A intenção era realmente essa, causar um choque e gerar uma conversa para que as pessoas falem sobre o preconceito”, explicou em entrevista por telefone ao Viver Bem.
O ensaio, batizado de “Mulheres – Miscigenadas – Gordas e Felizes” pela modelo e esposa do fotógrafo, Thais Carla (conhecida como a bailarina plus size de Anitta), é apenas o primeiro de uma série de fotos que está por vir. “Quero dar espaço às tantas pessoas que sofrem por serem diferentes”, diz Reis. Pessoas portadoras de síndrome de down, cadeirantes e com vitiligo farão parte dos próximos cliques do fotógrafo.
A escolha do cenário para o ensaio também representa a luta contra o preconceito: as ruínas da Fazenda São Bernardino, em Tinguá, no Rio de Janeiro - um símbolo da época da escravidão. Foto: Israel Reis / Divulgação
A escolha do cenário para o ensaio também representa a luta contra o preconceito: as ruínas da Fazenda São Bernardino, em Tinguá, no Rio de Janeiro - um símbolo da época da escravidão. Foto: Israel Reis / Divulgação
Começar tratando do racismo e da gordofobia é como cutucar a ferida. Segundo Reis, o Brasil é miscigenação e a maioria da população está acima do peso. “Mas esse é o tipo de coisa que não se vê nas novelas, nas revistas. Parece que todo mundo é magro e branco”, opina.

Comentários de ódio

Nas redes sociais de Thais, que tem mais de 260 mil seguidores no Instagram, os comentários se dividiram entre o ódio e o amor. “Se convertessem metade da gordura delas em comida dava para alimentar a população da África por uma década”, publicou um internauta. Outro disse: “Nem pra usar a palavra gordinhas pra vcs ,pq isso daí passou de exagero ,tá feio ,tá ridículo ,tá horrível.”
Em resposta, muitas palavras de amor. “Lindo o ensaio de vcs, temos que nos acostumar com a diversidade do corpo feminino, se vc é feliz do jeito que é então dane se o mundo, se não é feliz vá procurar ajuda e mudar mais não tenta diminuir o outro pra ficar no mesmo nível e não ter que sair da zona de conforto. Parabéns meninas pela coragem, pela autoconfiança e alegria de ser feliz sendo quem é. Eu não consegui ser assim por isso mudei mais acho lindo quem se olha no espelho e se sente muito bem e feliz. Cada um tem o SEU jeito de ser feliz e viver a vida obrigada por demonstrar isso as outras mulheres. Grande beijo vcs são lindas.”
Por isso, falar sobre preconceito é essencial, segundo o fotógrafo. “Enquanto eu não vir minha mulher confortável em qualquer loja e eu mesmo, como negro, não ser olhado de canto, vai ser necessário. E, quanto mais críticas negativas eu receber, mais eu vou responder com arte.”
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