Moda e beleza

BRUNA COVACCI, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO

Elegância essencial

BRUNA COVACCI, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
06/03/2014 03:06
Ela inspira qualquer mulher. Além de elegante e clássica, Costanza Pas­colato é decidida, firme e corajosa. Sua relação com o mundo fashion veio de berço, desde que, em 1947, os pais Ga­­briella e Michele Pascolato fundaram a Tecelagem Santaconsta­ncia no Brasil. No colégio, chegou a ficar de castigo porque customizava o uniforme. Achava que ele não ficava bem nela, subia a barra da saia, usava o casaquinho ao contrário para esconder os bo­­tões dourados e criava novos nós para gravata. Hoje, depois de percorrer uma trajetória invejável na moda, superar uma depressão e um câncer de mama, a ícone de estilo está a todo vapor, tanto que relançou seu livro O Essencial: o que você precisa saber para viver com mais estilo. Seu lema: estilo e a liberdade.
Você acaba de relançar o livro O Essencial, uma espécie de manual de estilo para as brasileiras. O que mudou da primeira edição (1997) para esta?
O Brasil mudou, houve uma revolução social. Isso trouxe uma identidade própria para as brasileiras, um comportamento mais notável. Eu, que sou estrangeira, vejo que não existe mais a vergonha de ser brasileira. Na década de 1990 era assim, eu achava um absurdo. A nova geração não está nem aí para os desfiles que não entendem. Hoje, há uma nova cultura de vestir. As brasileiras são cada vez mais locais e há claramente a opção do fast fashion, o mundo da moda sentiu um baque com isso.
O que a chegada da internet mudou para o universo da moda?
Tudo. Acho que questiona até um pouco o meu emprego. Eu trabalhei com revista nos últimos 20 anos. Passei por jornal e ainda colaboro para algumas mídias. Senti muito a chegada da internet. Aí entra a questão da blogueira. Minha análise de velha virginiana que está há muito tempo no mercado é até um pouco engraçada. Tem muita gente, principal­mente da imprensa internacional, que é contra. Que julga. Eu entendi o seguinte: é muito simples, não vou julgar a blogueira. Quer saber por quê? Nossa moda, cultura e comportamento são muito recentes, reflexo da mudança e revolução dos últimos dez anos. Se elas têm algum sucesso, precisam ser respeitadas. Até acho mais legal que as meninas se inspirem em blogueiras do que em atrizes.
Você aderiu ao processo virtual?
Passei a integrar o time do Shop2gether por conta disso. Também lancei meu próprio site (www.costanzapascolato.com.br). Escrever para internet é algo que nunca tinha feito. Abri uma página no facebook, que uso pouco porque não gosto muito e o instagram (@costanzapascolatos2g), que adoro.
O que muda numa mulher que sabe identificar o seu estilo e não faz compras influenciadas apenas pelas tendências?
A vantagem de descobrir seu estilo é basicamente a de se conhecer melhor, e não só fisicamente. Você passa a reconhecer suas preferências, sua maneira de ser. Descobre o que fica bem em você. Sempre digo que é você quem deve vestir a roupa e não o contrário. O resultado final é incrível. Eu só me conheci de verdade depois dos 30 anos. Antes eu ficava nessa de querer casar, ter filhos ou comprar um bichinho de esti­mação sem me identificar nem me livrar das dependências. Porque se você está bem com você mesma, não vai querer uma rela­ção, amizade, bicho de estimação ou filho para satisfazer você e a sociedade. Para isso, eu uso a frase de Clarice Lispector: ‘Não copie uma pessoa ideal, copie você mesma’.
Dentre os designers brasileiros, quais os seus favoritos?
Eu sou uma senhora. Gosto de me vestir com o que está na moda, mas tenho alguns tipos de necessidade. Eu preciso de estrutura, de peças organizadas e não posso mais sair de camiseta por aí. Por mais magra que eu seja, meu corpinho deu o que tinha que dar. Dos estilistas nacionais uso muito a Glória Coelho, Reinaldo e Pedro Lourenço. A roupa deles é feita no mesmo ateliê e tem a qualidade que eu preciso.
O que fez você escolher os óculos escuros como marca registrada?
Eu tenho dois problemas sérios: seis graus de astigmatismo e hipermetropia. Também sofro de fotofobia. Foi por isso que passei a usar os óculos de sol. Eles têm grau forte e lentes degradê, que me possibilitam usá-lo o dia inteiro, inclusive no trabalho. Sem contar que, com a minha idade, a cara vai caindo. Então, eu pinto meus olhos, faço um cabelo estilo anos 1960, coloco meu óculos e me sinto pronta e protegida.
Como você vê o futuro da moda?
Tudo expandiu por conta da globalização, inclusive o luxo. Tenho feito alguns estudos que me forçam a conversar com alguns filósofos. Eles dizem que o mundo vai se tornar um patchwork novamente, pequenos grupos vão se reunir por conta da identidade visual e de moda.
Ser uma referência de moda, como você, custa caro?