Moda e beleza

Embarque na nossa moda

Larissa Jedyn
25/10/2012 02:08
Na “tríplice aliança da moda paranaense”, Cianorte e Maringá representam um dos mais importantes polos de produção de moda do país e Londrina, um berço de criadores. O Noroeste do estado foi a primeira parada da Expedição da Moda Viver Bem, em parceria com o Centro Europeu, que foi até lá para conhecer lojas, fábricas e gente, que tem cara, coragem e vontade de fazer e acontecer
Cianorte
Pense em um lugar em que, aproximadamente 90% da população trabalha ou tem alguma relação com a moda. Essa vocação começou nos anos 1970, quando a geada negra arrasou as lavouras de café da região. O libanês Chebli Nabhan era comerciante na época e resolveu, então, produzir roupa. Como queria fazer o negócio prosperar, pensou em criar um polo e, para isso, não podia estar só. Incentivou a concorrência, criou um shopping para que todos pudessem vender sua produção e inventou um sistema de atacado que funciona até hoje (os seis shoppings de pronta entrega trabalham com agentes de moda que trazem compradores do Brasil inteiro para o município). Hoje, Nabhan acompanha de perto a linha de produção da Private Label (uma unidade que reúne a confecção de diversas marcas do grupo, com foco no jeans) e da Lavinorte – uma das mais importantes lavanderias da América Latina. Por lá, toneladas de peças circulam em processos variados, que vão de marcas feitas em laser, aplicação de resinas, desgastes, colorações e efeitos 3D e deixam o jeans com a cara que a gente conhece.
A estrutura do polo também beneficiou empresas menores, como é o caso da Gravataí, uma das cinco fábricas de gravatas que resistem no estado. Para modernizar o negócio, o proprietário Oséas de Souza Gimenes inventou a gravata de zíper, a gravata fácil (com o nó feito e uma faixa que prende a peça ao pescoço) e se adequou à estamparia digital. Ele mantém dez funcionários na fábrica e produz uma média de 5 mil peças/mês. A Runas Designers, por sua vez, é uma estamparia que presta serviço para pequenas e grandes empresas de Cianorte e do resto do país. Eles recebem as orientações dos estilistas, formatam as estampas e imprimem as roupas, por meio de processos mais artesanais e de outros mais modernos como o carrossel, que estampa quase mil peças por dia.
Gigante
Eles têm a top model curitibana Isabelli Fontana como garota propaganda, são uma das 20 melhores empresas do Paraná para se trabalhar (segundo ranking do Instituto Great Place to Work) e não param de crescer. Tudo no plural; afinal, a Morena Rosa de antigamente virou Morena Rosa Group, que compreende as marcas Morena Rosa, Maria Valentina, Zinco e Joy. À frente da holding, Marco Franzato, um ex-boia fria empreendedor, que emprega diretamente 2,4 mil pessoas e tem uma produção de 300 mil peças/mês. O faturamento do grupo chega aos R$ 300 milhões/ano e o negócio só faz aumentar.
Maringá
Nem jeans, nem malha. A segunda parada da Expedição da Moda Viver Bem descobriu que o Paraná guarda uma importante rota da seda. Em Maringá, uma fábrica de um quarto de século produz tecidos de seda artesanais. O Casulo Feliz nasceu da ideia do zootecnista Gustavo Rocha de reaproveitar os casulos rejeitados na produção do tecido nobre por estarem fora do padrão. Daí veio a missão de criar seda boa, de um jeito sustentável, usando corantes naturais e se tornar um agente de desenvolvimento sócioeconômico na comunidade em que atua. Hoje, O Casulo Feliz fornece matéria-prima para empresas de decoração e moda, como é o caso da Osklen e da Animale. Das instalações da empresa, a designer e criadora do estilo Casulo Feliz, Glicínia Setenareski, levou a Expedição para Astorga, onde acontece a produção dos bichos da seda. A fibra natural é um filamento contínuo de proteína, produzido por lagartas que se alimentam com folhas de amora. Cada casulo rende aproximadamente de um a três quilômetros de fio de seda. Segundo o produtor Paulo Pereira de Oliveira, 240 mil lagartas fazem 430 quilos de seda e cada safra rende aproximadamente R$ 4 mil.
Negócios e ideias
Maringá é o segundo polo atacadista mais importante do país, ficando atrás só de São Paulo. Os shop­­pings da região, também funcionam com sistema de agentes de moda e pronta-entrega. A região conta com mais de mil lojas e quatro shoppings e recebe semanalmente cerca de 5 mil pessoas.
A cidade também é sede de um projeto inovador, chamado de Indústria de Ideias. Debora Iasbek, Ana Carolina Carneiro e Patrícia Saragioto comandam há um ano uma equipe de estilistas e estagiários que criam coleções para clientes pequenos ou até mesmo os grandes que estão querendo renovar seus produtos, elaboram estampas sob encomenda, criam estratégias de comunicação e marketing em mídias sociais e vendem até pesquisas de tendências.
Londrina
Na terceira parada, a Expedição ganhou um forte caráter autoral. Deve ser por causa da Universidade Estadual de Londrina (UEL), que a cada ano lança 30 profissionais no mercado. Ou por empresas como a Züe, de Andréia Ferreira e Luciana Kouri. Lá, as roupas coloridas, estampadas, leves e atemporais são criadas por Andréia, mas a confecção é terceirizada. Outro estilista com uma linha absolutamente autoral e conceitual é Nélio Pinheiro, diante da sua marca Overloque, que toca junto da irmã Lilica Pinheiro. Eles trabalham com roupas sustentáveis e artesanais, feitas a partir da reciclagem de tecidos, de customização de modelos prontos, além de uma predileção pelas peças multiuso. É um jeito, segundo ele, de tornar a moda menos comercial e mais interessante. O Overloque tem roupas na sua loja para pronta-entrega, atende por encomendas e faz figurinos de teatro e cinema.
A Mulher Elástica é outra londrinense que apostou no conceito. A grife de fashion fitness foi uma evolução do trabalho de conclusão de curso de Tatiana La Pastina Krzyzanowski. Ela desenvolveu uma marca de sportwear com forte apelo de moda: tecidos tecnológicos, recortes capazes de valorizar o corpo feminino e até roupa que pode ir da academia para a rua e até para a balada. A marca está presente em lojas de Londrina e São Paulo, além de multimarcas pelo país. E entre as grandes, a Puramania, de Chebli Nabahn Junior, filho do pioneiro da moda de Cianorte. De estilo jovem e descontraído, a marca é forte no segmento jeanswear, mas também trabalha uma linha de malharia bem moderna e hoje investe em linhas infantis e de acessórios.

Expedição da Moda