Moda e beleza

Marina Mori

“Chip da beleza” promete fim da celulite e perda de peso. Veja a opinião dos médicos

Marina Mori
09/04/2018 07:00
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Foto: Bruce Mars / Unsplash

Um cilindro de silicone com três centímetros de comprimento e dois milímetros de largura: este é o tamanho médio do “chip da beleza“, um implante hormonal contraceptivo que promete dar fim à TPM, às cólicas menstruais e à celulite. A lista de “benefícios” não para por aí: perda de gordura localizada, aumento de tônus muscular e pele perfeita. Será possível?
Ana Hickman, Adriane Galisteu e Raica Oliveira são algumas das celebridades que aderiram ao implante. Mas os médicos são enfáticos a respeito do uso dos hormônios para fins estéticos: tanto o Conselho Federal de Medicina (CFM) como também a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) são contrários à prática.
“Por enquanto, não há segurança a longo prazo nem garantia dos efeitos prometidos”, explica Juliana Olavo Pereira, ginecologista do Hospital Santa Cruz e uma das autoras do blog Mulher Descomplicada.

Por que o chip da beleza pode ser prejudicial?

O alerta dos médicos diz respeito aos efeitos adversos do implante. “As chances de que haja um aumento de pelos, engrossamento da voz e androgenização (características masculinas) são grandes. E estas mudanças são permanentes”, afirma Élvio Floresti Junior, ginecologista e obstetra da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Surgimento de acne, aumento de peso e do clitóris e problemas hepáticos são outras possíveis reações provocadas pelo implante.
Além do interrompimento da menstruação e a melhora da TPM, os tão esperados efeitos positivos do chip da beleza são: diminuição da gordura localizada, melhora significativa da pele, tônus muscular e o fim da celulite.
A responsável por todas as mudanças – positivas e negativas – é a testosterona, hormônio predominantemente masculino. Mas, segundo Floresti Junior, ela é como uma faca de dois gumes e não há como saber se funcionará da maneira esperada para as mulheres.
“Não tem como saber até que se experimente”, diz o ginecologista, que também é contra o uso do produto. A “receita” de cada implante é individual e depende do profissional avaliar quais hormônios devem compor o implante.
Pereira lembra, também, que toda a administração hormonal é passível de reações. “Toda vez que a gente administra um hormônio acima da dose humana ocorrem efeitos colaterais”, explica a ginecologista.

Não é milagre

Para Rosângela Réa, endocrinologista e professora do curso de medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), quase tudo em relação ao chip da beleza é problemático, a começar pelo modo como é conhecido. “É um alarde tratar disso como se fosse algo milagroso, sendo que para muitas mulheres o risco é maior que os benefícios”.
A reposição hormonal, quando necessária, é bem-vinda, explica Réa. Porém, deve ser avaliada individualmente. “Algumas mulheres precisam bloquear ou repor certos hormônios, mas o mais importante é o acompanhamento de cada paciente a longo prazo”, diz.
Como funciona
O chip da beleza não é algo inédito. Segundo o ginecologista Élvio Floresti Junior, os implantes contraceptivos existem há pelo menos 20 anos. Após uma anestesia local, o produto é inserido subcutaneamente no braço, no abdôme ou no glúteo e pode durar de seis meses a um ano.
O objetivo do implante é agir como um contraceptivo. Através de hormônios como a gestrinona (esteroide sintético), os ovários param de produzir óvulos, interrompendo a menstruação.
A aplicação é feita no consultório ginecológico e custa de R$ 800 a R$ 2 mil. Pode ser removido a qualquer momento.
O implante é contraindicado para mulheres com histórico de trombose, doenças cardiovasculares, fumantes e sedentárias.
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