Moda e beleza

Jovens estilistas levam arte e inovação para a passarela do PBC; veja vídeos

Bia Moraes - especial para a Gazeta do Povo
20/02/2011 00:10
Ao abrir espaço para oito jovens estilistas paranaenses na última noite da semana de moda, o 5º Paraná Business Collection acerta no alvo da inovação. Os novos designers levaram à passarela o frescor de quem está construindo uma linguagem e a ousadia dos que desejam quebrar barreiras.
É o toque de arte que faltava para fechar, com chave de ouro, a semana que mostrou o melhor da moda paranaense, entre marcas e nomes consagrados, outros em ascensão e talentos a serem lapidados.
O desfile dos oito jovens designers foi dividido em dois blocos. O primeiro desfile, às 19h, mostrou o trabalho de Rodrigo Orizzi, Alexandre Linhares, Marcelo Carraro e Karina Taques.
Antes de cada show, a apresentação de um vídeo curto, com o próprio designer falando brevemente sobre a coleção, levou ao público a informação necessária sobre as criações, de forma muito simpática e informal.
Rodrigo Orizzi
O estilista Rodrigo Orizzi abriu o desfile coletivo lançando sua grife, batizada de dri.GO, no evento. É moda masculina de vanguarda – em outras palavras, para poucos.
Inspirado em ícones do universo camp (um tipo específico de cafonice americana), como o cineasta John Waters, seu filme Pink Flamingos e a drag queen Divine (obesa e exagerada), Orizzi apresentou um desfile muito divertido e alto astral.
A trilha sonora, com música de uma banda de rock inglesa pouco conhecida dos anos 70, foi o complemento perfeito para a coleção que mexe com o universo masculino, fazendo um inteligente cruzamento entre peças bem tradicionais e outras totalmente gays, e entre alfaiataria e sportswear.
A imensa boca vermelha, a peruca loura e as sobrancelhas de Divine aparecem em estampas espertas. Leggings fazem contraponto com blazers, e aparecem também ícones muito femininos, como blusas soltas e transparências. Mas é bom anotar que, por trás da aparente brincadeira, está um criador ousado e talentoso.
Alexandre Linhares
A grife Heroína tem apenas três anos. Mas a coleção apresentada na mostra Ideia Moda parece ter saído da cabeça de um designer bem mais maduro e experiente. Linhares vem se aperfeiçoando na linguagem da moda: evolui com firmeza, pois consegue, como poucos, unir arte, técnica e criação.
Impactante é o mínimo que se pode dizer do show apresentado no PBC. A inspiração, de acordo com Linhares, é Deus e a criação do mundo.
Por isso, o áudio era composto por ruídos que chegavam a incomodar – mas casaram perfeitamente com o que se viu na passarela. Gritos de uma mulher “parindo o mundo” e sons de água e animais, na trilha composta por César Munhoz, fizeram fundo a looks inebriantes.
Os vestidos e camisetas criados por Linhares têm um trabalho minucioso de nervuras e cordões que, de acordo com ele, são a evolução da técnica de moulage (construção e costura da roupa no corpo da mulher), que ele domina e utiliza desde que começou a carreira de estilista.
Graças a essa ideia, cada peça da coleção pode ser construída e modelada de diversas formas, no corpo, ao ser trajada. Mas os cordões não são apenas funcionais – são ao mesmo tempo linguagem, conceito, ferramenta e marca.
O branco (o “nada”, diz Linhares) está em todas as peças, quase sempre por inteiro. Os poucos tons que aparecem “borrando” o branco representam momentos da criação do universo, explica o designer: marrons e verdes são da terra e da água, enquanto vermelhos e rosas lembram o surgimento do ser humano.
Marcelo Carraro
A trilha sonora deu a dica da coleção que entraria na passarela: nada menos do que a aguardada música nova de Lady Gaga, Born this Way. Ultradançante e pop até o talo, a canção é como as roupas do jovem estilista: nova, mas já nasce datada (é copiada de um hit de Madonna dos anos 80).
Os looks criados por Carraro são, como ele mesmo explica, para a mulher que quer arrasar na pista de dança da balada. Então, as roupas são “mais do mesmo”, do que já se viu exaustivamente nas últimas temporadas: inspiração rocker, muito preto, couro, correntes, ombreiras, leggings, minissaia justíssimas e curtíssimas, jaquetas poderosas, leggings. A coleção tem público e (ainda) encontra espaço, por mirar num perfil de cliente bem específica.
Karina Taques
O conceito de construção e desconstrução do pensamento foi traduzido em peças que se transformam. Tons beges e terrosos e o preto aparecem em trajes de malha que podem ser um casaco ou um vestido; um capuz ou um cachecol; uma blusa ou um casaco. Todas as peças apresentadas são “transformáveis”.
O resumo dessa ideia foi o último look do desfile: a modelo entrou com um vestido longo e, depois da volta na passarela, parou na boca de cena, onde foi “trocada” ao vivo por Karina. A peça se transformou em duas – um casaco com capa- após algumas mudanças de abotoamento e dobras, sob os olhos da plateia, que adorou o show.
A modelagem solta e a decisão de não seguir tendências de temporadas fashion, em busca de linguagem própria, é marca registrada de Karina, que prega o estilo com conforto. Por isso, as silhuetas criadas pela designer lembram o minimalismo dos anos 90 e o japonismo, que é visto de tempos em tempos na moda.
Ao mesmo tempo, os looks desta coleção lembram tribos tuaregues do Saara e têm um ar de despojamento enigmático. Karina vem criando coleções consistentes e se afirmando como criadora. Neste desfile, deu mais um passo certeiro nessa direção.
A estilista está, também, formando um público fiel de compradores e admiradores, que deve crescer com esta coleção. Pela primeira vez, ela faz roupas masculinas – outro acerto da jovem designer.