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Raio-X pela saliva

Amanda Milléo
15/05/2014 03:12
Esqueça as agulhas do exame de sangue tradicional. Em um cuspe será possível diagnosticar diabete, câncer bucal, de pulmão, pâncreas, ovário, síndrome de Sjogren e até mesmo Alzheimer, nos próximos anos. Ativa no processo de digestão, a saliva é um biofluido que, embora 99% seja água, 1% contém os mesmos biomarcadores presentes no sangue, que possibilitam a identificação de doenças mesmo no estágio inicial, sem o desconforto da picada.
Apesar do crescente número de estudos, ainda não é possível substituir o exame de sangue pelo da saliva, mas pesquisadores brasileiros e norte-americanos têm buscado a melhor forma de analisar, identificar e quantificar as substâncias presentes no biofluido. As diferenças nos níveis de hormônios em distintos períodos se tem, além do risco de uma amostra não estéril e a contaminação por sangue são alguns pontos que precisam ser melhorados. "Mesmo que não chegue a substituir um processo pelo outro, é uma nova forma não invasiva e de fácil coleta, especialmente para as crianças", afirma a professora de odontopediatria e pesquisadora da saliva, hipertensão e diabete pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carla Martins.
A favor da saliva, no entanto, estão as detecções iniciais das doenças. Enquanto pequenas alterações podem não ser identificadas em um exame de sangue tradicional devido aos diversos componentes presentes, a saliva consegue mostrá-las. "As pequenas alterações precisariam de um volume maior para ser detectadas, como no caso do câncer de mama", afirma a professora visitante da UFRJ e pesquisadora dediagnósticos de doenças orais e sistêmicas pela saliva, Liana Fernandes.
Saliva saudável
Toda saliva é saudável, segundo a pesquisadora Carla Martins, desde que seja produzida em uma quantidade suficiente. Às vezes, a redução passa despercebida, e o dentista verificará, em diversos cuspes, se a produção está normal. Me­dica­mentos de homeopatia, para hipertensão e antidepressivos reduzem o fluxo salivar. "Existe também uma diferença entre as idades. O recém-nascido tem 1/18 da saliva de uma criança de um ano. Depois, a produção aumenta e se estabiliza. O idoso apresenta menos saliva pelos medicamentos que toma", explica a professora da UFRJ, Liana Fer­nandes.
Agilidade no hospital
O processo de análise dos biomarcadores na saliva e no sangue é feito da mesma forma, mas alguns estudos têm procurado mudar isso, tornando-o mais rápido e acessível a localidades distantes. Em apenas um minuto e sem a necessidade de equipamentos, um grupo de pesquisadores da PUCPR desenvolveu fitas reagentes, em parceria com um laboratório dos Estados Unidos, para o diagnóstico da falência renal aguda. "É um teste de reação de cor. Faz-se a imersão das fitas na saliva coletada e a leitura é realizada após um minuto, para identificar a quantidade de ureia", explica o diretor do programa de pós-graduação em ciências da saúde da PUC e orientador do trabalho, Roberto Pecoits Filho.