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Várias fontes de informação, mas pouco conhecimento de verdade. É desse modo que o bioquímico José Miguel Mulet parece enxergar a cada vez mais popular discussão sobre alimentação saudável e que faz crescer apenas o exército dos críticos aos processos de melhoria dos alimentos e ampliação da sua entrega. Do outro lado do front, o espanhol que diz que nunca a humanidade comeu com tanta segurança quanto hoje não se intimida por ser uma voz quase solitária. E afirma: "Não somos o que comemos, comemos o que somos."

Recentemente tendo lançado o livro "Comer sin miedo", pela editora espanhola Destino e sem previsão de publicação no Brasil, ele adiciona pitadas de bom humor para quebrar a acidez daqueles que se esforçam em tornar o prosaico prazer de comer em outra nova neurose moderna.

Cite três mitos sobre a alimentação contemporânea.

Apenas três? Primeiro, de que tomar leite é algo que faz mal. Segundo, de que comemos pior que nossos avós. Terceiro: que o alimento orgânico é melhor para a saúde e o meio ambiente.

Há poucos defensores e muitos atacantes da modificação e processamento de alimentos?

A modificação genética de culturas é a tecnologia agrária que tem a mais rápida implantação em toda a história da agricultura. O problema é que a mídia só recebe a mensagem do outro lado, nunca a dos agricultores que optaram livremente por esta tecnologia.

"Não coma nada que sua avó não reconheceria como alimento". Este é um conselho válido?

Minha avó viveu o duro pós-guerra europeu e ela comeu coisas que nos dariam asco e nos adoeceriam, mas não havia outra coisa. Se tivéssemos sempre seguido este conselho, estaríamos hoje comendo mamutes e frutas silvestres.

Comer alimentos orgânicos é uma atitude saudável?

Não, não existem estudos que provem isso. Além disso, a norma que torna um alimen­to orgânico muda de um país para outro, conforme a legislação. Na verdade, temos hoje mais problemas por intoxicações causadas por alimentos orgânicos.

Por que devemos nos preocupar quando vemos os termos "natural" e "sem conservantes"?

Eu prefiro um alimento com conservantes a um alimento contaminado que possa colocar em risco a minha saúde. E nada do que você come é natural. Conhece alguma árvore que dá pão? Ou alguma planta silvestre que dê laranjas?

Por que você defende o uso de conservantes? Eles são mais benéficos que prejudiciais?

Graças a eles, não jogamos fora milhões de toneladas de alimentos todo ano, o que permite que mais pessoas comam e que graças a eles tenham desaparecido enfermidades relacionadas à má qualidade dos alimentos que até poucos anos causavam centenas de mortes anualmente.

É possível remover da dieta alimentos com produtos químicos ou alterados geneticamente?

Não. Tudo o que comemos é feito de átomos e moléculas, portanto tudo é química. Tudo o que cultivamos o temos modificado ao longo de milênios. São plantas e animais artificiais que não existiriam sem a mão do homem.

Graças aos conservantes e às espécies domesticadas vivemos até os 80 anos, enquanto as pessoas do Paleolítico morriam de velhas aos 25 anos.

Industrializar alimentos tem esvaziado significativamente seus aspectos nutricionais?

Não, isso é um mito. É verdade que em alguns casos se tem abusado do uso de sal, açúcar ou gordura para torná-los mais palatáveis, porém em outros casos temos conseguido que mais pessoas tenham acesso a alimentos tão saudáveis como frutas e verduras.

Uma dieta vegetariana é saudável? E a de comidas cruas?

A vegetariana pode ser, se levarmos em conta equilibrarmos os nutrientes que são mais pobres nos vegetais. A de comida crua, em absoluto. É uma moda recente e absurda: aumenta-se o risco de intoxicação e coloca-se em risco a absorção de muitos nutrientes.

"Não coma ingredientes que você não pode pronunciar". Este é um bom conselho?

Isto é uma bobagem. O nome científico do açúcar de mesa é alfa-D-Glucopiranosil - (1a2) - beta-D-Fructofuranósido. E assim poderíamos fazer com qualquer outro alimento se nos atentássemos para seus nomes técnicos. Portanto, esta afirmação cai pelo seu próprio peso.

Nos Estados Unidos, há uma discussão sobre o uso de corantes que tem repercutido no mundo todo. A remoção de corantes pode causar algum dano à alimentação humana?

Não, mas a comida não seria tão apeti­tosa. É impor­tante ter em mente que o uso de especiarias como o açafrão e a páprica têm mais a intenção de colorir do que de dar sabor.

O que você acha sobre os governos implementarem leis reduzindo níveis de sódio e açúcar?

Soa como uma decisão sábia. Alguns fabricantes têm abusado desses produtos. Um consumo excessivo e continuado pode ter uma incidência negativa na saúde e esse prejuízo é pago por todos. Parece boa qualquer medida que pretenda cuidar da saúde da população.

Fale um pouco sobre sua frase: "Nós não somos o que comemos, comemos o que somos."

A comida é mais uma expressão cultural, onde se inclui a música, a roupa e os esportes. A comida no Brasil é diferente da comida da China e do Japão. Portanto, a comida é algo que nós fazemos e que expressa a nossa maneira de ser.

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