dança

Sapatilhas na academia

Amanda Milléo
15/05/2014 03:26
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Da esquerda para a direita, as alunas de balé da Studio D1: Mariah Borth, Rebeca Gebauer, Sophia Quadros, Marcelly Evelin e Talita Gebauer | Letícia Akemi / Gazeta do Povo

Postura, alongamento, amplitude de movimentos, força e equilíbrio. O balé não se trata apenas de uma dança ou atividade lúdica, é um exercício que exige de seus praticantes uma condição física tão boa quanto outros esportes. Além de condicionamento físico, o balé demanda também excelência no desempenho artístico do dançarino.
"O bailarino sempre foi comparado a um atleta, no que diz respeito à preparação física. Mas, algumas especificidades são inerentes à técnica de dança e também a uma qualidade artística, que não é apenas muscular", afirma a maitre e ensaiadora do Balé do Teatro Guaíra, Marcia de Castro. Os trabalhos físicos começam logo na primeira aula, que exigem muito mais que o aquecimento muscular dos dançarinos. "É quando trabalhamos nossas dificuldades físicas, aperfeiçoamos nosso nível técnico e experimentamos outras abordagens para os mesmos movimentos que repetimos ao longo da vida profissional", explica Marcia.
Os exercícios, segundo a maitre, se organizam em uma sequência crescente de amplitude, dinâmica, velocidade e complexidade. Normalmente a aula se inicia nas barras laterais e é finalizada no centro da sala. "Uma boa aula de balé contempla todos esses aspectos, trabalha a postura, o alongamento, a amplitude dos movimentos, principalmente os músculos abdutores, da virilha, para levantarem a perna em uma rotação. Caso contrário, ela não fica em promenade, ela não fica em arabesque", afirma a professora de dança e proprietária da escola Studio D1 (foto), Dora de Paula Soares, que segue os métodos da Royal Academy of Dance, do Reino Unido.
Fitness melhor
A qualidade da condição física dos bailarinos foi comprovada em uma pesquisa da Universidade de Hert­fordshire, publicada em 2008. Os autores Andrew Garrett e Tim Watson, conferencistas em Exercício e Fisio­logia Ambiental pela Universidade, formaram um perfil de fitness dos bailarinos da academia Royal Ballet e dos nadadores da equipe nacional do Reino Unido. Os resultados mostraram que os bailarinos apresentaram mais flexibilidade, força do pulso e medida do pulo vertical e horizontal em relação aos nadadores profissionais. "As diferenças entre os dançarinos e os nadadores ilustra que ambos precisam estar bastante em forma, mas eles não precisam ter o mesmo fitness para serem bons nos seus esportes", conclui o estudo.
Além da sapatilha
Apesar de ser um exercício completo, às vezes é necessário um trabalho físico paralelo, para fortalecer áreas específicas do bailarino. "O joelho é uma articulação frágil em termos de balé. Se a pessoa não for hiper extensa, não consegue dançar e tende a se machucar. Por isso que às vezes é feito um trabalho de fortalecimento da musculatura anterior, mas é suplementar", explica Dora de Paula. Entre as atividades mais escolhidas pelos dançarinos, o Pilates cuida da manutenção física, previne e reabilita em casos de lesões. "Outros preferem um treino mais aeróbico, outros a musculação. A dança exige uma fisicalidade muito maior e o trabalho complementar ajuda na performance e prolonga a ‘vida útil’ do profissional", afirma Marcia de Castro.
Crianças
Longe de ser uma atividade essencialmente lúdica, com brincadeiras e música, o balé exige dos pequenos disciplina e rigor técnico. "A criança que começa o balé com sete anos, com uma preparação desde os cinco, três vezes na semana, com 16 ou 17 anos já se forma", afirma Dora de Paula.
Os benefícios do balé para as crianças ultrapassam o lado físico. O bailarino aprende a ser sociável, solidário e criativo, segundo Marcia de Castro. "O trabalho muscular, no entanto, deve respeitar a faixa etária e as características anatômicas de cada físico", conclui.