Saúde e Bem-Estar

Roger Pereira, especial para o Viver Bem

Açúcar de adição deve ser eliminado da dieta de crianças até os dois anos

Roger Pereira, especial para o Viver Bem
30/03/2019 08:00
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Adicionar açúcar em alimentos consumidos por crianças de até 2 anos altera percepção de paladar da criança. Foto: Bigstock.

Quanto mais tarde o açúcar adicionado for inserido na dieta das crianças, melhor. A afirmação é da nutricionista Christiane Vitola, que reforça: “é na infância que o paladar está se formando. Se for introduzido o açúcar muito cedo, a tendência de que a criança se torne compulsiva é muito maior.”
Muitos profissionais desencorajam os pais a darem açúcar para as crianças antes dos dois anos de idade. É quase unânime entre eles a proibição total no primeiro ano de vida.
A recomendação é de que as crianças não tenham nenhum contato com o açúcar nos 12 primeiros meses de vida – e isso vale para qualquer produto que contenha o ingrediente, como iogurtes e bolachas. O principal motivo é a formação do paladar e da dieta.

“A criança irá ficar ‘viciada’ no sabor doce, e pode rejeitar grupos alimentares essenciais nessa fase, como proteínas, gorduras, minerais, vitaminas e carboidratos de boa qualidade”, diz o médico Aristides Schier da Cruz, responsável pelo Ambulatório de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie e membro do departamento de Gastroenterologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Sem valor nutricional
Os dois profissionais lembram que o açúcar de adição, que é o usado em casa para adoçar alimentos e bebidas ou o contido em produtos industrializados como doces e refrigerantes, não tem nenhum valor nutricional e, por isso, não traz benefício para o organismo.

“Os alimentos carregados de açúcar não têm minerais e vitaminas. Nada acrescentam nutritivamente. A gente chama isso de caloria vazia. A criança se enche de calorias, se sente saciada, pode até engordar, mas não adquire os nutrientes necessários, podendo ter o que se chama de fome oculta”, alerta o médico. O açúcar encontrado nas frutas e legumes é suficiente para gerar a energia necessária para o funcionamento do corpo e cerebral”, diz ele.

Aristides cita que já com um ano e meio de idade a criança começa a ser seletiva em sua alimentação, deixando de ingerir determinados grupos alimentares e aceitando apenas o que mais gosta, o que faz com que o hábito adquirido até essa fase da vida seja fundamental.

“Isso pode ser resultado tanto de neofobias (medo do novo) quanto até de autoafirmação em relação aos pais. Mas o que não dá é a família exigir que a criança coma verduras, se eles mesmos não comem”, diz Schier da Cruz, citando os principais erros alimentares: falta de vegetais, proteína animal, leite e derivados, e o excesso de guloseimas e líquidos açucarados, como refrigerantes e sucos prontos.

(Foto: Bigstock)
(Foto: Bigstock)
Após os dois anos
Após os dois anos de idade fica mais difícil controlar a ingestão de açúcar, já que as crianças começam a frequentar a escola e pedir por determinados alimentos. Se os pais decidirem permitir o acesso da criança a doces, é importante que essa oferta seja ocasional e em pequenas doses, e nunca permitir a substituição de uma refeição por doces.

“O açúcar é como um vício, ele age na mesma região do cérebro onde agem as drogas. Então, quando consumimos, temos uma sensação de prazer, euforia e, quando entra na corrente sanguínea, o corpo quer de novo essa sensação, porque existe uma liberação hormonal envolvida, de dopamina e serotonina”, explica a nutricionista Christiane Vitola.

Os profissionais reconhecem não haver nenhum estudo comprovando a relação do consumo de açúcar antes dos dois anos de idade com o desenvolvimento de doenças como diabete e obesidade, mas alertam que o hábito alimentar errado pode levar ao desencadeamento dessas doenças ainda na infância, caso não haja reeducação alimentar.
“Nessa idade ainda é muito cedo para se preocupar que a sacarose em excesso vai causar diabete ou, até mesmo, obesidade, mas se isso estimular um hábito alimentar errado, o que é bem provável, todas as doenças decorrentes desse hábito tornam-se um risco”, diz Schier da Cruz. “A partir do momento em que o pâncreas é exigido o tempo todo e precisa produzir insulina em grande escala, aumenta o risco”, diz a nutricionista Christiane Vitola.
De mãe para filho
Segundo o pediatra Aristides Schier da Cruz, a alimentação da mãe é determinante para o “programing”, a programação metabólica do feto, que será carregada pela vida inteira da pessoa que está para nascer. “Tanto na vida fetal, quanto no início da vida da criança, se ela sofrer excesso ou falta de algum nutriente, pode levar essa programação metabólica para o filho”, explica.
Assim, segundo o médico, um bebê que passou por restrições de nutrientes tende a ter um metabolismo celular pré-disposto a conservar energia, queimando poucas calorias, aumentando as chances de doenças como obesidade, hipertensão e diabetes. Efeito contrário pode ocorrer com filhos de mães que exagerarem na alimentação durante a gravidez.
Além disso, esses cuidados com a alimentação devem ser mantidos pela mãe durante a amamentação. “É necessário que a dieta seja equilibrada. Os nutrientes que a mãe adquire são repassados ao bebê. O médico reforça também que a ingestão de líquidos merece uma atenção especial. “Embora seja natural, pois a sede aumenta muito, ela não pode ser ignorada, tem que tomar água assim que sentir vontade.”
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