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Adolescente come pouca fruta e não larga doces e refrigerante, diz pesquisa

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07/07/2016 15:41
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(Foto: VisualHunt)

Na hora de matar a fome, adolescentes deixam as frutas de lado e a taxa dos que não largam os refrigerantes e doces é alta. Essa é uma das conclusões de um dos maiores estudos realizados no país para mapear os hábitos alimentares dos adolescentes e os fatores de risco de doenças cardiovasculares entre este grupo.
Apelidada do Erica (Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes), a pesquisa feita pelo Ministério da Saúde e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) ouviu adolescentes entre 12 e 17 anos de 1.247 escolas, distribuídas em 124 municípios.
Entre os alimentos mais consumidos por este grupo, estão arroz, feijão, pães, sucos e refrigerantes. E aí vem o alerta: essa última categoria aparece como hábito alimentar de 45% dos adolescentes, uma proporção considerada alta pelo Ministério da Saúde.
Doces e sobremesas aparecem na sequência, com 39,3% de adesão. Frutas, por sua vez, nem sequer aparecem na lista geral de 20 alimentos mais consumidos, mostra o estudo. Ao mesmo tempo em que ainda privilegiam bebidas açucaradas, parte dos adolescentes também mantém hábitos não recomendados por nutricionistas na hora das refeições.
A pesquisa mostra que 56,6% deles fazem as refeições “sempre ou quase sempre” em frente à TV, e 39,6% consomem petiscos em frente à telinha com essa mesma frequência.

“Ao consumir mais alimentos na frente da TV, do computador, do celular, acabam consumindo sem perceber o que estão ingerindo. Com isso passa a ingerir mais calorias e alimentos ultraprocessados”, diz Michele Lessa, coordenadora de alimentação e nutrição do Ministério da Saúde.

Entre os entrevistados, 100% também consomem vitamina E e cálcio abaixo do adequado, segundo a pesquisa. “O jovem está num momento de crescimento, e precisa do cálcio para formação óssea”, diz Lessa.
E os adultos?
Não são só os adolescentes que levam o “puxão de orelha” de especialistas nas pesquisas sobre os hábitos alimentares. Dados de 2015 da pesquisa Vigitel, feita por meio de inquérito telefônico com brasileiros acima de 18 anos de todas as capitais, mostram que os adultos também cometem deslizes semelhantes nas refeições.
Segundo o estudo, cerca de um em cada cinco adultos do país consome doces, refrigerantes e sucos artificiais quase todos os dias. Um terço dos entrevistados também têm o hábito de comer carnes com excesso de gordura. Entre os homens, esse percentual sobe para 42,6%.
A boa notícia fica por conta do consumo de frutas, que tem crescido entre adultos nos últimos anos. No ano passado, 37,6% dos brasileiros adultos entrevistados afirmaram consumir frutas e verduras regularmente. Em 2010, esse índice na Vigitel era de 29,9%.
Já o feijão permanece um dos favoritos à mesa: 64,8% consomem o alimento cinco ou mais vezes na semana.

“Há uma mudança, o que é uma boa notícia. Mas ainda não está no nível que seria preconizado, que é de consumir 400 gramas de verduras por dia”, diz a diretora do departamento de doenças e agravos não transmissíveis, Fátima Marinho.

Na balança
Apesar do maior consumo de frutas e verduras entre os adultos indicar uma mudança de cultura, a avaliação de técnicos do Ministério da Saúde é que o Brasil ainda tem vários desafios a vencer. Para a pasta, o resultado de alguns hábitos alimentares dos brasileiros se reflete nos índices de sobrepeso e obesidade, que continuam a crescer.
Em 2015, ano dos dados mais recentes disponíveis, cerca de metade da população acima de 18 anos estava acima do peso. Destes, 18,9% eram obesos. Para comparação, em 2006, esse percentual era de 11,8% -ou seja, houve um crescimento de 60% em dez anos.
A obesidade é um dos fatores de risco de doenças cardiovasculares. “É um problema que implica em muitos gastos na saúde pública”, diz o ministro da Saúde, Ricardo Barros. Também é alto o índice de adolescentes acima do peso: 17,1%, segundo a pesquisa Erica. Destes, 8,4% são obesos.
Propostas
Para tentar diminuir esses índices, o Ministério da Saúde afirma que está investindo em novos protocolos para estimular a alimentação saudável. Uma primeira diretriz foi lançada nesta quinta-feira (7). A portaria visa ampliar a oferta de refeições saudáveis e veta a venda, promoção e publicidade de alimentos industrializados nas unidades da pasta no país. A ideia é levar a mesma iniciativa para outros órgãos do governo.
Em outra ponta, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirma que vai levar ao Congresso uma proposta para regulamentar a comercialização e publicidade de alimentos e bebidas industrializados em escolas públicas e privadas. “A intenção é que a publicidade não induza as crianças [a consumir alimentos processados]”, afirma.

“Sou favorável a uma regulamentação onde a publicidade induza a bons hábitos alimentares”, disse.

Questionado sobre a possibilidade de propor uma restrição na publicidade de alimentos com alto teor de sódio, açúcar e gordura, por exemplo, o ministro evitou se posicionar sobre o tema. Mas sinalizou que medidas semelhantes podem ser discutidas. “Já existe restrição a publicidade de cigarros, de álcool e de publicidades à população infantil, mas essa legislação pode ser aprimorada”, afirmou.