Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Adultos e idosos não devem parar de tomar leite, diz Dráuzio Varella

Amanda Milléo
09/04/2017 14:00
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Dráuzio Varella esteve em Curitiba nesta quinta-feira (30) e conversou com o Viver Bem sobre a importância em tomar leite - mesmo na fase adulta (Foto: Globo/Reinaldo Marques) | REINALDO MARQUES

Tomar leite não é uma necessidade que se encerra na infância. Adultos e idosos precisam de tanto leite quanto as crianças, pois o envelhecimento reduz a produção de tecido ósseo, que necessita do cálcio presente no alimento e nos derivados. “Uma dieta sem leite e nenhum laticínio é, muito provavelmente, uma dieta deficiente em cálcio”, alerta o médico oncologista Dráuzio Varella, que discursou sobre o assunto na noite de quinta-feira (30), em Curitiba.
O médico esteve na capital como parte do movimento #BebaMaisLeite, durante cerimônia de encerramento da 7ª edição do Simpósio Leite Integral, e conversou com exclusividade ao Viver Bem. Tire suas dúvidas sobre alguns dos mitos e verdades sobre leite!
O médico oncologista conversou com o Viver Bem na noite desta quinta-feira (30) (Foto: Alison Martins / Gazeta do Povo)
O médico oncologista conversou com o Viver Bem na noite desta quinta-feira (30) (Foto: Alison Martins / Gazeta do Povo)
Adulto precisa tomar leite?
O leite é uma importante fonte de cálcio. É um dos alimentos que mais cálcio contém, ao lado dos derivados, como iogurtes, coalhadas e queijos de um modo geral. A necessidade do organismo de cálcio é uma necessidade grande, você precisa ingerir um grama de cálcio por dia. O cálcio não está só no leite, mas nos derivados e também nas verduras, principalmente nas verduras de folhas escuras. Mas uma porção de verduras tem cerca de 250 miligramas de cálcio apenas. A quantidade de verdura que você precisa comer é muito grande para satisfazer as necessidades do organismo. Com leite é mais fácil. Cada copo de leite tem 250 miligramas. Da mesma forma um iogurte, uma fatia de queijo. Uma dieta sem leite e nenhum laticínio, muito provavelmente, é uma dieta deficiente em cálcio.
E não é uma necessidade apenas enquanto você é criança, certo?
Não, é para a vida toda. Na fase de crescimento, lógico, quando você está construindo o esqueleto é importantíssimo, mas também na fase adulta, na vida madura, à medida em que a pessoa envelhece. Nas mulheres, a fase pouco antes da menopausa em diante exige cálcio, que são as fases com menor produção de tecido ósseo.
Saiu um alerta da Academia norte-americana de Pediatria que crianças trocam a água e leite pelo suco de frutas. Como você vê essa mudança? 
É problemático por duas razões. Primeiro porque esse suco costuma ser o suco que vem do supermercado e é um suco muito rico em açúcar. Depois que ele não tem a quantidade de cálcio necessária para a criança. Você perde uma fonte de cálcio necessária para construir o esqueleto. E o fato de ter uma quantidade grande de açúcar, e de a criança não beber água de jeito nenhum, isso é um dos problemas que causa obesidade infantil, essa intoxicação de açúcar a partir da mais tenra infância.
Seria interessante que os pais incentivassem a criança a provar o leite puro, sem misturar a um achocolatado?
Depende. Algumas crianças que são magrinhas, não tem problema se tomarem um pouco mais de calorias. Mas aquelas com tendência de ganhar peso precisam de cuidado, principalmente porque você estabelece um padrão de paladar para elas. Esse padrão, essa voracidade pelo açúcar, que causa problemas não só na infância, mas também na adolescência e na vida adulta também.
Leite reduz o risco de diabetes?
Nós não temos estudos de grandes massas populacionais e o problema dessas afirmações é que são baseados em estudos observacionais – estudos em que você pergunta às pessoas quanto de leite elas tomam, ou outro produto qualquer, e aí estabelecem uma relação com determinada doença, como a proteção contra diabetes. Isso é complicado porque você mal sabe o que você almoçou no começo da semana, é muito difícil de relatar. Não há uma demonstração clara.
Leite sem lactose emagrece?
Não. O leite sem lactose foi um avanço, porque todo bebê tem uma enzima, que é a lactase, que decompõe a lactose do leite. Nós somos mamíferos e nascemos, mamamos e todos nos damos bem com o leite materno. Quando passa essa fase, a produção dessa enzima se torna deficitária e aí começamos a digerir mal o leite. Essa digestão inadequada provoca cólicas, flatulência e desconforto a algumas pessoas. Essas têm a indicação de tomar um leite sem lactose, que é um leite mais caro. Mas, se você é uma pessoa que produz lactase normalmente, porque vai tomar o leite sem lactose? Vai gastar dinheiro à toa.
Tomar muito leite pode causar essa intolerância a lactose?
Não. Tem gente que é intolerante, que não produz a lactase, que perdeu a capacidade de produzir a lactase e tem a intolerância à lactose, esse componente específico do leite. Outros não. Mas não tem relação com o leite como causa.
Leite piora quadros ou doenças respiratórias?
Não. O que existe é, quando você tem intolerância a lactose, pode ter complicações, principalmente as digestivas, mas talvez respiratórias. Há até casos de sinusite complicadas pelo leite, mas isso atinge uma minoria da população. E precisa estar muito bem caracterizada. Essas pessoas, em geral, sabem a causa porque elas tomam leite e sentem a cólica, elas se sentem mal, elas se sentem pesadas, entre outros sinais. Mas fazer teoria em cima disso não leva a nada.
Quando é preciso fazer uma reposição de cálcio?
Essas reposições com comprimidos e cápsulas foram muito populares no passado. Hoje existe uma discussão grande na medicina que esse aumento da ingesta de cálcio – tomando por comprimidos – poderia provocar um pico de cálcio e o organismo teria dificuldades em excretá-lo, pois foi ingerido dessa maneira. Essa dificuldade de excreção pode ter relação com doenças cardiovasculares. São suspeitas ainda não demonstradas claramente, mas aquela história de dar dois comprimidos de cálcio para a mulher chegando na menopausa, isso passou a ser um comprimido de 500 mg de cálcio. É um assunto ainda em debate, que ainda não está esclarecido e quem trabalha com nutrição insiste que as fontes ideais de cálcio sejam as fontes naturais.
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