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Bebidas ultra-açucaradas deixam sempre um gosto de quero mais, algo nem sempre saudável. Foto: Bigstock.
Bebidas ultra-açucaradas deixam sempre um gosto de quero mais, algo nem sempre saudável. Foto: Bigstock.| Foto:

No livro-reportagem “Sal, Açúcar, Gordura” (Intrínseca), investigação do jornalista norte-americano Michael Moss sobre a indústria alimentícia, há algo em comum entre os executivos das grandes empresas de produtos ultraprocessados: nenhum deles come o que é produzido e vendido pela companhia.

Ao longo dos últimos anos, mais informações sobre rotulagem e saúde deram o alerta para entender que esses tipos de alimentos, com sal, açúcar e gordura em excesso, podem deixar o nosso paladar alterado, além de nos encorajar a buscá-los mais e mais. São aqueles casos de pessoas que se dizem “chocólatras” ou “viciadas”em refrigerante.

Segundo a nutricionista da Paraná Clínicas, Fernanda Gularte, produtos ultraprocessados com excesso de sal, açúcar e gordura, como refrigerantes, salgadinhos de pacote e chocolates cujo principal ingrediente é o açúcar, podem, sim, ser potenciais viciantes.

“Os alimentos muito doces liberam dopamina, neurotransmissor responsável pelo bem-estar. Ele ativa o sistema límbico, ligado à recompensa, para compensar emoções. Outra questão é que os alimentos ricos em farinha branca e açúcar fazem um pico de glicose em nossa corrente sanguínea. E aí o organismo tem uma elevação de insulina e, logo na sequência, a queda da glicose. Por isso, uma pessoa que lancha um salgado com farinha branca vai passar uma horinha e ela já quer um doce. Faz essa hipoglicemia reativa” explica a profissional, que é especialista em emagrecimento e pós-bariátrica.

Já o nutricionista do Vigilantes do Peso, Matheus Motta, acredita que é mais prudente tratar esse tipo de comportamento do ponto de vista psicológico.

“Existe uma grande discussão sobre considerar o alimento como viciante ou não. Quando falamos em vício pensamos em patologias. Mas alguns nutrientes causam sensação de bem-estar com a liberação de dopamina e serotonina. Quando as pessoas se dizem chocólatras, por exemplo, é porque o chocolate libera serotonina, e o cérebro liga isso ao alimento. Então, é um comportamento que vira hábito”.

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Necessidade de ter o alimento sempre presente na rotina alimentar, quantidade consumida, sinais físicos (como ficar bem e feliz só depois de comer chocolate, ou ter desconfortos como dor de cabeça), ou ficar procurando algo doce desesperadamente são sinais de alerta, diz Fernanda. “Isso caracteriza um vício”.

Dois litros de refri por dia

Em 2005, após diversas dietas restritivas e remédios para emagrecer, a enfermeira e professora Byanca de Cássia Cardozo Kuminski teve indicação para realizar a cirurgia bariátrica. Perdeu 62 quilos, mas nunca fez uma reeducação alimentar de fato.

“Emagreci porque não conseguia comer muito. Mas aí o estômago vai se adaptando e consegui voltar a comer quantidades maiores e tive um reganho de peso de 15 quilos. Fiquei preocupada e procurei uma nutricionista, mas não queria dietas malucas”, conta.

Byanca diz que, em alguns momentos de sua vida, chegou a consumir dois litros de refrigerante por dia, além de caixas inteiras de bombom.

Com orientação profissional, colocou na rotina alimentos mais saudáveis, incluiu a água com gás e reeducou o paladar.

“Antes eu achava que só doces matavam a minha fome, hoje vejo que não. Refrigerante não me faz mais falta e acho doce demais. E já estou partindo para tomar o cafezinho sem nenhum açúcar ou adoçante” conta.

Uma dieta mais nutritiva, com proteínas, fibras e gorduras boas é a chave, de acordo com Fernanda, para quem é viciado em alimentos doces e salgados demais. “Isso gera mais saciedade e aquela necessidade de comer um doce diminui”.

Byanca Kuminski tomava até dois litros de refrigerante por dia. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Byanca Kuminski tomava até dois litros de refrigerante por dia. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo| Leticia Akemi

Ciclo do hábito

Além de uma alimentação mais nutritiva, rica em vegetais, algo importante de se trabalhar, fala Matheus, é o comportamento.

“No Vigilantes do Peso falamos muito sobre o loop do hábito. Para mudar, você precisa entender todo o ciclo, que tem o gatilho, comportamento e recompensa. Então, a pessoa precisa encontrar um novo hábito que traga essa sensação de bem-estar. Como, por exemplo, trocar o chocolate por uma fruta com mel e canela. Você terá a serotonina e não vai consumir tanta gordura e açúcar refinado”, ensina.

Apesar de o consumo de refrigerantes no Brasil ter caído mais de 50% nos últimos 10 anos (dados do Ministério da Saúde), a bebida hiper açucarada (uma latinha pode conter até nove colheres de açúcar refinado) ainda é um problema para muita gente. Quem está nesse grupo não deve deixar de tomar de um dia para o outro, fala Fernanda.

“Tem uma questão clara de que a restrição gera compulsão. Quando um paciente tem problemas com refrigerante eu vou reduzindo aos poucos. Se toma dois litros por dia, diminui 500 ml na primeira semana e assim por diante, enquanto inclui alimentos que vão gerar saciedade. Isso desbloqueia as papilas gustativas e aos poucos a pessoa acha a bebida doce demais”.

Aprender a lidar com os alimentos, fala Matheus, é outro ponto importante.

“O pão francês e o chocolate são bem-vindos, mas precisamos controlar nosso consumo. Precisamos mesmo comer uma barra inteira de chocolate, ou comer um quadradinho com consciência já é o suficiente? Quando vamos comer, precisamos estar presentes naquele momento, prestando atenção nas cores, sabores e cheiros do alimento. Isso contribui para a saciedade e evita a compulsão.”

Os oito alimentos mais viciantes

Fernanda Gularte e Matheus Motta listaram alimentos com potencial viciante ao paladar. Na rotina alimentar, evite-os ao máximo e controle o consumo:

– Refrigerantes
– Bebidas açucaradas em geral (como sucos de caixinha)
– Bolachas recheadas
– Barrinhas de cereal que trazem na composição substâncias como xarope de glicose
– Salgadinhos de pacote
– Balas
– Frituras
– Lanches como hambúrguer

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